benção que nos habita
Procuramos a bênção como se ela fosse exterior, mas talvez devêssemos procurar, antes, o reconhecimento que já nos habita. E esta procura, por sua vez, tem uma lanterna paradoxal: não há bênção sem custo…
Procuramos a bênção como se ela fosse exterior, mas talvez devêssemos procurar, antes, o reconhecimento que já nos habita. E esta procura, por sua vez, tem uma lanterna paradoxal: não há bênção sem custo…
A nossa arte de ‘matutar’ não é necessariamente má. O que pode haver, é bons e maus ‘matutamentos’. O matutar para o empreendimento ético e de serviço é saudável. O matutar muito autocentrado e controlador será menos candidato a bons frutos…
Fico com a sensação que nos bastaria tomar o tempo como uma dádiva que existe sempre, até nós existirmos e porventura mais além. Ora, muitas vezes, antecipamos ou adiamos o tempo, em vez de ‘surfar’ nele como um dom…
Há que apostar no que está na nossa mão (alimentar a paciência, a receção, o silencio, a leitura, o estudo, o crescimento e, principalmente, o ânimo, que é tanto trabalho quanto graça…). Depois, quando a realidade vier (e está sempre a vir), seja qual for, tecer com essa mesma realidade qualquer coisa de belo…
Os meios não são fins, mas é difícil, senão impossível, caminhar em direção a finalidades sem meios… São exemplo de meios a disciplina, os rituais, o direito, o dinheiro, etc. Percebemos bem a fulcralidade destes meios se ensaiarmos viver ou imaginar o progresso sem eles. Entenderemos também o equívoco de fazer dos meios, fins, se observarmos as caricaturas que se desenham quando estes mesmos meios se tornam fins: algumas instituições e pessoas (alguns lados de nós?…) encarnamos esta desfocagem quando colocamos a disciplina, o ritual ou a lei como se fossem a meta. Não são! São balizas para o caminho essencial…
A rendição por amor é a porta estreita-larga para viver o momento presente intensamente: ao entregar-me radicalmente à realidade, mesmo que difícil, sacudo as expetativas e levanto-me firme no tempo e no espaço. Um amor prévio me libertou!
Diz bem José Frazão na sua metáfora que valoriza o “entre-tanto” da vida: o processo tensional entre a difícil bênção da contingência e o desejo experimentado da esperança.
És amado para o amor. A fé, por pequena que possa ser, é o reconhecimento desse amor.
A maior Graça, talvez, é aquele de termos nós mesmos, cada um, a possibilidade de determinarmos o que é novidade. Algo exterior a nós, que ocorra no espaço e no tempo, pode, se nós quisermos, ser uma Boa Nova. Viver em bem-aventurança, portanto, depende menos daquilo que acontece e mais da nossa interioridade…
O nosso desejo, a nossa fome de nos completarmos, é estrutural. Este desejo consubstancia-se, agudamente, no instante do corte umbilical. Essa falha de útero que nos confirma finitos e sedentos, nos marcará. E o que falta em nós marca esse desejo que nos move e comove. É complexo, este desejo, e talvez paradoxal: sem desejo não há movimento mas um regresso infantil ao útero, que só consome alimento, aproxima-se da perdição…