tempo com dom
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
A Segunda Lei da Termodinâmica, na sua interpretação simples e qualitativa, diz-nos que a entropia (medida de desordem dos sistemas) está sempre a aumentar. De alguma forma, esta lei dá-nos «a seta do tempo», o que é bem curioso, pois a ciência responde assim a uma pergunta que um filósofo tem grande dificuldade em encarar: “o que é o tempo?”. O tempo é então uma função que aumenta quando a entropia aumenta. Por outras palavras, hoje é hoje e não é ontem, porque há mais desordem no universo. E ontem era ontem e não hoje porque ontem havia mais ordem no universo…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 13, 44-52
O Evangelho fala-nos de uma das parábolas do Reino dos Céus. Este reino é, neste sentido, uma pérola, um tesouro, que justifica que tudo vendamos para o ter. É curioso ter este olhar de pérola para com o próprio tempo: “vender tudo para ter o tesouro”, é tornar precioso cada minuto que experimentamos, seja de dor ou alegria, seja com esta ou aquela pessoa, seja de luz ou de escuridão. O que importa, é que seja vivido intensamente, como se nada mais houvesse do que esse mesmo minuto…
Há uma “pescadinha de rabo na boca” em que me sinto baralhado. Trata-se de gerir bem o tempo em que não sei gerir o tempo. Tantas vezes… Ocorre-me uma autoproibição (não me culpabilizar) e uma palavra de ordem (recomeçar).
A nossa vida, o nosso pensamento e a grande parte da nossa ciência desenvolvem-se num cenário espácio-temporal limitado, que é este mesmo. Há aquela pergunta fraturante: “existirá apenas e só esta matéria que somos?”. Pois poderá também perguntar-se: “existirá apenas e só este tempo e este espaço que habitamos?”
Um dia estava a tomar banho e recoloquei-me a eterna questão: porque não haveremos de viver, em média, um pouco mais? Uns duzentos anitos, por exemplo… Logo me ocorreu que se me dessem duzentos eu quereria quatrocentos… Depois uma suposição minimamente tranquilizante: se não vivemos eternamente aqui, talvez o que nos espera sem ser aqui seja mesmo melhor…
O tempo
O tempo é também
quase capicua
que avança e recua…
Mas passa, o tempo.
E não há maior segredo
do que o agarrar
vivendo bem
cada momento
mesmo de dificuldade
sofrimento ou morte.
Porque sopra um
paradoxal vento
de instante e eternidade.
O tempo é lento
e saboroso,
mas corre…
14-03-2012
O tempo é onde se tece a liberdade. O tempo que passa é o dom primeiro. Enquanto viventes, temos sempre o tempo para agradecer.
Mais do que estarmos no tempo e no espaço, somos tempo e espaço. Ontologia relevante, que tem as suas consequências: porque “sou” tempo e espaço, não me adianta sair, nem do tempo, nem do espaço… mesmo para tatear transcendências…
Tudo passa e tudo é quase vaidade. Fica apenas o que foi marcado pelas pontes de relações autênticas… e isso dá um aroma quase eterno à existência!