moral sexual e consciência

Era interessante robustecer os cristãos com ferramentas que permitissem um discernimento sério e profundo para um verdadeiro desenvolvimento da sua consciência pessoal, mais do que ditar prescrições rígidas mais ou menos infantilizantes. Estas cartilhas, em muitos casos, não ajudam mas antes bloqueiam o acesso das pessoas à melhor felicidade, reduto último da religião. Os assuntos de sexualidade, incluindo o uso do preservativo, são muitas vezes discutidos numa ridícula estrada de «sim ou não», que não corresponde a uma colocação séria do problema. A questão da consciência pessoal (e/ou diante de Deus, para os crentes) parece ser o elo mais crucial mas o menos abordado em muitos discernimentos, nomeadamente os que se prendem com as questões da sexualidade. Para formar esta consciência, porém, a religião terá de trabalhar mais e melhor a sua catequese. A «gestão» da nossa sexualidade é assunto tão fascinante quanto complexo e muitos cristãos estão suspensos ou mesmo «entalados» entre propostas moralistas, cujo verdadeiro significado não entendem, e uma proposta facilitista, que se joga na contemporaniedade e que entra pela televisão e por outros média. Ao ser menos prescritiva em algumas questões de moral e tentar formar a consciência global e profunda dos crentes, a Igreja poderia arriscar outro caminho, igualmente exigente mas ‘de dentro para fora’, escolhido e assumido por cada um. Esta postura baseia-se numa antropologia mais «confiante» no homem. Por vezes, parece haver medo da «desregração», mas, assim como nas famílias educar não é controlar, a moral católica poderia ser menos retalhada e mais baseada em princípios gerais de fraternidade, respeito por si próprio, pelos outros e pela vida. Seria o desfecho de consciência pessoal, sempre confrontável com acompanhamento espiritual, que determinaria a liberdade no amor de cada homem e mulher. Intui-se até que, se fosse bem construída esta formação, capaz de ler e integrar o património de cultura, fé, psicologia e sociologia que forma a consciência, as escolhas dos cristãos seriam mais interiorizadas. Não se trata de “baixar a fasquia”, mas de a propor num caminho ancorado internamente, em vez de o impor moralisticamente…

JP in Educação Espiritualidade 6 Agosto, 2020

luta e interioridade

A nossa vida interior tem algo de luta. Se assim for, a oração é um convite a pousar as preocupações, como o guerreiro pousa o arco e a flecha… e se rende…

JP in Espiritualidade Frases 4 Agosto, 2020

O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 144

O salmo 144 caracteriza de forma muito bonita o indizível que é Deus: um Deus clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. Um Deus paciente que nos convida a recomeçar, que nos dá a mão direita e que contraria a nossa tendência autodestrutiva face aos nossos desvios (às vezes sinistros). O nosso Deus não se impõe mas antes nos convoca para O coadjuvarmos na história. Por isso somos convidados, hoje, homens e mulheres a ser também nós pacientes e cheios de bondade para com todos os outros.

JP in Espiritualidade 2 Agosto, 2020

mulheres do nosso tempo

Escrevi a uma amiga, mulher deste século, com uma provocação: Cara professora-mãe-esposa-sensual-gestora de casa-cidadã-não-super-mulher…”

JP in Frases 30 Julho, 2020

carência

A carência, é, definitivamente, o fulcro e até a alavanca da fé (como pano de fundo, bem entendido, está a Graça). Trata-se de uma carência amparável, o que demonstra a própria vida, apelando a uma fé, assim, exequível…

JP in Espiritualidade Frases 28 Julho, 2020

Vendeu tudo quanto possuía para comprar aquele campo

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 13, 44-52

O Evangelho fala-nos de uma das parábolas do Reino dos Céus. Este reino é, neste sentido, uma pérola, um tesouro, que justifica que tudo vendamos para o ter. É curioso ter este olhar de pérola para com o próprio tempo: “vender tudo para ter o tesouro”, é tornar precioso cada minuto que experimentamos, seja de dor ou alegria, seja com esta ou aquela pessoa, seja de luz ou de escuridão. O que importa, é que seja vivido intensamente, como se nada mais houvesse do que esse mesmo minuto…

JP in Espiritualidade 26 Julho, 2020

gerir o tempo

Há uma “pescadinha de rabo na boca” em que me sinto baralhado. Trata-se de gerir bem o tempo em que não sei gerir o tempo. Tantas vezes… Ocorre-me uma autoproibição (não me culpabilizar) e uma palavra de ordem (recomeçar).

JP in Frases 24 Julho, 2020

autoilusão consentida

Autoilusão consentida

 

 

 

Assumo esta

autoilusão

…consentida

até desesperada.

Daqui, da sede

calada que grita,

invento Alguém.

Corro

…como se fosse

real

esta mesma criação.

Vivo

…como se fosse

vida

a minha imaginação.

Avanço

…e num vazio pleno

sinto, experimento

e confirmo

que Alguém me abraça!

Quem diria:

o que inventei existia

… e era Graça!

 

 

 

Fornos, 20 de dezembro de 2017

JP in Espiritualidade Poemas 22 Julho, 2020

os peixes sentem-se molhados?

Uma das inversões mais urgentes na prática religiosa cristã (que afeta significativamente a liturgia e as clássicas orações de petição) é a de assumir radicalmente que a graça é abundante e constante, que Deus “grita”! Vivemos numa atmosfera de graça (às vezes uma lufada, outras vezes mais abafado, mas sempre graça a respirar). Temos é dificuldade em reconhecer essa abundância, como o peixe não se reconhece molhado. E essa abertura e reconhecimento, essa mística de olhos abertos, importa pedir…

JP in Espiritualidade Frases 20 Julho, 2020