Igreja e sinal eficaz

A Igreja, no seu confronto autocrítico sistemático, tem de se atravessar constantemente na pergunta: estamos a ser instrumento de sinal eficaz de Cristo para o mundo?

JP in Espiritualidade Frases 8 Março, 2019

graças a Deus…

Graças a Deus (aconteça o que acontecer)! Em rigor, com uma fé sólida, não se prescinde do parêntesis, que é, a bem dizer, o fulcro da própria fé.

 

JP in Espiritualidade Frases 6 Fevereiro, 2019

Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 12, 31

«Agora permanecem a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade»

As “trilogias” no cristianismo são muito frequentes (desde logo a centralidade no Pai, no Filho e no Espírito Santo…). Fixemo-nos nesta tão conhecida do apóstolo Paulo, “fé, esperança e caridade”. Para melhor ajuste linguista contemporâneo, podemos “traduzir” caridade por amor, e tomar esta tríade como verdadeira lupa de avaliação crítica e modo de ação. A pergunta crucial: nas minhas relações, cresce a fé, a esperança e o amor? na minha família, cresce a fé, a esperança e o amor? na minha vida, cresce a fé a esperança e o amor?… sabemos, sentimos e experimentamos, que muitas vezes, nos falta fé e esperança. Mas o ‘maior de tudo’, sempre possível de ensaiar, é o amor…

JP in Espiritualidade Textos 2 Fevereiro, 2019

Chardin e o dinamismo

Chardin rejeita o tomismo de ser a substância o cerne do assunto (um certo ‘coisismo’, digo eu). Ele incorpora o tempo, a mudança e a relação como constituintes de Deus e dos homens.

JP in Espiritualidade Frases 6 Dezembro, 2018

cristão anónimo

Foi e é ainda polémica a famosa expressão do teólogo Rahner ‘Cristão anónimo’. Há quem ache que esta expressão tem um tom algo ofensivo, concretamente para os ateus que, em critério simétrico, poderiam invocar o “ateu anónimo” que existe em cada um dos crentes.  Talvez melhor ‘a pessoa autêntica não religiosa’, que procura a retidão, a bondade, a justiça e que, nas suas circunstâncias e possibilidades, realiza um mundo melhor. Quantos admiráveis caminhantes neste perfil!

JP in Espiritualidade Frases 26 Novembro, 2018

salvação fora da Igreja…

Já foi entendido em Roma que “não há salvação fora da Igreja”. O Concílio Vaticano II corrigiu esse enorme lapso e abriu porta à explicitação eclesial de que a Igreja não se confunde com o Povo de Deus, que é mais amplo. E não há evidência mais paradoxalmente identitária para a Igreja do que esta mesma, de quem se reconhece veiculante de um tesouro, mas aberta a um tesouro que a transcende…

JP in Espiritualidade Frases 12 Novembro, 2018

Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração

J. C. Paiva, Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração. Site PontoSJ (que se recomenda…). 05 de outubro de 2018.

 

Disponível aqui

 

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As relações entre ciência e religião, ontem e hoje, são marcadas por certa tensão.

A ciência tem nos nossos dias um valor social impressionante. Tal circunstância, sem escamotear os óbvios benefícios da empresa científica, favorece o perigo de a transformar numa ideologia (cientificismo). Assim não deveria ser pois não podemos extrair, pela via filosófica, pelo seu saber ou pelas suas atividades, qualquer ilação ideológica à ciência. Pelo contrário, parte das enormes virtudes da ciência, no seu nascimento, no seu desenvolvimento e na sua prospetiva devem muito à sua independência dos regimes, das ideologias, das raças e crenças dos cientistas. Ajuda muito esta clarificação pois na maior parte das discussões desnecessariamente divergentes sobre ciência e religião, está (erradamente) a usar-se a ciência como uma ideologia. Muito ganham os cientistas em reconhecer as limitações deste tipo de conhecimento, que caminha como um olhar, entre outros, sobre a realidade cósmica, incluindo o homem. A par da ciência, outros questionamentos, como o ético, o artístico e o religioso, cruzam-se na nossa consciência pessoal e coletiva.

Tão venenosos como a ideologia cientificista são todos os fundamentalismos do tipo religioso.

Na tentativa de clarificar essa complexa relação, o físico americano Ian Barbour propôs, nos finais do século XX, quatro dimensões, a saber: conflito, independência, diálogo e integração.

1- Conflito.

As situações de conflito são conhecidas na história da ciência. O caso Galileo é sobejamente conhecido (não necessariamente bem compreendido, já que os conflitos gerados podem ter mais a ver com contextos históricos da reforma e contra-reforma do que com ciência e religião). Ainda hoje, nas redes sociais, em livros e no senso comum, há espaço de conflitualidade. Muitos desses aspetos residem em posições extremadas de materialismo científico e de fundamentalismo religioso, principalmente relacionado com a literalidade dos textos sagrados. Por vezes, sob uma capa aparentemente inofensiva, os comunicadores de ciência deixam passar alguns traços de fundamentalismo ideológico. É o caso do brilhante Carl Sagan que, a dado passo, escreve: “o Cosmos é tudo o que existe, que existiu e que existirá!”…

2- Independência.

Focados nas diferentes linguagens, metodologias, limitações e objetos de estudo podemos valorizar essas mesmas diferenças e associar independência (ou autonomia) a estas duas áreas: ciência e religião. Esta consciência de autonomia vem do tempo medieval, onde já se dizia que o livro da natureza e o livro da revelação são do mesmo autor (…) e, como tal, não se podem contradizer.  Inclui-se na independência da ciência o sacudimento de quaisquer secularismos. João Paulo II explicitou-o bem: “ciência e religião devem preservar a sua autonomia e a sua peculiaridade. Cada uma tem os seus próprios princípios e formas de proceder”. Podemos ter posições excessivas no que concerne à dimensão da independência, que colocam a tónica numa tal diferenciação que tange a esquizofrenia. Neste sentido, o físico Plank radicaliza a autonomia com a ideia de que ciência e religião são duas vias paralelas que só se encontram no infinito. Nem tanto, talvez haja algum entrançado..

3- Diálogo.

Se a dimensão de independência é tomada radicalmente, nem sequer há espaço para o conflito. O diálogo entre ciência e religião é possível e porventura necessário e útil porque há que construir pontes na diferença. Não dialogar (encrostados na radical autonomia) faria lembrar os casais que não discutem, não conflituam e não dialogam… porque não falam nos assuntos de potencial fraturante (condenação ao fracasso relacional, como sabemos…). Uma das formas de entender o manancial de diálogo entre ciência e religião é compreender estas realidade no contexto mais amplo da noção de cultura. O caldo cultural, onde se misturam a realidade da vida, as relações, a arte e tudo mais que disser respeito à humanidade, ai se entendem melhor as urgências dialogantes, incluindo aquelas que dizem respeito às diferentes perspetivas do olhar científico e do olhar religioso. A neutralidade não é boa conselheira… Apesar das diferenças nos seus aspetos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, ciência e religião têm matizes comuns, correlações e paralelismos potenciais, concretamente face às grandes questões relacionadas, por exemplo, com a origem do universo e com a evolução humana.

4- Integração

A integração seria uma dimensão um tanto mais comprometedora entre ciência e religião. É, porventura, destes quatro enunciados, a área mais polémica. As teses integrativas arriscam beliscar a autonomia. Há exemplos de boas e mais duvidosas integrações. Parece-me cheia de potencial, por exemplo, a abordagem de Chardin que se inspira nas teorias da evolução para dar novos ventos à teologia, principalmente no que diz respeito ao pecado original. Já considero muito duvidosas, senão perniciosas, as influência da teoria do “design inteligente”, que estabelece veleidades integrativas com base numa perfeita confusão entre o objeto e a metodologia da ciência e as questões últimas que importam a fé. É bom, por isso, não omitir o que é diferente, preferindo, sempre que possível, a linguagem da analogia, em vez da inferência. Por exemplo, dizer: “assim como a espécie humana parece em constante evolução, podemos, por analogia, referir-nos aos dinamismos evolutivos da própria vida de Cristo” será mais prudente do que invocar, em excessividade integrativa ideias do tipo “como a ciência descobriu a teoria do big-bang, então existe Deus”.

A proposta de Barbour, um cristão da Igreja reformada que venceu o prémio Templeton, é bastante útil embora não elimine as ambiguidades: há ideias e argumentos que vistas de um certo ângulo, se situam numa área de conflito mas que, noutra perspetiva, poderão, por exemplo, ter certo caráter integrativo. Notar ainda que não há qualquer cronologia histórica (do conflito à integração) nem sequer juízo de valor sobre estas quatro dimensões. Nos nossos dias, há aspetos de algum conflito no terreno misto da ciência e da religião, no domínio ético, por exemplo, que são compreensíveis e têm de ser assumidos.

Há autores que preferem a explicitação de uma outra (quinta) dimensão, algures entre o diálogo e a integração, a que chamam complementaridade. Trata-se de uma abordagem curiosa, convidando a uma compatibilidade mutuamente potenciadora, como acontece, por exemplo, com a religião e a arte.

Sem, obviamente, dependermos da ciência para suportar a nossa fé, é também certo que esta forma de olhar e compreender o mundo que é praticada pelos cientistas nos pode induzir aprofundamentos de natureza religiosa. Notar que a ciência tem uma forte componente de procura e encontro com a beleza, na beleza que é o universo (assim também é com Deus, que é cúmplice do belo…).  Do ponto de vista filosófico, também o conhecimento científico pode levar-nos à religião, desde logo porque o mistério de conseguirmos tatear o funcionamento do cosmos nos pode convidar a encontrar uma causa última que justifique a nossa própria racionalidade. Subindo a parada, um mundo contingente e inteligível, como  constatamos e sentimos, abre hipóteses a um Deus necessário e racionalizável…

o que é rezar?

O que é rezar?

 

Rezar é um deserto.

É criar vazio,

preparar o receber,

estar aberto.

Rezar é desencher.

Rezar é treinar a sede.

É desacansar

na confiança.

Rezar é embalar-se

numa rotina.

Rezar é esperar

e deixar-se ser.

Rezar é procurar

o procurante

que há em nós.

Ir mais além,

procurados

por Alguém…

 

setembro’ 2018

 

JP in Espiritualidade Poemas 4 Outubro, 2018

Intimidade

INTIMIDADE

São instantes

inequívocos

em que só

te tenho a Ti!

Pretéritos

projectos

tempo,

tudo se centra ali

… Em Ti!

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Espiritualidade Poemas 2 Julho, 2018