fios da fé
Se me perguntassem de que fios é feita a minha fé, escolheria três: a graça (prévia), a necessidade e o desejo.
Se me perguntassem de que fios é feita a minha fé, escolheria três: a graça (prévia), a necessidade e o desejo.
Na senda das sugestões de Thomas Halik em ‘Paciência com Deus’, diante da incompletude e de muitos esmagamentos que nos sufocam, temos quatro grandes filões de resposta: 1- desespero e depressão; 2- adaptacionismo interesseiro (em Roma sê romano…); 3- droga-te (com várias coisas como droga, dinheiro, religião e outras coisas em dose alienante); 4 – fé. Isto é, perseverar pacientemente na crença vivida de que há um sentido.
Conta-se a história de um monge budista jovem que, julgando-se já iluminado, parte para longe e afasta-se da zona da sua formação. Voltando anos depois, vai ao encontro do mestre. Face a ele, o jovem vê-se confrontado com uma pergunta simples: “em que posição deixaste as tuas sandálias?”. O jovem não se lembrava e o mestre disse então: “não alcançaste iluminação”. Faltava ao jovem o que nos falta a todos: atenção simples.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 10, 1-12
“Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias”
A sugestão de envio, de missão, tem na expressão de leveza “Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias“, bons significados. Sim, pode ser uma crítica ao excesso de prevenção e ao controlo mas é, sobretudo, um convite à confiança e à abertura face à surpresa. Viver cristãmente é este envio para abertura e para a leveza. Pelo contrário, ontem e hoje, enchemos a mochila da viagem de profilaxias. Que seguranças prescindíveis levo ainda na minha mochila? Tal carga me inibe de mais caminho e de mais leveza…
DOMINGO XIV DO TEMPO COMUM
L1: Is 66, 10-14c; Sal 65 (66), 1-3a. 4-5. 6-7a. 16 e 20
L2: Gal 6, 14-18
Ev: Lc 10, 1-12. 17-20 ou Lc 10, 1-9
Apesar da independência que ciência e religião devem ter, há movimentos de interpenetração curiosos. Aprecio os insights que as teorias científicas da evolução podem oferecer à teologia. Por exemplo, a Santíssima Trindade como triangulação de movimento evolutivo, a cristologia a olhar Jesus em evolução ou a própria dogmática como movimento evolutivo. Um Deus que está em acontecimento…
Talvez a vida pudesse ser oração (ou a oração vida…), neste sentido: render-se, entregar-se, exercitar a confiança, inspirar amor e expirar medo, abrir-se à dádiva e sacudir o controlo, beber a surpresa e evitar a prisão da expectativa.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 9, 51-62
«Senhor: queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?»
Jesus e os discípulos dirigiram-se a uma povoação na Samaria, não tendo sido bem recebidos. Tiago e João, ou por amarem e quererem defender o Mestre, ou por certa imaturidade no amor, logo sugeriram: “Senhor: queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?”. Jesus, porém, repreendeu-os. Há na nossa vida e principalmente no nosso interior, laivos parecidos com a aproximação de Tiago e João. São os nossos cenários imaginados (às vezes com sequência), em que bem desejaríamos surdas vinganças e insucessos para aqueles que nos recebem mal. O primeiro passo na gestão da nossa interioridade é a assunção e mesmo a autovalidação. Curto-circuitar o que sentimos e o que na realidade somos, incluindo os nossos pensamentos, com um tamponamento moral, não é normalmente libertador. Posto isso, trabalhar interiormente e apostar neste não rancor, é estar em sincronia com Jesus.
NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.
Há propósitos que tenho há muito tempo e que tenho dificuldade em praticar. Um deles é este, bastante simples: esperar que o outro pergunte… Quando me distraio, não cumpro este propósito e estou a responder antes de me perguntarem…
Milagre
Não tanto
o estranho.
Mais o espanto…
Dimensão de
velha novidade.
Sinal.
Imensidão.
Abundancialidade.
Vulgar
…e banal.
Tácito e
especial.
Cúmplice do tempo.
Vibrante.
Constante…
De admirar:
agora e aqui,
não só no altar…
Deus, seja lá o que for, é a interrogação que teima diante de todas as respostas.