Emaús acontecendo…
Emaús nunca aconteceu -Emaús está a acontecer. …A ressurreição de cristo e a nossa convergem: a cronologia dá lugar à ontologia.
Emaús nunca aconteceu -Emaús está a acontecer. …A ressurreição de cristo e a nossa convergem: a cronologia dá lugar à ontologia.
Os discípulos de Cristo acolhem o ressuscitado a partir das mãos calejadas do que sabiam fazer: pescar. Assim a esperança cristã se tece no palco do trabalho ordinário da vida quotidiana.
Os apóstolos que “viram” o Senhor não são dispensados da fé. É a sua abertura a essa mesma fé e, principalmente, a sua mudança de vida, que fazem a ressurreição acontecer.
Diz bem Pannemberg sobre o dinamismo da ressurreição: adianta o definitivo sem fechar o futuro. Certeza de sede e de água. Paradoxo vivível…
Deus estar a ressuscitar é, tão só, uma teimosia divina pela vida, oferecida aos humanos…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 24, 35-48
assim está escrito, que o Messias havia de sofrer e ressuscitar
A frase do evangelho: “assim está escrito, que o Messias havia de sofrer e ressuscitar” é curiosa e muito sintética da nossa fé. Poderíamos resumir aquilo em que acreditamos na ideia vivida de que, como Jesus, entendemos (mais ainda, acreditamos e vivemos) que todo o sofrimento que a existência acarreta não é a última palavra. Convínhamos que em alguns redutos, incluindo religiosos, esta frase aparece truncada e apenas: “Assim está escrito, que o Messias havia de sofrer…”. Ora é uma afirmação não truncável, porque a Páscoa está a acontecer. Agradeçamos e vivamos em alegria a última parte não descartável, que ilumina a primeira: “…e ressuscitar”.
A Ressurreição é muito mais do que um acontecimento. É um processo… Mais do que exterior – embora seja dádiva – importa a ressurreição que vem de dentro… Entendemos a maioria dos processos quando os tomamos por ontológicos. O mais crucial da fé cristã é que Jesus está a ressuscitar em nós…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 24, 13-35
«pensando que era o jardineiro»
Um dos traços comuns das aparições de Jesus é o facto de Ele aparecer, muitas vezes, “disfarçado”. É o caso do diálogo travado com Maria Madalena. Ela julga estar a falar com um jardineiro e com ele desabafa o seu desalento e a sua preocupação. É questão teológica curiosa e complexa esta de um Deus que quase se esconde. Revelar, aliás, é ir tirando o véu… Traduzível na vida dos cristãos é a pergunta metafórica: quantos jardineiros se atravessam sem que os vejamos, anunciando a ressurreição?
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 21, 5-11
«Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra»
Estas palavras de Jesus podem parecer fatídicas ou dramáticas. São palavras essencialmente de prudência e de coerência com um Deus que ama e não manipula, que dá liberdade à criação, que é Pai, mas não controlador. No Antigo Testamento, é dito que todos os reinos serão reduzidos a nada. Às vezes, a nossa própria vida ou os edifícios que circundam os nossos afectos parecem desmoronar, não ficando pedra sobre pedra. O mais importante, porém, é fixarmo-nos nas próprias palavras de Jesus: “mas não será logo o fim”. Dito de outra forma, qual anúncio da ressureição, a destruição e a morte não serão a última palavra.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 21, 1-19
« Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes»
Os tempos litúrgicos pós-Páscoa relatam-nos sucessivas (re)aparições de Jesus aos discípulos. Permito-me relevar (dar importância secundária…) ao dilema hermenêutico-teológico de saber se apenas os discípulos “viram e comeram com o Senhor” ou se existiu uma fisicalidade síncrona espaço-temporal dos acontecimentos relatados nos evangelhos. O mais importante para a fé, penso, é penetrar vivencialmente nestas duas dimensões: 1- Deus revela-se na abundância (de peixes); 2- Deus radica-se no mais ordinário e essencial, em ciclos de vida dinâmicos e de dádiva (comer). Se “pescássemos” e “comêssemos” com este ‘toque de ressurreição’, a vida poderia ser mais intensa…