pedir…
Rezar não é magia nem “pedinchisse”: é uma atitude que, principalmente, me prepara para receber…
Rezar não é magia nem “pedinchisse”: é uma atitude que, principalmente, me prepara para receber…
Dizem-me que há lugar para pedir na oração… pois há, principalmente pedir para nos abrirmos a receber. Abrir o “recebimento” é o maior legado dessa triangulação entre nós, a vida e Deus, a que se chama oração.
Pedir a Deus não é relembrar Deus – que sabe o que preciso, eu e a humanidade. Pedir a Deus é expor-me à graça, a partir da minha abertura, do meu desejo e da minha carência…
Se não peço o que pedincharia, pois fito a graça maior: de tomar para mim internamente apenas o desejo de ter o mesmo desejo do “qualquer coisa Outro”, que só sabe amar e criar…
Uma boa graça a pedir – sempre melhor que pedinchar – é a de me assustar menos face ao que falta, dentro de mim, fora de mim e no mundo. A confiança reside aqui: o que falta é matéria prima da obra que se vai esculpindo…
Uma das inversões mais urgentes na prática religiosa cristã (que afeta significativamente a liturgia e as clássicas orações de petição) é a de assumir radicalmente que a graça é abundante e constante, que Deus “grita”! Vivemos numa atmosfera de graça (às vezes uma lufada, outras vezes mais abafado, mas sempre graça a respirar). Temos é dificuldade em reconhecer essa abundância, como o peixe não se reconhece molhado. E essa abertura e reconhecimento, essa mística de olhos abertos, importa pedir…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 137
«Quando Vos invoco, sempre me atendeis, Senhor»
A vida de oração de um cristão, porque é uma relação, pressupõe a petição. Pedir é uma atitude fundamental em qualquer relação, embora pressuponha humildade. Quem entende que tem tudo, é autossuficiente e não pede… Pedir a Deus com um coração puro é certeza de receber. Será importante “não manipular”, isto é, embora colocando explicitamente o que acontece e se elabora, o que preocupa e o que se tece no tempo e no espaço, não deixar de ser sempre um pedir “o que for melhor para mim e para os outros”, o que é, por sua vez, intrinsecamente indeterminado… De alguma forma, pedir em oração, com fé, é passar um cheque em branco. A quem pedir assim, o Senhor atende…