onde estou e como estou
Estou onde estou e como estou. Às vezes, de facto, não estou, porque não estou onde estou nem como estou…
Estou onde estou e como estou. Às vezes, de facto, não estou, porque não estou onde estou nem como estou…
Uma das tensões pessoais mais complexas é o confronto das muitas solicitações com a nossa ‘não super-humanidade’. Alguns ingredientes: saber dizer não mas aventurar-se, preservar-se mas expôr-se, descansar mas entregar-se, cuidar-se mas não se autocentrar…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 18, 21-35
Não te digo sete vezes mas até setenta vezes sete
A dimensão radical de perdão constitui marca cristã. Per-doar setenta vezes sete (mais do que quarenta e nove…), é perdoar infinitas vezes. Este precioso e original convite de Jesus significa, para cada um de nós, um enorme dom de liberdade, já que perdoar é ser livre. O cerne do perdão está no não ressentimento, está na oportunidade que continuamos a dar ao outro que nos ofendeu. Quem perdoa pode repreender, afastar-se ou até punir. Exteriormente, pode até ser duro ou tanger a violência, mas no coração de quem perdoa, como no de Jesus, há espaço para (re)acolher de novo quem se quiser aproximar por bem.
Muitas críticas à Igreja Católica, de ontem e de hoje, são lúcidas, fundamentadas e úteis. Mas há que denunciar algum olhar viciado que muitos lançam sobre a Igreja, apenas sublinhando os aspectos negativos e, por vezes, anedóticos. O mundo está cheio de aspectos anedóticos, em todos os domínios. Para provar a inconsistência de uma realidade não chega enfatizar esses aspectos. Aliás, a própria ciência poderia ser alvo desse mesmo olhar (injusto): bastaria citar os muitos artigos publicados em revistas científicas e galardoados todos os anos com o Prémio Ignobel, que coloca a nu a inconsistência, por vezes mesmo fraude e desonestidade intelectual, que vão acontecendo no domínio científico. Caricaturar pessoas e eventos da ciência, assim como da religião, não invalida o seu sentido…
Tudo o que nos acontece, por dentro e por fora, é sagrado em potência. Para ser verdadeiramente fecundo, esse tudo que nos acontece de potencialmente sagrado tem de ser: 1-encarado, 2-interpretado e 3-integrado. Não é uma picadora moulinex 1-2-3 mas o seu oposto, pois precisa de tempo e de silêncio…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Rom 13, 8-10
Amarás ao próximo como a ti mesmo
Na carta de Paulo aos Romanos escutamos uma frase omnipresente nos convites emergentes de muitos livros sagrados: “Amarás o próximo como a ti mesmo”. Como apontador, este lema é simples e concretizável mas, ao mesmo tempo, reveste-se de muitas complexidades. O estilo cristão de tomar este livre mandamento tem critérios notáveis, explícitos e implícitos noutras passagens da escritura: o meu próximo é o que está a meu lado, precisando de mim; para amar o próximo como a mim mesmo, tenho de ‘gostar de mim’ o que, numa perspetiva de fé, implica reconhecer-me (muito) amado por Deus, que só sabe amar e criar…
Acontece-me na vida social e familiar mas muito, também, em dinamismos pedagógicos: quando me distraio, muitas vezes (…), em vez de escutar, ponho-me a doutrinar…
Há uma dualidade constante a exercer na vida docente: saber ensinar e saber o que se ensina. Do ponto de vista do professor, há que estar bem com as duas partes, embora sejam áreas intrinsecamente incompletas e em constante tensão evolutiva. Bases sólidas da ciência que se ensina são fundamentais, mas de que valerão conhecimentos profundos de uma certa matéria se não houver aptidões para criar o ambiente interessante para aprender?
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 62
Encontramos no Salmo uma imagem muito real de nós próprios: “terra árida, sequiosa, sem água”. De facto o nosso coração tem uma sede eterna do eterno e esse desejo e essa carência que nos move, na fé e na vida. Quando as nossas apostas se dirigem ao provisório, ao precário, ao passageiro, a terra é regada mas logo seca com o Sol árido da própria vida. É a secura que se torna constante. Há que procurar, pois, para esta terra sedenta que somos, uma fonte, uma fonte de água viva. Para os cristãos, é Cristo esta nascente contínua, que nos rega a cada instante, que nos mata a secura, que nos torna carentes-desejantes-saciados, agora e para sempre.
Deus não só arrisca em nós como, em certo sentido, se busca a si mesmo em nós…esta em nós… Eis a grande dádiva…