se as religiões não existissem…

O famoso ateísta militante Richard Dawkins fez uma afirmação bombástica (…) perante os atentados de 11 de setembro’ 2001 em Nova York: “se não houvesse religião, nada disto teria acontecido”. O arcebispo da Igreja reformada britânica, Douglas Williams, contra-argumentou brilhantemente: “não haveria tal cruel atentado, se não houvesse aviões…”.

JP in Sem categoria 10 Setembro, 2024

ser religioso e justiça

Na explicitação da minha fé, também e porventura principalmente por certos pontos fracos meus, tenho vindo a acrescentar um devir de lutar pela justiça. O motivo maior é que sentiria como curta a minha aspiração à plena liberdade num sentido pessoal. A promoção da justiça empurra-me para o nós e torna estéril, senão mesmo impossível, a ideia de uma “salvação” pessoal… Talvez, também por isto, me inscreva como uma pessoa, além do crente, religiosa.

JP in Espiritualidade 8 Junho, 2022

vinho e copo

Embalado pela quase perfeita analogia de que a espiritualidade é o vinho e as religiões são os copos, a gestão apostólica, não sendo displicente, é  da ordem do copo… Todo o gesto apostólico, portanto, deverá apontar para o verdadeiramente espiritual. Reconheço a utilidade do copo, mas convém notar, em certa moderação religiosa, que vinho sem copo tem valor enquanto copo sem vinho é vazio estéril e infecundo…

JP in Espiritualidade Frases 6 Janeiro, 2022

AGUENTAR: um verbo tramado em Igreja…

Paiva, J. C. (2021). AGUENTAR: um verbo tramado em Igreja… Site Ponto SJ, 24-09-2021.

Disponível aqui

Tenho simpatia pelo verbo aguentar. A vida, a nossa vida e a vida de cada um de nós, é feita, não só mas também, de muitos “aguentamentos”. Aguentar é permanecer, é ficar quando o vento sopra. É tolerar a tempestade e, por ligação à rocha, manter-se em pé. Jesus de Nazaré, aguentou, e aguentou até à cruz.

MAS (trata-se de um grande mas…) estamos sujeitos a abusar deste verbo. Quando olho a Igreja que somos, neste tempo e neste espaço, pergunto-me se não estamos excessivamente focados (ou tapados?) no verbo aguentar. Este aguentar (para não perder, para não mexer, para deixar estar… a ver se aguenta…), pode implicar derrocadas, entre hoje e, sobretudo, amanhã. Perdas não só de abrigo, como de fundação. Existe uma expressão popular que aqui e ali assenta como uma luva nas atitudes que tendemos a ter face a certos desafios eclesiais: “atirar com a barriga para a frente”, esse deixar correr que adia a decisão corajosa.

A Igreja encontra-se numa encruzilhada muito original, que a crise pandémica agudizou ou exibiu em maior extensão e profundidade. Há neblina sobre o próprio devir eclesial. Apesar dos esforços evidentes e fecundos do Papa Francisco, colocando em andamento as inspirações do concilio Vaticano II, há resistências, principalmente internas, que minam a ação. Mesmo as pessoas que entendem estarmos num tempo novo e face a novos desafios, carregam a pressão dessa reatividade resistente, e impera o receio de arriscar e a falta de coragem, preferindo-se…aguentar. Há dois vírus que a Igreja carrega ao longo do tempo, que serviram para aguentar, mas que, tão feliz quando dramaticamente, se estão a tornar insuportáveis: o medo e o controlo.

Alinho abaixo alguns (apenas alguns) aspetos da nossa Igreja que, em muitos cenários e horizontes, me parecem estar a ser encarados com demasiado ‘aguentamento’. O elenco poderia ser mais vasto e é aqui apresentado telegraficamente, sendo que seria merecido, em momento ulterior, aprofundar cada um dos itens:

1.Uma catequese com modelos pedagógicos falidos
Os modelos catequéticos “curriculares”, mimetizando a escolaridade, com a tríade batismo/primeira(ou última?) comunhão/crisma terão mesmo de ser questionados. A aproximação mecânica das famílias a este modelo tem gerado infecundidades gritantes. Fazer o mesmo porque sempre se fez assim é radicalmente insuficiente.

2. Uma “concorrência” feroz para proporcionar encontros com odor de Evangelho, principalmente aos mais novos
Como uma quase fatalidade, é hoje dramaticamente desafiante oferecer alternativas a tantas possibilidades de encontros que se geram fora do espaço tradicional da Igreja. É certo que o lugar da Igreja é o mundo, mas as ofertas que este tempo coloca no horizonte, incluindo nas redes sociais, torna tudo muito mais complexo.

3. Um dinamismo celebrativo à espera de mais rasgo, beleza, silêncio e simplicidade
Há um espaço tensional nas celebrações católicas romanas. Uma rica tradição, que não se pode perder, é muitas vezes, vivida com defensividade, como se manter tudo na mesma fosse sinal de conservar. Há que reconciliar esse embalo milenar positivo com a renovação necessária, também na festa da missa. A simplificação litúrgica, em particular, potenciada com dinamismos mais horizontais e momentos de silêncio, menos centrados em quem preside, são caminhos menos percorridos.

4. Um clericalismo teimoso, de muitos clérigos e leigos
São muito persistentes os sinais de clericalismo, na consciência interna e na ação eclesial de muitos de nós. Um dos aspetos gritantes é a forma típica como se responde à falta de padres ou à situação (frequente, como sabemos) de padres desajustados a certa realidade paroquial/pastoral. O ‘tique’ mais típico é “partir padres ao meio”. Muitas vezes, nas (não) decisões, pondera-se mais o padre em si (onde vamos colocar este sacerdote?) do que a comunidade no seu todo. São radicalmente tímidas as iniciativas de promover a liderança laical de comunidades, com novos enquadramentos de garantia de unidade aos Bispos e ao Papa.

5. Uma sinodalidade duvidosa, onde a escuta se arrisca a ser um procedimento estéril
Não há forma de se ser Igreja, hoje, senão em chave sinodal. Promover uma escuta efetiva de todos e para todos, que tenha depois contra-feedback, reflexão desapegada, “amassamento” dos contributos no Espírito, caminhos e ação. De Roma, nos nossos tempos, aparecem, felizmente, gritos fortes de desejo sinodal. Alguns, mais longe dali, resistem a dar valor a este (único) estilo de ser Igreja.

6. Falta de iniciativas e experiências originais
Seria bom que os bispos usassem da liberdade de ensaiar e as comunidades, por sua vez, tivessem liberdade para essas mesmas iniciativas. Seriam processos, janelas, pequenas respostas, insights vertidos no tempo e no espaço… que depois, claro está, teriam a respetiva avaliação e eventual reformulação/replicação.

Disse no início desta reflexão que Jesus de Nazaré, aguentou, e aguentou até à cruz. No alinhamento do que as palavras foram tecendo, prefiro terminar assim: Jesus de Nazaré, que foi até à cruz, amou e ama, abriu e abre janelas de luz e de esperança. Mas encarnou para amar, não para aguentar. Aguentar é um meio (não o fim) do sonho de Deus maior: a liberdade do próprio amor. Para isto existimos. A Igreja existe para proporcionar este encontro de todos com a livre liberdade do amor. Para construir essa Igreja não podemos deixar de olhar com esperança a abundância que semeia em todo o lugar. Mas cabe-nos um trabalho e fazer render talentos de mudança criativa. Aguentar, definitivamente, é excessivamente defensivo e insuficiente!

JP in Sem categoria 4 Outubro, 2021

religiões

Sobre religiões comparadas (exluindo o sociologicamente patológico) podemos avançar, no máximo, em ‘bom versus melhor’, com a humildade radical de quem sabe que não há luzes sem sombras nem sombras sem luzes no tatear do mistério.

JP in Educação Espiritualidade Frases 28 Julho, 2021

cuidando…

Diz Melloni que as religiões podem tornar-se indigestas – não só indigestas mas sumamente perigosas… Para revitalizar o fenómeno religioso há que o recolocar como um chamamento de “esperançadores”, geradores de esperança. Mas a semente disso é o amor que chama, o útero que carrega, a mama que alimenta e tudo o que cuida. Para os crentes, Deus é o “esperançador-Mor”, que opera, cuidando, com as nossas mãos…

JP in Espiritualidade Frases 28 Maio, 2021

trincheiras

O sublinhado explícito duma identidade ou de uma pertença (religiosa, cultural, familiar) é quase sempre exagerado… porque é uma trincheira…

JP in Frases 4 Março, 2021

três movimentos do diálogo

Os dia-logos com o outro, no âmbito religioso, cultural e até em relações humanas entende-se bem numa viagem de três momentos: 1- a minha casa (reconhecer-me, percecionar-me, conhecer-me internamente); 2- saída de casa (para acolher o alter diferente, que me pode completar e fazer crescer); 3- regresso a casa (diferente, tonificado pelo diálogo, enriquecido…).

JP in Educação Espiritualidade Frases 26 Dezembro, 2019

Igreja e lei da inércia…

A evolução da religião é compreensivelmente lenta. Observe-se o caso da Igreja Católica: com cerca de dois mil anos de história, milhões de fiéis e, actualmente, cerca de meio milhão de padres e religiosos, tem uma inércia própria. A inércia, na sua raiz científica, relaciona-se com uma tendência que todos os corpos possuem para manter o seu estado (de movimento ou repouso). Quanto maior massa, maior inércia… Por outro lado, estes anos de história e tradição e este volume de pessoas e de conhecimentos, congregam uma sabedoria e um património que dão consistência e corpo à cultura humana, podendo ajudar a humanidade a ter Deus como referência fundamental.

JP in Espiritualidade Frases 10 Dezembro, 2019