Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 22, 14-23, 56

«Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa»

Em domingo de Ramos, os cristãos recordam o trajeto final da vida de Jesus, que antecede o fulcro da Sua entrega radical. O início do texto longo que hoje se medita nas celebrações poderia marcar toda a leitura da Páscoa: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa”, isto é: falo-vos, vivo e ofereço-vos, a cada um de vós, um Deus que se quer relacionar, que quer estar, que se propõe “entranhável” na vida ordinária, no ‘comer’. Um Deus “comestível”, poderíamos dizer, numa linguagem tão ousada quanto eucarística…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR


L1: Is 50, 4-7; Sal 21 (22), 8-9. 17-18a. 19-20. 23-24
L2: Filip 2, 6-11
Ev: Lc 22, 14 – 23, 56

JP in Sem categoria 10 Abril, 2022

pulsar relacional

Se houvesse um pulsar relacional, de dinamismo e tensão constantes, seria esse de “largar o outro”. É quando não respiramos isto nas relações humanas e, ao invés, agarramos o outro, desejando que ele fosse sabe-se lá o quê, que beliscamos a gratuitidade e a fecundidade do relacionamento…

JP in Frases 8 Abril, 2022

Lawrence e o universo do nada…

Lawrence desenvolve a famosa tese não crente do “universe from nothing”. Mas o que será o nada para Lawrence? O nada físico? O nada filosófico? Flutuações quânticas? Para mim, talvez ignições de amor criativo…

JP in Ciência Frases 6 Abril, 2022

Graça

Von Baltahsar sublinha a importância da Graça, “espetacular e despudorada”, nas suas palavras. A fé é sempre reconhecer um amor que já nos rodeia e habita.

JP in Sem categoria 4 Abril, 2022

quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 8, 1-11

«Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra»

A história da mulher adúltera é das mais expressivas da vida de Jesus. Revela facetas da sabedoria cristã (desmontagem da cilada dos fariseus) e de grande misericórdia (“também eu não te condeno”). A analogia popular de que quando apontamos aos outros um dedo, são três dedos que se apontam a nós, pode ser convocada: todo o exercício critico pode ser feito com consciência autocrítica. Não julgarmos os outros sem estarmos atentos às nossas próprias fragilidades é um bom caminho para viver uma lucidez crítica misericordiosa.

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado anteriormente, neste blog.

DOMINGO V DA QUARESMA


L1: Is 43, 16-21; Sal 125 (126), 1-2ab. 2cd-3. 4-5. 6
L2: Filip 3, 8-14
Ev: Jo 8, 1-11

JP in Sem categoria 2 Abril, 2022

Da invasão da Ucrânia: recados a mim mesmo…

Paiva, J. C. (2022). Da invasão da Ucrânia: recados a mim mesmo… Site Ponto SJ, 21-03-2022.

Disponível aqui

Como muitos de nós, dei comigo absolutamente tomado pelos últimos acontecimentos na Ucrânia, na Europa, no mundo, em todos e em cada um de nós. Embora meio em choque, a quente, refleti e escrevi sobre o que me pareceu mais relevante na tensão entre a guerra e a esperança. Volvidas algumas semanas sobre a invasão, verto em escrita partilhada alguns recados a mim mesmo:

Informado mas recolhido
Cheguei a estar horas a fio preso à televisão. Foi uma reação natural mas cuja desintoxicação, ainda em curso, carece do meu trabalho. Hoje em dia, com resistência interior, imponho-me não ler mais do que alguns artigos de jornal por dia e tomar apenas um dos telejornais. Em chave autocrítica, o que eu perdi nos primeiros tempos foi a qualidade do tempo de recato e oração. Cheguei a quebrar alguns rituais de paragem e noto bem o preço que paguei, eu e alguns outros, que me suportaram mais hiperativo, mas ao mesmo tempo cansado, tenso, irritado e com menos rumo. Interpreto com naturalidade este desnorte: eu já sabia que a existência era contingente, que a crueldade pontuava, que nada era garantido, que a liberdade projetada na fé de Deus em nós tinha um preço. Mas aqui, tudo isto, que aparece em pequenas doses na nossa vida, está em formato do shot. Absorvido este excesso, sinto um apelo a uma qualquer pós-ressaca. Não tenho neste momento a meu cargo sistemático crianças e jovens em processo educativo. Sei bem, porém, a criatividade e a atenção que, nesta tensão entre a informação que traz a verdade incontornável e a moderação, há um desafiante discernimento.

Atuante mas contemplativo
Com uma razoável impulsividade, que certamente inclui bondade, mas que terá o seu quê de mecanismo de fuga e inquietação, envolvi-me com outras pessoas na mobilização de redes solidárias para o acolhimento de refugiados ucranianos. Compreendo-me a esta distância, mas sublinho a fragilidade maior neste caminho: não raras vezes, perdi a noção da positividade e do sentido. Tomado por certa urgência, real ou antecipada, o que me faltou e desejo retomar com mais força, é esse olhar que não prescinde do belo. E o horizonte contemplativo é parte não descartável, como aponta a metáfora evangélica de Marta e Maria. O fazedismo sempre foi tentação minha e notei-o exacerbado estes dias…

Generoso mas prudente
No contexto nacional, o processo de acolhimento de migrantes ucranianos é um misto generosidade, voluntarismo, emoção, eficácia, improviso, planeamento, racionalidade, ingenuidade, ação, coração, etc. À medida que o tempo passa, a tendência é para moderar e amparar os caminhos, tentando conferir sustentabilidade aos processos de acolhimento. Ao gesto generoso se deve somar o amparo jurídico, a tentativa de dar lastro institucional, o olhar e a concretude que dão futuro ao gesto de acolher. E tudo isto pede algum tempo. Nem sempre estive munido deste equilíbrio. Quando a emoção avulsa e certa pressa tomou conta das ocorrências, o processo fragilizou. Ir buscar gente à fronteira da Ucrânia sem contexto institucional, legal e sem avaliar as condições para o respetivo acolhimento, é o exemplo típico de alguma imprudência. Do ponto de vista pessoal será inspirador, nas ofertas de bens e vontades, contar armas, metáfora irónica neste contexto… Não convém também, como me aconteceu bastas vezes, alimentar autopressões mais ou menos morais, sobre o pouco que faço: a caridade, como a nossa fé, é sempre pequena… e há que conviver bem com isso. Quem se mete nestas coisas da solidariedade sabe que as surpresas acontecem, que a expetativa deve ser gerida (e principalmente baixada, até zero, no melhor dos sentidos). Por vezes, diante de joio que vinha no meio do trigo, cheguei a pensar “onde eu me meti, mais valia ter ficado no sofá”. É tentação pura, e o caminho, quando algo corre menos bem, é dar melhor e não deixar de dar.

Comunicante mas contido
Notei-me muito falador e pouco escutante. Em qualquer conversa, emito… e falo sobre a guerra. Digo-me otimista mas muito preocupado. Especulo, filosofo (baratamente…), adivinho futuros. Medos… Este é um dos aspetos que existia antes da guerra: sou um dos distraídos que despreza o ouvido em favor da boca. Recomendo a mim mesmo, principalmente agora, mais silêncio e mais escuta. E se gosto de falar (porque gosto), pois que espere pelas perguntas dos outros. Meu jejum mais preciso é o da palavra.

Colhido pelo facto mas aberto ao quotidiano
Perante o compreensível mergulho na realidade que nos engole, é muito importante ir retomando alguns gestos. Sem tal significar distração ou anestesia, a vida continua e isso é uma das respostas à brutalidade deste tempo. Abandonei durante três semanas o cuidado da horta e a remoção das daninhas de hoje fez-me refletir com algum sentido autocrítico. A natureza ensina…

Realista mas esperançado
Há desafios neste cenário, nos planos das ideias e da ação, que são duma complexidade extrema. Quando analogicamente penso num matulão numa escola em bulling violento ativo, e na forma como eu, se pudesse, o travaria (usando força, bem entendido), fico partido diante da convicção de não responder à guerra com a guerra e, ao mesmo tempo, sensível ao justo pragmatismo de uma paz mundial (ainda) armada. O que fui vivendo nestes tempos, em dança de moções, levou-me variadas vezes aquilo a que poderia chamar recomeços amorosos. Recordo com inspiração as máximas de Santa Teresa (mais contemplativa) ou de Teresa de Calcutá (mais ativa, mas mística nos seus desertos), sempre apontando para a grande pequenez do amor. Nas guerras maiores, o elixir é o mesmo das guerras menores: salvar-me-á sempre, a mim e a todos, o amor que falta. O amor que somos chamados a derramar no espaço e no tempo, também e principalmente neste instante incerto.

JP in Sem categoria 30 Março, 2022

ir a todas…

Muitas pessoas e famílias têm (temos) agendas intensas de mais, com ‘sins a tudo’, sobrando menos tempo para o descanso, o lazer, o encontro connosco próprios, a oração, a alimentação do ‘carisma de família’, etc. Principalmente na vida urbana, há uma agenda muito carregada. Falo das (múltiplas, talvez de mais…) atividades dos filhos, dos aniversários de amigos e filhos de amigos e familiares, dos eventos que, embora sociais, têm ‘insinuações’ profissionais, de outros até de natureza apostólico-religiosa (para quem os tem), de funerais e velórios, de reuniões de associações de pais, etc, etc. (até cansa a invocação…). A pergunta tensional seria: temos de ir a todas? Suspeito que a resposta é “não”. Cada um terá um trabalho de casa interior para explorar porque, em nome de bens maiores, como o descanso, a estabilidade familiar ou outros motivos, poderá dizer menos ‘sins’ e deixar de estar em todo lado, porventura não estando bem em sítio nenhum… Estou consciente que este é um discernimento complexo e dinâmico. O que estou a partilhar e a convidar-me a praticar, tem um perigo: a instalação, o conforto egocêntrico ou a ausência de compromisso. Trata-se de uma ameaça que está no outro extremo do fazedismo e do ‘ir a todas’, que estou a especular… e é igualmente desinteressante e perigoso, para o próprio e para a humanidade. Muitas vezes move-nos um enganador ‘e o outro – que convidou – fica ofendido(a)…’. Mas a esse argumento costumo auto-responder: se fica ofendido(a), sem querer saber, confiar ou compreender os meus argumentos, é também porque tem pouco potencial de amizade… No seio desta complexidade, para nós que queremos ser coerentes e honrar os nossos compromissos, está muito o facto de, precisamente, nos comprometermos com coisas de mais. E depois do compromisso, segue-se a compreensível fidelidade… mas que às vezes atinge limites imensos, como se houvesse super-homens ou super-mulheres. E nesses casos poderá também ter de se ganhar coragem e arrepiar caminho, recuando. Há que contar bem as armas antes de aceitar certos compromissos… E uma vez comprometido, pois sejamos fieis…

JP in Frases 28 Março, 2022

Ele ficou ressentido e não queria entrar

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 15, 1-32

«Ele ficou ressentido e não queria entrar»

A parábola do filho pródigo é muito rica e permite múltiplas abordagens. Esta história tem como centro a desconcertante medida do amor de Deus, sempre aberto a acolher cada um como ele é, com a sua história e o seu deslize. Mas centremo-nos na pessoa do irmão do filho pródigo. A sua reação é natural e todos nós temos um pouco da lógica deste irmão ressentido. Quantas vezes achámos injusto que aquela pessoa tão rude tivesse tantos benefícios? Quantas vezes pensámos ser injusto a saúde ou a vida fugir a “gente boa”, deixando outras pessoas “menos boas”, segundo os nossos critérios, sorrindo ao sol? Há nesta passagem do Evangelho um convite para gestos que nem sempre conseguimos mas que são portas de liberdade: alegrarmo-nos francamente com a alegria dos outros, sejam eles quem forem…

Nota: Este texto é reutilizado/adaptado a partir de um post já publicado neste blog

DOMINGO IV DA QUARESMA

L1: Jos 5, 9a. 10-12; Sal 33 (34), 2-3. 4-5. 6-7
L2: 2 Cor 5, 17-21
Ev: Lc 15, 1-3. 11-32

JP in Espiritualidade Textos 26 Março, 2022

errar e reparar…

Interessantes e quase práticas as três dicas oferecidas por Thomas Halik face às feridas da vida: a) o outro feriu-me, então aceitar (ainda que me possa defender e evitar continuidades); 2) eu feri e posso reparar, então pedir perdão e trabalhar para emendar; 3) eu feri e não posso reparar, então pedir perdão e continuar a viver como pessoa melhor.

JP in Frases 24 Março, 2022

Reconhecer-me reconhecido…

Reconhecer-se reconhecido ultrapassa a autoestima. Para este processo é condição necessária uma dádiva prévia, uma confiança, um ato de amor, desde a barriga da Mãe, ao afecto de alguém, a poder mamar e agarrar. Quando reconhecer-se reconhecido se torna existencial, aí estamos no ventre do Cosmos, no centro da Graça, no essencial de um grande Encontro, que nos contém mas nos transcende…

JP in Espiritualidade Frases 22 Março, 2022