centralidade do aluno

Discute-se muito a centralidade do aluno na prática educativa. No plano teórico e essencial, é incontestável que o aluno é o centro. Também muita reflexão se faz sobre a complexidade da educação e as suas múltiplas interacções sociais que levam a «escola muito além da escola». Poderá ter rótulo de certo conservadorismo mas são cruciais a aula e o(a) professor(a), este(a) com o seu estilo, conhecimento, entrega, protagonismo e, sobretudo, com o seu carisma.

JP in Educação Frases 10 Janeiro, 2020

pontaria…

Pontaria

A paternidade tateia o cuidado.

O direito tateia a justiça.

O professor tateia a educação.

O matemático tateia o rigor.

O pedreiro tateia a construção.

A engenharia tateia a tecnologia.

A ciência tateia uma verdade.

O discernimento tateia a pontaria…

 

JP in Espiritualidade Poemas 8 Janeiro, 2020

400 posts no Dias Pares

Volvidas cerca de quatrocentas colocações, algum tempo depois da ‘primeira pedra’ do blog “Dias Pares”, agradeço a todos os que, com alguma paciência, passam os olhos por estas palavras. Estou consciente de que o escrever é principalmente uma purga pessoal, não raras vezes vaidosa. Com o tempo, porém, há um tónus de simples largar letras, sem agenda nem intenção. A maior autocrítica que faço a este espaço é uma assumida simplificação. A lógica das pequenas frases, dos poemas fugidios, dos textos curtos, tem um lado irrealista: é que a vida, sobre a qual escrevo, é complexa. Ao fugir da profundidade especulativa, admito render-me a que apenas com poucas palavras vou fintando as complexidades da existência humana. Um dia, quando for maior, terei este espaço tecido apenas de silêncio…

JP in Frases 6 Janeiro, 2020

ouro, incenso e mirra

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12

«ouro, incenso e mirra»

 

Os presentes dos reis magos a Jesus podem apresentar uma simbologia curiosa na epifania: o ouro era um apontamento dos reis, o incenso era usado para louvores a Deus e a mirra ajudava no embalsamento dos corpos. Esta tríada de rei-Deus-morte pode ser útil para uma aproximação cristã: em Jesus Cristo está, na nossa fé, um Rei especial que é filho de Deus e que é precisamente Rei, de forma original, por servir amorosamente até à morte (e, assim, libertando a morte e libertando da morte). Estes presentes dos magos são presentes a Jesus mas, igualmente, são presentes para nós…

JP in Espiritualidade Frases 4 Janeiro, 2020

o dia teima em nascer

É impressionante a forma como o dia teima em nascer. Podem existir nuvens, dentro ou fora de nós, mas o Sol é teimoso e, de forma mais ou menos visível, dá-nos energia, luz e vida. Esta constatação, bastaria para tecer a nossa esperança…

JP in Frases 2 Janeiro, 2020

Uma dúzia de notas sobre discernimento apostólico

J. C. Paiva, Ciência e religião: Uma dúzia de notas sobre discernimento apostólico. Site PontoSJ (que se recomenda…). 27 de dezembro de 2019.

Disponível aqui

Esta reflexão resulta, sobretudo, de um processo autocrítico e de alguns ensaios apostólicos relativamente mal sucedidos. Soma-se, claro está, um olhar mais ou menos atento ao que se vai passando à minha volta em certas dinâmicas eclesiais.

Convém, antes de tudo, situarmo-nos em relação ao que é apostólico. Tocados pelo fascínio e sentido de seguir o estilo de vida de Cristo, os Cristãos tornam-se, por assim dizer, Seus amigos, isto é, Seus discípulos. A alegria que gera esta Boa-Nova-vivida é, em si própria, contagiante e não se consegue conter. Talvez seja consensual que ser apóstolo é uma sequência (sobre)natural de ser discípulo. É próprio de ser cristão, portanto, um certo mandato apostólico.

A questão de fundo no dinamismo apostólico é, sobretudo, pedagógica. O dilema apostólico transforma-se, sobretudo, num desafio pedagógico. Em vários movimentos da história, sem excluir alguma perturbação  pendular, assistimos, a par de grandes virtudes, a empreitadas cristãs forçadoras, impositoras, amedrontadoras, conteúdescas, moralistas, etc.  É consensual que importa, nos nossos dias, em coerência com o que os evangelhos nos dizem do próprio Jesus, propor em vez de impor, dialogar em vez de apresentar categoricamente, ser pergunta aberta em vez de resposta fechada.

Nesta linha, autorecomendo-me e partilho com simplicidade, face ao dilema apostólico, o seguinte:

1- Evitar a militância... Falo das bandeiras muito içadas, que dão mais evidência à exterioridade da pertença do que à essência e ao futuro do ser. Entre um Deus que se quer revelar e o espaço livre de cada ser há um terreno sagrado que nenhum apostolado realiza. Não somos convidados nem a sermos a revelação, nem a fazermos o caminho de quem pode receber. A nossa missão é, tão só, desobstaculizar. No máximo, poderemos ser discretamente transparentes a certa luz que nos atravesse. Tirar algumas pedras do caminho não é isento de criatividade, esforço, inteligência, eficácia e entrega, mas é, (in)significantemente, apenas remover barreiras, apenas isso…

2- Ser mais pergunta! Sim, temos convicções e podemos afirmá-las. Mas de pouco vale afirmar o que não é perguntado. Só será fecundo o que deseja ser recebido. Muita água a quem não tem sede não sacia, encharca.  Neste sentido, nem sempre e talvez quase nunca com palavras, o apostolado mais eficaz é o que gera uma pergunta… Acresce ainda que na boa linha de ventos pedagógicos modernos, no melhor dos sentidos, as perguntas são muito vitais. O pensamento filosófico, a empresa científica, a própria curiosidade existencial alimentam-se de perguntas. Uma das consequências desta consciência é o estímulo das perguntas em dinamismos catequéticos e afins. Compreende-se que haja alguma doutrina básica mas o grosso do caminho da Palavra anunciada há-de tecer-se sobre as perguntas de quem vai receber, muito mais do que nos planos (rígidos) de quem engendra ofertas… Não será Deus uma pergunta?…

3- Evitar a redundância. Se há excelentes materiais de pontos de oração para a Quaresma, por exemplo, nas mais variadas formas e feitios, ponderar bem antes de elaborar mais. Se já se testou um mecanismo, atividade ou estilo de apostolado, porque não replicar de forma contextualizada. Se há materiais, recursos e ideias noutras línguas, porque não traduzir e implementar? Há que contextualizar personalizadamente mas sempre evitando a redundância…

4- Fugir dos personalismos. Cada um de nós é único e carismático. O movimento apostólico não há-de ser neutro mas antes seiva do contributo original de cada um que, em comunidade, cria força maior que a soma das partes. Há sempre uma margem de personalização em todos os empreendimentos e assim também no apostólico. Mas, tendencialmente, seria interessante concorrer para criar, alavancar, ajudar, sustentar… mas depois ‘desmamar’ e ir saindo, para que a obra continue para além de quem a começou a esculpir.

5- Uma boa (ou mesmo excelente) ideia é insuficiente. Ideias cheias de potencial apostólico e aparente oportunidade têm ser ratificadas pela realidade (o Espírito Santo que sobra…) e, em particular há que ter em conta se, de facto, no tempo, espaço e condição contextual, a realidade (as pessoas) pedem, têm sede, solicitam, vão aderir, ao que se pensa empreender…

6- Evitar a estatística. Apesar do item anterior, na vida apostólica, não há-de ser o quanto (quantas pessoas aderem, por exemplo) mas a qualidade… a qualidade dos frutos que conta.

7- Criar diversidade. Sempre que possível, propor na lógica de menu: várias opções, escolhíveis de acordo com os perfis e as necessidades, porque unidade não é uniformidade.

8- Evitar agrupamentos ingénuos e muito voluntaristas. É verdade que em Igreja se constrói com os diferentes e todos os mesmismos são de evitar. Mas, temos de convir, há feitios incompatíveis, visões divergentes, ambientes grupais insuportáveis. Vou mais longe: quando possível, em vez de nomear pessoas diversas para um grupo de trabalho, parece-me quase sempre melhor delegar em alguém a escolha/convite dos elementos para determinado grupo ou projeto apostólico. Depois, deixar trabalhar bem as boas lideranças…

9- Não estar agarrado a coisa nenhuma apostólica, isto é, garantir a gratidão. Tudo o que é apostólico é dádiva gratuita e desinteressada. Evitar as paixões possessivas e não valorizar em absoluto as birras por entrelançamento afetivo e falta de lucidez. Em dinamismo apostólico, qualquer cristão está pronto a largar… e sem remorsos, birras ou amuos…

10- Agradecemos aos senhores padres mas fazemos-lhes o favor, a eles e ao mundo, de não dependermos deles para idealizar, gerar e manter atividades. Não é só o imperativo do Concílio Vaticano II a apontar-nos a Igreja circular. São os recursos humanos escassos destes ministros especiais e cruciais que nos convidam a colocá-los numa posição mais estratégica do que executiva, mais monitorizadora do que controladora.

11- Avaliar sempre e sistematicamente e fazer a cheklist acima, podendo usar como grelha de observação filtros éticos e muito cristãos para ponderar o que fazemos, como: os meios estão adequados? estão a tornar-se fins? as finalidades estão claras?… Nesta avaliação, importa apontar para a sustentabilidade. Não é só um termo moderno, é um imperativo. Há que contar armas e perguntar sempre: isto tem pernas para andar, para se suster frutiferamente? Para ir um pouco além das pessoas e do tempo?…

12- Não esquecer que o principal é a inteireza. Acima escrevi que a tensão apostólica é fortemente pedagógica. Um entendimento mais ingénuo de tais envolvências pedagógicas poderia apontar para posturas marcadamente estratégicas ou, pior ainda, magistrais. Acontece que a melhor pedagogia é sempre tonificada pela autenticidade do ser, mais do que pelo engendrar, pelo dizer ou mesmo pelo fazer. Para ser apóstolo, portanto, basta ser…

JP in Espiritualidade Textos 30 Dezembro, 2019

revesti-vos da caridade

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Col 3, 12-17

«Revesti-vos da caridade»

Um bom propósito para este tempo natalício (e para todos os dias…) é revestirmo-
nos de caridade. Se quisermos, vestirmo-nos de caridade. De manhã, quando acordamos, vestimo-nos, antes de sair de casa. A roupagem da existência, que nos aconchega é, por excelência, a roupa da própria caridade. O apóstolo Paulo ajuda-nos a escolher as cores e os feitios desta roupa de caridade: misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência. É esta a roupa que nos cai bem, é esta a roupa da harmonia, é esta a roupa que não nos deixa sós, nus e com frio, é esta a roupa que espelha a beleza prévia que sempre sopra…

JP in Espiritualidade Frases 28 Dezembro, 2019

três movimentos do diálogo

Os dia-logos com o outro, no âmbito religioso, cultural e até em relações humanas entende-se bem numa viagem de três momentos: 1- a minha casa (reconhecer-me, percecionar-me, conhecer-me internamente); 2- saída de casa (para acolher o alter diferente, que me pode completar e fazer crescer); 3- regresso a casa (diferente, tonificado pelo diálogo, enriquecido…).

JP in Educação Espiritualidade Frases 26 Dezembro, 2019

Natal amanhã, Natal hoje

Se vai nascer, seja o que for, em certo sentido, já nasceu e nascerá. Há grande parte dos sonhos que já são realidade em movimento brotante, antes mesmo de se desvelarem na história do tempo.

JP in Espiritualidade Frases 24 Dezembro, 2019

o próprio Senhor vos dará um sinal

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Is 7, 10-14

«O próprio Senhor vos dará um sinal»

Em tempos de Advento as leituras bíblicas colocam ênfase nos 
sinais que Deus deu, dá e dará ao seu povo. A nossa esperança reside na fé mas há sinais que vão confirmando os nossos passos, amparando os nossos “mergulhos”, dando luz aos nossos “saltos no escuro”. Há sinais à nossa mercê que precisam dum trabalho dos nossos olhos. Assim como quem pega num grão discreto de areia e nele pode ver cristais de beleza impressionante, também todos os rostos humanos, mesmo os mais rudes, são sinais de um Deus que criou, está a criar e assiste todos os homens.

JP in Espiritualidade Frases 22 Dezembro, 2019