contenção e abertura ao improviso
A tensão entre a contenção e a abertura ao improviso espontâneo marcará um dos discernimentos mais agudos da nossa existência.
A tensão entre a contenção e a abertura ao improviso espontâneo marcará um dos discernimentos mais agudos da nossa existência.
Há um conceito químico crucial que tem grande potencial analógico na nossa cultura. Trata-se da hibridização. Sabemos que os eletrões que autenticamente ‘colam’ os átomos em estruturas mais complexas a que chamamos moléculas, pertencem sempre a mais do que um átomo. Os espaços onde é provável encontrar esses eletrões (chamamos-lhes orbitais) são muitas vezes misturados e não pertencem a nenhuma entidade em exclusivo. Assim é, analogicamente, com os territórios culturais em que vivemos: ciências, artes, humanidades, religiões, estão absolutamente hibridizadas…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 6, 7-13
ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão
As palavras que Jesus dirige aos Seus companheiros, por ocasião do envio (da missão, da missa…), são de importância vital. Ele prepara os discípulos e estabelece algumas condições para o apostolado. Enquanto apóstolos de Jesus, há que meditar nestas palavras e afinar o estilo apostólico, que deve ser o de Jesus. Lembremo-nos, nomeadamente, que o caminho deve ser feito de mãos vazias, só com o bastão, prontos a acolher os outros e as suas vidas. A ideia de esvaziar a mochila e partir de mãos mais abertas é uma inspiração de vida, neste tempo em que a contingência se entrelaça com excessos securitários. Deixemos em casa o que nos pode pesar… Mais ainda, “nada levar”, significa também, no lastro apostólico, estarmos prontos a receber (nunca a ‘despejar’…) daqueles com quem nos vamos cruzar.
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Am 7, 12-15; Sl 84 (85), 9ab-10. 11-12. 13-14
L 2 Ef 1, 3-14 ou Ef 1, 3-10
Ev Mc 6, 7-13
Há que apostar no que está na nossa mão (alimentar a paciência, a receção, o silencio, a leitura, o estudo, o crescimento e, principalmente, o ânimo, que é tanto trabalho quanto graça…). Depois, quando a realidade vier (e está sempre a vir), seja qual for, tecer com essa mesma realidade qualquer coisa de belo…
Uma cultura bioética procura sempre a melhor solução para problemas relacionados com a vida humana. Por isso, a sua necessidade vem da importância em dignificar a vida humana em todas as formas, incluindo a forma do embrião, assim como dar um sentido a toda a vida humana, incluindo o sofrimento. A vida é a expressão mais bela de uma humanidade que «cresce e se multiplica» (Gn, 1, 28) e, do meu lado, a reflexão bioética só tem futuro se tomar a vida, a menos de palavra melhor, como sagrada e ‘inegociável’…
Não acompanhando Nietzsche mas, como crente inquieto, agradecendo-lhe, eu diria que quem morreu não foi Deus mas sim certas representações de Deus. E eu vou com gosto a esse funeral…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 122
para vós, Senhor, levanto os meus olhos
Aquilo que nós somos e fazemos tem muito a ver com o que vemos… No sentido inverso, é também verdade que as nossas ações influenciam a forma como vemos o mundo. Muitas vezes, não vemos bem e é um gesto de amor ou um mergulho na caridade que nos abre os olhos. De manhã, quando acordamos, a luz invade as nossas pálpebras e desperta-nos para o dia. Para quem levantamos os nossos olhos? Inspirados no salmo e embalados por uma fé que experimenta o suporte de um amor que nos cria e acolhe, vamos treinando o olhar. Que seja, neste sentido, um olhar para o Senhor, para um Cristo de braços abertos que nos chama a um dia vivido, intensa e significativamente na Sua companhia.
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L 1 Ez 2, 2-5; Sl 122 (123), 1-2a. 2bcd. 3-4
L 2 2Cor 12, 7-10
Ev Mc 6, 1-6
Pode soar um pouco frustrante a procura da verdade, sabendo que ela mesma, a verdade, tem algo de inalcançável (seja na aproximação filosófica, como na religiosa, como na científica). A analogia mais evidente é interpretar a verdade como a linha do horizonte: quando se julga lá ter chegado, a verdade foge e avança. Ao mesmo tempo, a procura da verdade serve muito, serve para avançar…
Há uma tensão entre o processo e o produto que atravessa a nossa vida toda. Na expressão artística, por exemplo, muitas vezes, admite-se um processo mais ou menos sacrificial que culmina numa (também auto…) gozosa explosão da beleza. A atividade docente é daquelas que conheço com mais potencial de valorização do gozo (logo) no processo. Porque durante a relação pedagógica (independentemente dos frutos que sairão) há logo o prazer da interação transformante. Também uma lição de vida, até porque a vida é pedagogia: recriar o valor e o gozo do processo…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 5, 21-43
levanta-te e anda
O “levanta-te” de Jesus, serve de inspiração para as pequenas mortes do dia-a-dia, para as pequenas ou grandes quedas da vida. Viver em harmonia com o ressuscitado é sentir o segredar da sua voz, que em cada aparente fatalidade nos sussurra: “levanta-te e anda”. Por isto se diz que os santos não são os que não caem, mas os que se sabem levantar, que escutam esta palavra de Jesus e colocam os meios para a traduzir em vida “recomeçante”. As curas de Jesus realizam-se num quadro de fé e confiança (“se tiveres fé…” – diz Jesus ao chefe da Sinagoga). Há um carácter desdramatizador do cenário, da parte de Jesus, que nos pode ajudar, na vida como na morte. É quase uma comédia ver o amor onde ele não é óbvio, mas é, para nós, o caminho (uma certa ‘comédia divina’). É pela fé que podemos chamar adormecimento à(s) morte(s)…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Sb 1, 13-15: 2, 23-24; Sl 29 (30), 2 e 4. 5-6. 11-12a e 13b
L 2 2Cor 8, 7. 9. 13-15
Ev Mc 5, 21-43 ou Mc 5, 21-24. 35b-43