poesia
Quando não sei o que dizer e como dizer uso a poesia (ou a poesia me usa). É uma inútil e proveitosa dança de palavras, pensamentos e emoções…
Quando não sei o que dizer e como dizer uso a poesia (ou a poesia me usa). É uma inútil e proveitosa dança de palavras, pensamentos e emoções…
A eleição, no sentido que lhe dá a espiritualidade inaciana, é uma ontologia de processo. Tateante, como o discernimento, está a fazer-se e plasma-se no ordinário de todos os dias. Viver é ir elegendo…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 18, 9-14
«…por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano»
Este trecho de Lucas puxa por todos nós, como num espelho. Distraídos, olhando criticamente os outros, estamos a milímetros de uma super-auto-consideração… Na perspectiva espiritual, entende-se como a relação com Deus, esse tateamento que só progride na verdade do que somos, precisa de gente disposta a olhar para si com menos defesas de qualquer superioridade. A consciência de que somos publicanos (comuns carentes) pode tornar-nos mais livres para acolher a confiança (comuns crentes…).
L1: Sir 35, 15b-17. 20-22a (gr. 12-14.16-18);
Sal 33 (34), 2-3. 17-18. 19 e 23
L2: 2 Tim 4, 6-8. 16-18
Ev: Lc 18, 9-14
O medo do conflito, em muitas circunstâncias, pode ser pior do que o próprio conflito. O equilíbrio a procurar é o de saber conflituar.
De todas as sínteses químicas há uma que merece especial atenção: a síntese da ureia. Em 1828 consegue-se o primeiro ensaio de produção artificial daquilo que sabemos hoje ser dinitrometanal. Como componente do mundo vivo, e dos fluidos humanos, em particular, a química, já aprendiz de criadora dos objetos que estuda, passa o rubicão da síntese da natureza. De lá para cá, a par das ciências biológicas e físicas, tem sido um processo e uma aventura fascinantes. Não sem melindres e perigos. Este ‘mexer na vida’ tem tanto de ousado e belo quanto de titubeante. A mim, enquanto pequeno e insignificante protagonista da química, apesar dos limites que implica, liberta-me a metafísica de um certo sentido sagrado da vida… Por isso, tudo que a química fizer, será para promover e dignificar a vida, nunca o seu contrário…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 120
«O nosso auxílio vem do Senhor, que fez o céu e a terra…»
Quando se reza o credo na missa, de alguma forma nos encontramos com este salmo: “Deus criou (e está a criar) o céu e a terra”. Nada dizemos sobre as origens de tudo o que existe e a Bíblia não é o livro indicado para indagar sobre esse assunto (será melhor perguntar à ciência que, ainda que provisoriamente, nos dá boas pistas sobre a origem e a evolução da humanidade e do cosmos). O auxílio que vem do Senhor, porém, contém mas ultrapassa o alívio existencial de reconhecer O criador. É que este auxílio, na crença cristã, tem uma presença concreta e real, espelhável no espaço e no tempo, sistemática e contínua (Espírito Santo). Reconhecer-me auxiliado, incondicionalmente, pode ser uma fonte de liberdade.
L1: Ex 17, 8-13; Sal 120 (121), 1-2. 3-4. 5-6. 7-8
L2: 2 Tim 3, 14 – 4, 2
Ev: Lc 18, 1-8
Sinto um legítimo horror à precariedade existencial e aceito-me assim. Acompanho a máxima ontológica que, à bolina dum lastro filosófico-teológico, nos situa assim: “ser, é ser para sempre”…
Alguns crentes ficam “sem pé” diante de certa autonomia do mundo. Compreendende-se, mas esse horror ao pulsar cósmico pode relevar traços de um deus marioneteiro inconsistente. Ajuda a ciência e os seus insights (na astronomia, na física, na química, na biologia, na história, na psicologia e na sociologia, por exemplo). Torna-se mais claro, hoje, que o agir de Deus se plasma no sentido da história e é a provocação à solidariedade humana que nos dará sentido.
O quadro bíblico relatado no Livro do Génesis sobre Adão e Eva, alude com toda a certeza à crença judaica de que a criação do universo e da vida têm a sua justificação última em Deus, que no seu infinito amor criou (e continua a criar) o universo e a humanidade. Exprime também a ideia de que a nossa espécie tende a ser auto-suficiente e a virar as costas ao Deus-Amor que a criou. Adão e Eva simbolizam toda a humanidade. «Comer a maçã» representa prescindir de Deus e bastar-se a si próprio na compreensão do mundo e do sentido da vida. Comer ou não comer a maçã é ainda, neste sentido, o verdadeiro jogo da liberdade do homem, a tensão de possuir, que é o contrário de se oferecer, de confiar, de se entregar. É este o seu pecado original, isto é, o seu pecado mais profundo. Mais do que um deslize, é uma falha estrutural que há que aceitar, com a nossa própria finitude.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 17, 11-19
«Voltou atrás, glorificando a Deus…»
A leitura do Evangelho fala-nos de “voltar atrás para agradecer”, fala-nos de gratidão e humildade. Mas pode ser explorado pela diferença entre ‘curar’ e ‘salvar’. Em certo sentido, estes dez leprosos foram curados (com a provisoriedade que isso implica… iremos todos morrer…) mas, apenas um, o que regressa, terá sido salvo, isto é, terá encontrado (melhor, reconhecido) um sentido ultimo para o significado da sua vida. Reconhecer este encontro agradecido é, de facto, o cerne da nossa fé, o centro da nossa vida… reconhecido e agradecido…
NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog
L1: 2 Reis 5, 14-17; Sal 97 (98), 1. 2-3ab. 3cd-4
L2: 2 Tim 2, 8-13
Ev: Lc 17, 11-19