enchendo…
Por vezes atrasamos-nos, como na publicação deste ‘post’ (…), porque andamos cheios de coisas.
Tu e eu temos uma tendência ancestral: enchemos com muita coisa, um vazio que ainda não tocamos…
Por vezes atrasamos-nos, como na publicação deste ‘post’ (…), porque andamos cheios de coisas.
Tu e eu temos uma tendência ancestral: enchemos com muita coisa, um vazio que ainda não tocamos…
A primeira pergunta do “ajudador” é: onde estás? Não é “quem és?”, “para onde vais?” ou, menos ainda, “para onde deves ir?”…
A ESTRELA
Queria
ser um pedaço
daquelas palavras.
Parei por semáforos.
O fumo suspenso
gerava a densa
poluição.
Olhei,
a toda a volta no céu,
e nada vi.
Olhei de novo,
vasculhei.
vi, finalmente,
uma estrela,
disse olá a Deus…
e ficou verde!
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
POETA ESQUECIDO
Sou um poeta esquecido!
A mancha da agenda
calou o grito da alma.
Não que a planta não cresça.
Os compromissos
taparam as flores.
Não me culpo
nem me castigo pelo silêncio.
Quando a vida passa
e o cavalo da aposta é
o que está mais à mão,
nessas alturas, como agora
paro e olho para mim,
selecciono o epicentro
e sinto que está na hora
de recolher novo centro
e não mais correr assim.
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse.
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A TI QUE SOFRES
A ti
que sofres
não te peço
que não chores.
Que não chore
não há quem.
Que chores,
não te peço também.
Peço-te…
que chores… bem!
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Às vezes lutamos com o tempo. Não queríamos estar aqui e agora, mas adiante, noutro instante ou noutro lugar. Esta ‘birra’ leva-nos a que o tempo nos ultrapasse. Seria bem mais libertador ‘surfar’ no tempo…
Tive o privilégio de fazer algumas viagens. O turismo, entretanto, virou moda (ou mesmo mania…). Hoje estou mais rendido ao turismo que a realidade me oferece, porventura mais centrado no meu país, na minha região, no meu quintal, naquele detalhe da natureza e dos rostos cruzantes, aqui tão perto. A realidade impõe-se bela e diversa e, vendo bem, o espanto do olhar está menos na circunstância e na geografia, e muito mais nos meus olhos…
A vida está cheia de tensões. Fazer/não fazer, dizer/não dizer, permitir/anuir, agarrar/largar, etc. Seria ingénuo entender a liberdade como a fuga destas tensões. Ser livre é procurar encontrar ‘o mais’ que espreita em cada tensão e a essa arte se chama discernimento.
É um previlégio enorme haver espaço na areia molhada da praia para as minhas e para as tuas pegadas. Espaço imenso e dinâmico, onde cabe sempre mais um par de pés para fazer caminhos. Se por hipótese (quase absurda) saturassem as marcas côncovas no solo, viria o mar em ondas refazer espaço, por cortesia da Lua, mãe das marés…
Às vezes não sabemos o que havemos de fazer com a vida que nos foi dada. Em nome da verdade, sem querer alimentar vitimismos, há um certo drama na existência: a vida não nos foi só dada, foi também imposta! Poderá ajudar a dica de Virgílio Ferreira e o filão da responsabilidade: “somos responsáveis pelo que fazemos da vida e até pelo que fazemos do que outros fizeram de nós”.