adiar um poema
Adiar um poema
Não vou
adiar
este poema.
Haja o que houver,
serei poema.
Rindo ou
chorando,
teço versos.
Todo o poema,
mesmo o da esperança,
se escreve
agora e aqui.
não vou
adiar este poema.
2011
Adiar um poema
Não vou
adiar
este poema.
Haja o que houver,
serei poema.
Rindo ou
chorando,
teço versos.
Todo o poema,
mesmo o da esperança,
se escreve
agora e aqui.
não vou
adiar este poema.
2011
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12
«ouro, incenso e mirra»
Os presentes dos reis magos a Jesus podem apresentar uma simbologia curiosa na epifania: o ouro era um apontamento dos reis, o incenso era usado para louvores a Deus e a mirra ajudava no embalsamento dos corpos. Esta tríada de rei-Deus-morte pode ser útil para uma aproximação cristã: em Jesus Cristo está, na nossa fé, um Rei especial que é filho de Deus e que é precisamente Rei, de forma original, por servir amorosamente até à morte (e, assim, libertando a morte e libertando da morte). Estes presentes dos magos são presentes a Jesus mas, igualmente, são presentes para nós…
É impressionante a forma como o dia teima em nascer. Podem existir nuvens, dentro ou fora de nós, mas o Sol é teimoso e, de forma mais ou menos visível, dá-nos energia, luz e vida. Esta constatação, bastaria para tecer a nossa esperança…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se II Tg 5, 7-10
«Esperai com paciência a vinda do Senhor»
A Epístola de Tiago aponta-nos para a paciência como virtude central na fé. A par da persistência, do propósito, do exercício, do trabalho, da edificação, da ação, da vontade e da disciplina, a paciência é uma espécie de cenário de fundo crucial no dinamismo da crença e, porventura, o horizonte do Advento. Quando o mundo nos esmaga, quando nós próprios nos reconhecemos carentes (mesmo que crentes), quando constatamos dentro e fora de nós mecanismos de fuga do essencial (preços de liberdades…), eclode como urgência a mãe de todas as virtudes: a paciência. A paciência é também saber pisar o deserto, é saber estar. A paciência, a bem dizer, é o distintivo da fé.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 133
«O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado»
Encontramos nos versos do Salmo uma ideia central da fé judaico-cristã: “O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado”, isto é, de todos nós. Esta frase faz lembrar as bem-aventuranças que marcam o estilo de vida cristão. Elas refletem a nossa necessidade de Deus, a nossa ânsia de O procurar, de O encontrar e de O amar. A nossa carência… O nosso coração, sem Ele, fica necessariamente atribulado. Este Deus que procuramos é o resto de nós, é Aquele que, como se diz no salmo, “salva os de ânimo abatido”. Numa versão mais contemporânea, que simplesmente rediz uma tradição crente, a fé é o apoio vivível de que Deus (que é amor) está sempre ao nosso lado…
ETERNIDADE
Alguém aqui veio…
confundir o Céu.
Tudo é contínuo
no infinito!
O Céu começa aqui.
No pôr do Sol,
o horizonte não existe:
o Mar é o Céu!
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 16, 10-13
«quem é fiel nas coisas pequenas»
O convite é simples mas radical: ser fiel nas pequenas coisas, como nas grandes. Na realidade, num olhar de unidade e totalidade, não há pequenas nem grandes coisas, pequenas nem grandes causas. Há um desafio global e uno à coerência, em todos os momentos, em todos os desafios. Cada Segundo e cada gesto são, neste sentido, sagrados. Talvez um dos nossos grandes equívocos de auto-perceção e olhar do mundo seja avaliar metricamente de mais. Por isto, a maioria dos místicos fazem referência ao detalhe, ao tempo e à própria natureza. Grande causa a merecer a nossa fidelidade amorosa pode ser lavar a louça, andar, cuidar, respirar…
Voltar ao momento presente é uma espécie de paradoxo redundante Mas temos muito a aprender com a cultura Oriental que, como num espelho, nos pode mostrar outros caminhos e linguagens que nos escapam…
A memória é importante mas pode trair-nos, precisamente quando não nos abre à novidade… Isto revela-se nos mais elementares aspetos da nossa vida, como, por exemplo, no simples ato de comer…20
Dizemos a nós próprios e aos outros, com frequência: “vai correr bem!”. Há um lado quase cruel nesta frase, neste desejo, que nos aponta para a ideia de que, na realidade, “não vai correr bem”… Isto é, a vida e o jogo do acaso e da necessidade, a gestão complexa de liberdades humanas e o pulsar da natureza, faz com que muitas coisas não corram como desejaríamos, até porque vamos morrer, nós e os que nós amamos. Há uma nesga de salvação neste dilema: e se correr bem for ‘tirar proveito’, crescer, abrir-se à novidade, “aconteça o que acontecer”?…