O (não) silêncio de Deus
O (não) silêncio de Deus
Não é o que
se não explica
que implica
o dedo certo
do criador.
Deus grita
no ordinário
e assim palpita
o necessário:
o traço belo
do seu amor.
O (não) silêncio de Deus
Não é o que
se não explica
que implica
o dedo certo
do criador.
Deus grita
no ordinário
e assim palpita
o necessário:
o traço belo
do seu amor.
Von Baltahsar sublinha a importância da Graça, “espetacular e despudorada”, nas suas palavras. A fé é sempre reconhecer um amor que já nos rodeia e habita.
Gosto de pedir emprestado a Whitehead a sua máxima de “Deus em processo”. Talvez por isso, sempre que posso, evito chamar o Deus omnipotente e privilegio o Deus omnitransformante…
Se Deus fosse um estímulo criativo, a nossa realidade seria uma tela branca e cada um de nós um pincel colorido…
Compreendem-se, nos planos teológico e místico, as invocações ao ‘silêncio de Deus’. Também a vida crente se depara com essa metáfora. O que há que averiguar, contudo, é se é silêncio de Deus ou se é surdez humana…
A inteligência artificial, os super-computadores e as biomáquinas estão aí. Até que ponto passarão a fazer cada vez mais parte da nossa identidade de seres humanos? Até que ponto se dará a fusão entre máquinas e seres humanos? Poderão as máquinas inteligentes do futuro ter consciência? Poderão ajudar-nos a resolver, mais facilmente do que agora acontece, não apenas complexos cálculos matemáticos, mas complexos dilemas éticos? Perguntarão, como nós, qual o sentido profundo e fundamental do universo e da vida? Quererão saber se existe Deus? Quererão relacionar-se com Ele? Poderão encontrar uma prova da sua existência? Poderá parecer que todas estas questões pertencem ao reino da ficção, que nunca se tornará realidade. Se, porém, considerarmos que o universo e a vida continuam a evoluir e que Deus continua a criá-los, quem somos nós para decidir o que Deus, através dos homens (mais ou menos apoiados tecnologicamente), criará no futuro?…
A conclusão, por parte de alguns não crentes, de que o aparecimento do universo dispensa qualquer dom criador de Deus parece basear-se numa quase artesanal concepção da criação. A afirmação de que Deus criou o mundo, afirmação comum ao cristianismo e a outras religiões, não pretende ser uma afirmação científica, no sentido em que esta expressão é hoje entendida. Quererá isto dizer que as explicações científicas e religiosas do mundo são radicalmente diversas, mesmo opostas? A dificuldade em responder a esta questão reside no facto de, por um lado, parecer conveniente distinguir as explicações científicas e religiosas do mundo e, por outro, parecer inconveniente criar um tal dualismo epistemológico que possa ser interpretado como um dualismo ontológico. O aforismo filosófico segundo o qual «distinguir não é separar» é a este propósito muito elucidativo. Embora seja conveniente reconhecer uma distinção entre Deus e o mundo, tal não significa que se deva afirmar igualmente uma separação entre ambos. Esta afirmação pode levar alguns a classificá-la como panteísta. Teilhard de Chardin parece ter defendido que Deus e o mundo partilham uma mesma história, e teve consciência de que poderia ser acusado de panteísmo. Cedo se demarcou de tal posição, mas isso não evitou que viesse, de facto e injustamente, a ser assim considerado.
O corpo, para a cultura ocidental, incluindo na sua dimensão religiosa, pode apresentar-se como um obstáculo a transcendência. Nas espiritualidades orientais a grande prisão para a transcendência é o pensamento, e o corpo é, precisamente, um veículo para alcançar o espírito. Pessoalmente, procuro a síntese de tanto o corpo como o pensamento poderem ser veículos para aquilo que importa, que nos inclui e que nos transcende…
Deus não domina, tece…com fios que transportam a nossa própria liberdade.
A atitude de acreditar ou não em Deus, tem uma base racional, mas esta base não é suficiente. Não é do mesmo género da base racional da filosofia ou da ciência. Não existe nenhuma prova filosófica ou científica da existência de Deus. Toma-se aqui «prova» no sentido em que se demonstra, sem margem para dúvidas, por exemplo, que a Terra tem uma forma aproximadamente esférica e gira à volta do Sol. A racionalidade da fé baseia-se, entre outras coisas, no testemunho que chega a cada geração a partir dos primeiros crentes. Este é o género de prova que é normalmente aceite, por exemplo, nos tribunais. Além da evidência empírica (um corpo morto, por exemplo, no caso de um assassínio, uma arma com que foi realizado o crime, etc.), há a evidência testemunhal. O tribunal aceita em geral o testemunho das pessoas que poderão ajudar a chegar a uma conclusão objetiva sobre o autor do crime, conclusão em que se baseia o juiz para pronunciar a sentença. É claro que as testemunhas podem mentir, mas isto não significa que a prova testemunhal não seja considerada seriamente. A experiência religiosa de quem acredita em Deus tem por isso uma base testemunhal: é a relação que tenho com os outros cristãos e com Deus que me leva a dar-lhes crédito, isto é, a acreditar neles. O cristão não tem razões para não os acreditar, naquilo que constitui o núcleo central da sua fé. Tem, pelo contrário, todas as razões para lhes dar crédito, mesmo tendo em conta que a história do cristianismo é feita de luzes e sombras…