ir a todas…

Muitas pessoas e famílias têm (temos) agendas intensas de mais, com ‘sins a tudo’, sobrando menos tempo para o descanso, o lazer, o encontro connosco próprios, a oração, a alimentação do ‘carisma de família’, etc. Principalmente na vida urbana, há uma agenda muito carregada. Falo das (múltiplas, talvez de mais…) atividades dos filhos, dos aniversários de amigos e filhos de amigos e familiares, dos eventos que, embora sociais, têm ‘insinuações’ profissionais, de outros até de natureza apostólico-religiosa (para quem os tem), de funerais e velórios, de reuniões de associações de pais, etc, etc. (até cansa a invocação…). A pergunta tensional seria: temos de ir a todas? Suspeito que a resposta é “não”. Cada um terá um trabalho de casa interior para explorar porque, em nome de bens maiores, como o descanso, a estabilidade familiar ou outros motivos, poderá dizer menos ‘sins’ e deixar de estar em todo lado, porventura não estando bem em sítio nenhum… Estou consciente que este é um discernimento complexo e dinâmico. O que estou a partilhar e a convidar-me a praticar, tem um perigo: a instalação, o conforto egocêntrico ou a ausência de compromisso. Trata-se de uma ameaça que está no outro extremo do fazedismo e do ‘ir a todas’, que estou a especular… e é igualmente desinteressante e perigoso, para o próprio e para a humanidade. Muitas vezes move-nos um enganador ‘e o outro – que convidou – fica ofendido(a)…’. Mas a esse argumento costumo auto-responder: se fica ofendido(a), sem querer saber, confiar ou compreender os meus argumentos, é também porque tem pouco potencial de amizade… No seio desta complexidade, para nós que queremos ser coerentes e honrar os nossos compromissos, está muito o facto de, precisamente, nos comprometermos com coisas de mais. E depois do compromisso, segue-se a compreensível fidelidade… mas que às vezes atinge limites imensos, como se houvesse super-homens ou super-mulheres. E nesses casos poderá também ter de se ganhar coragem e arrepiar caminho, recuando. Há que contar bem as armas antes de aceitar certos compromissos… E uma vez comprometido, pois sejamos fieis…

JP in Frases 28 Março, 2022

Ele ficou ressentido e não queria entrar

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 15, 1-32

«Ele ficou ressentido e não queria entrar»

A parábola do filho pródigo é muito rica e permite múltiplas abordagens. Esta história tem como centro a desconcertante medida do amor de Deus, sempre aberto a acolher cada um como ele é, com a sua história e o seu deslize. Mas centremo-nos na pessoa do irmão do filho pródigo. A sua reação é natural e todos nós temos um pouco da lógica deste irmão ressentido. Quantas vezes achámos injusto que aquela pessoa tão rude tivesse tantos benefícios? Quantas vezes pensámos ser injusto a saúde ou a vida fugir a “gente boa”, deixando outras pessoas “menos boas”, segundo os nossos critérios, sorrindo ao sol? Há nesta passagem do Evangelho um convite para gestos que nem sempre conseguimos mas que são portas de liberdade: alegrarmo-nos francamente com a alegria dos outros, sejam eles quem forem…

Nota: Este texto é reutilizado/adaptado a partir de um post já publicado neste blog

DOMINGO IV DA QUARESMA

L1: Jos 5, 9a. 10-12; Sal 33 (34), 2-3. 4-5. 6-7
L2: 2 Cor 5, 17-21
Ev: Lc 15, 1-3. 11-32

JP in Espiritualidade Textos 26 Março, 2022

errar e reparar…

Interessantes e quase práticas as três dicas oferecidas por Thomas Halik face às feridas da vida: a) o outro feriu-me, então aceitar (ainda que me possa defender e evitar continuidades); 2) eu feri e posso reparar, então pedir perdão e trabalhar para emendar; 3) eu feri e não posso reparar, então pedir perdão e continuar a viver como pessoa melhor.

JP in Frases 24 Março, 2022

Reconhecer-me reconhecido…

Reconhecer-se reconhecido ultrapassa a autoestima. Para este processo é condição necessária uma dádiva prévia, uma confiança, um ato de amor, desde a barriga da Mãe, ao afecto de alguém, a poder mamar e agarrar. Quando reconhecer-se reconhecido se torna existencial, aí estamos no ventre do Cosmos, no centro da Graça, no essencial de um grande Encontro, que nos contém mas nos transcende…

JP in Espiritualidade Frases 22 Março, 2022

deixa-a ficar ainda este ano, que eu vou cavar em volta e deitar-lhe estrume. Talvez assim dê fruto.

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 13, 1-9

“Deixa-a ficar ainda este ano, que eu vou cavar em volta e deitar-lhe estrume. Talvez assim dê fruto”

O cerne desta passagem do Evangelho é a oportunidade. A constante e quase desconcertante oportunidade… Na dimensão espiritual é oportunidade que Deus sempre dá à humanidade e a cada um de nós. A natureza é prodigiosa em reproduzir os ciclos de vida humana… e divina. Há anos em que as árvores não dão frutos. Mas com oportunidade, paciência, trabalho e dedicação – talvez com confiança, também… – o fruto pode aparecer numa Primavera que virá. A convocatória é sempre para o treino da espera, para o treino da esperança… A Criação é contida no arrancar as figueiras que somos da oportunidade do tempo que se enraíza na Terra…

DOMINGO III DA QUARESMA



L1: Ex 3, 1-8a. 13-15; Sal 102 (103), 1-2. 3-4. 6-7. 8 e 11
L2: 1 Cor 10, 1-6. 10-12
Ev: Lc 13, 1-9

JP in Sem categoria 20 Março, 2022

em processo…

Gosto de pedir emprestado a Whitehead a sua máxima de “Deus em processo”. Talvez por isso, sempre que posso, evito chamar o Deus omnipotente e privilegio o Deus omnitransformante…

JP in Espiritualidade Frases 18 Março, 2022

silêncio de Deus e surdez humana…

Compreendem-se, nos planos teológico e místico, as invocações ao ‘silêncio de Deus’. Também a vida crente se depara com essa metáfora. O que há que averiguar, contudo, é se é silêncio de Deus ou se é surdez humana…

JP in Espiritualidade Frases 14 Março, 2022

enquanto orava, alterou-se o aspecto do Seu rosto

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 9, 28b-36

«Enquanto orava, alterou-se o aspecto do Seu rosto»

A transfiguração de Jesus é algo que fascina e perturba os Seus companheiros, como nos fascina e perturba também a nós. A transfiguração simboliza uma passagem, uma ponte, uma Páscoa, entre o provisório e o definitivo, entre o humano e o divino, entre “o hoje” e “o sempre”, de alguma forma, entre a transcendência e imanência. Uma ideia que podemos levar para a vida, é o entendimento de que vivemos para, também nós, nos transfigurarmos. Pelo amor, pela forma como olhamos e vivemos, cada um de nós se vai transfigurando e vai sendo ator da transfiguração do mundo, querida e sonhada por Deus…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO II DA QUARESMA


L1: Gen 15, 5-12. 17-18; Sal 26 (27), 1. 7-8. 9abc. 13-14
L2: Filip 3, 17 – 4, 1 ou Filip 3, 20 – 4, 1
Ev: Lc 9, 28b-36

JP in Sem categoria 12 Março, 2022

o homem, a máquina e Deus

A inteligência artificial, os super-computadores e as biomáquinas estão aí. Até que ponto passarão a fazer cada vez mais parte da nossa identidade de seres humanos? Até que ponto se dará a fusão entre máquinas e seres humanos? Poderão as máquinas inteligentes do futuro ter consciência? Poderão ajudar-nos a resolver, mais facilmente do que agora acontece, não apenas complexos cálculos matemáticos, mas complexos dilemas éticos? Perguntarão, como nós, qual o sentido profundo e fundamental do universo e da vida? Quererão saber se existe Deus? Quererão relacionar-se com Ele? Poderão encontrar uma prova da sua existência? Poderá parecer que todas estas questões pertencem ao reino da ficção, que nunca se tornará realidade. Se, porém, considerarmos que o universo e a vida continuam a evoluir e que Deus continua a criá-los, quem somos nós para decidir o que Deus, através dos homens (mais ou menos apoiados tecnologicamente), criará no futuro?…

JP in Ciência 10 Março, 2022