Deus no bolso…
Invoco com frequência a teologia negativa de Ekart e de tantos outros. Na teologia, como na vida, “Deus livrou-nos de (ter) Deus (no bolso)”…
Invoco com frequência a teologia negativa de Ekart e de tantos outros. Na teologia, como na vida, “Deus livrou-nos de (ter) Deus (no bolso)”…
Uma certa ambiguidade de Deus, que intuímos e experimentamos, não é arbitrária: é uma necessidade estrutural inerente à relação entre o Criador e a criatura.
Martin Buber distingue no seu trilho dialógico a relação 1) eu-ele (ou isso) e a relação 2) eu-tu. A primeira tem perigos de posse, de manipulação, de chantagem e até de exploração. A segunda tem potencial maior, pelo horizonte de aceitação radical. Para os crentes, há um Tu(do)-absoluto, precisamente no seu incondicional acolhimento. Este Tu é inspirador para todas as fecundidades eu-tu…
Não acompanhando Nietzsche mas, como crente inquieto, agradecendo-lhe, eu diria que quem morreu não foi Deus mas sim certas representações de Deus. E eu vou com gosto a esse funeral…
O silêncio é fundamental para reconhecermos uma Presença que sempre nos habitou.
Deus, a existir, não é da ordem de nos retirar nada do que é humano, incluindo a dor, a incompletude e a morte. Deus, a existir, apenas acrescenta e amplia o humano. A bem dizer, possibilita o totalmente humano.
Apresentam mais parecenças do que julgam, os descrentes categóricos e os crentes autoconvencidos: ambos não parecem ser buscadores de Deus…
Nas religiões cristãs é centralíssima a máxima de Jesus na cruz, normalmente enunciada como: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?”. Há duas nuances de tradução/interpretação que são em si próprias estimulantes à reflexão e, porventura, a alguma reteologização da cruz: “Meu Deus, Meu Deus, para que me abandonaste?” e “Meu Deus, Meu Deus, a que me abandonaste?” …
Dar ao outro a liberdade de me largar é muito exigente, mas em si mesmo, libertador. Do lado crente, é importante reconhecer que é essa mesma liberdade de largar, e também de largar Deus, que o mesmo Deus nos oferece…
Falar com Deus e escutar Deus é sempre tateante. Desconfiemos sempre dos arautos excessivamente certos dessas comunicações…