baleia e carapau…

Às vezes distraio-me na comparação da minha realidade cultural ou estética com outra qualquer. Inspira-me aquela simples pergunta: “será uma baleia mais importante que um carapau?”…

JP in Sem categoria 6 Fevereiro, 2023

apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Cor 2, 15

«apresentei-me diante de vós cheio de fraqueza e de temor»

É curioso reparar na explicitação de Paulo em relação aos seus sentimentos e emoções enquanto protagonista da atividade apostólica. Ele não se reconheceria como o ‘herói de Cristo’, sem mácula e sem dúvidas, mas o ser frágil que se faz forte pela esperança e não pela impecabilidade. “Não me apresentei com sublimidade de linguagem ou sabedoria”, diz Paulo, como que dizendo que para se ser apóstolo não é preciso dons extraordinários mas antes humildade e confiança, fé num Deus que é amor e que se quer revelar a todos, por via de cada um de nós. A experiência de seguimento cristão poderá tornar-nos, em certo sentido, ‘maiores do que nós mesmos’. Mas o ponto de partida desse crescimento é, precisamente, a consciência de fraqueza e de fragilidade.

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

Na folha seguinte a grelha de feito/não feito.

L 1 Is 58, 7-10; Sl 111 (112), 4-5. 6-7. 8a e 9
L 2 1Cor 2, 1-5
Ev Mt 5, 13-16

JP in Sem categoria 4 Fevereiro, 2023

A ciência e ser professor

Enquanto professor de ciências, estou consciente de que a ciência, que exerce fascínio sobre mim, é o pretexto de desideratos mais profundos. Por mais que se entusiasme e entusiasme pela ciência os seus alunos, o professor que foque apenas os conteúdos científicos tem os horizontes limitados. Uma analogia: comer sardinha tem toda uma contextualização de cheiro, sabor e emoção. Está claro que sem sardinha não há sardinha (…), como sem ciência e sem saber ciência não há professor de ciências. Mas comer sardinha é mais do que a sardinha que se come. Assim também, ser professor de ciências é mais, muito mais, do que a ciência que se ensina…

JP in Educação 2 Fevereiro, 2023

Homilia para este domingo – bem aventurados somos

Paiva, J. C. (2023). Homilia para este domingo – bem aventurados somosSite Ponto SJ, 29-01-2023.

Disponível aqui

A liturgia deste domingo começa com um belo trecho de Sofonias. Os versículos fazem parte de uma passagem maior, na qual o profeta alerta o povo de Judá para se arrepender e voltar para Deus. Exorta-se o Senhor com humildade, retidão e obediência aos seus mandamentos. O apóstolo Paulo, por sua vez, na Epístola aos Coríntios, enfatiza que os membros da igreja não se devem orgulhar de seu estatuto social ou da sua sabedoria mundana, porque a verdadeira sabedoria e poder vêm de Deus. Paulo lembra-nos que fomos escolhidos por Deus não por mérito próprio, mas por causa da graça de Deus.

No Novo Testamento (Mateus 5:1-12) somos inspirados pelo conhecido Sermão da Montanha. Nesta passagem, Jesus ensina sobre a natureza da justiça e como ela excede a dos escribas e fariseus. Ele introduz o conceito de “bem-aventuranças”, que são bênçãos para todos: os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os pacificadores e os perseguidos por causa da justiça. Esta passagem é central na vida cristã.

O “pobre de espírito” é um termo usado em Mateus e centra-se numa das crucias bem-aventuranças.  “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. Esta frase é muitas vezes interpretada como referindo-se à humildade e ao reconhecimento da própria pobreza ou carência espiritual. Sugere que aqueles que são humildes e reconhecem a sua própria necessidade de Deus e nutrição espiritual serão recompensados ​​com o reino dos céus. Ser pobre de espírito não é ser economicamente pobre, mas significa reconhecer a própria pobreza espiritual e dependência de Deus, e buscar a justiça, que é a chave para o Reino de Deus.

O Sermão da Montanha contém muitos ensinamentos relevantes para a vida diária:

• Humildade: Jesus ensina que os humildes serão exaltados e os que se exaltam serão humilhados. Na vida real, a humildade pode ser demonstrada por estar disposto a servir os outros, por estar aberto a comentários e críticas e por estar disposto a admitir quando estamos errados.

• Perdão: Jesus ensina que devemos perdoar os outros como fomos perdoados. Na vida real, o perdão pode ser difícil, mas é importante para deixar de lado a raiva e a amargura e manter relacionamentos saudáveis ​​com os outros.

• Amor aos inimigos: Jesus ensina que devemos amar nossos inimigos e orar por aqueles que nos perseguem. Na vida real, isso pode ser desafiador, mas é uma forma importante de superar o ódio e a raiva e promover a paz e a reconciliação.

• Generosidade e compaixão: Jesus ensina que devemos ser generosos em dar aos pobres e ajudar os necessitados. Na vida real, isso pode ser demonstrado por meio de voluntariado, doações ou simplesmente estendendo a mão para ajudar um vizinho ou amigo necessitado.

No geral, o Sermão da Montanha fornece ensinamentos que podem ser aplicados na vida real e que podem ajudar as pessoas a viver uma vida mais virtuosa e gratificante. É um desafio contínuo aplicá-los, mas pode ser uma grande fonte de inspiração e orientação para os cristãos.

Acabou de ler uma proposta de homilia para este domingo. Talvez tenha estranhado o estilo ou algumas particularidades diferentes da forma como habitualmente escrevo. O que leu foi feito em poucos minutos a partir de inteligência artificial computacional, num gerador de texto digital recente. Coloquei algumas palavras-chave em inglês (não quaisquer, admito o dedo humano, mas ao alcance de todos), depois submeti no google tradutor, ele próprio também uma máquina de inteligência artificial poderosíssima na arte de traduzir.  Apenas retirei a carga de tom brasileiro e eis um texto razoável sobre a vida cristã…

Os desafios são gigantes, misteriosos, inimagináveis, fascinantes e assustadores. Pela positiva, o incrível génio humano e as suas capacidades. Pelo lado sombrio, as implicações éticas de que apenas um pequeno véu se está a levantar. Há um lado pedagógico, ainda luminoso, que se pode retirar: a vida pastoral será certamente mais do que belas palavras, pois essas o computador pode gerá-las, rápida e “criativamente”. Falta o toque humano encarnado na vida e esse e apenas esse pode tocar. Há que questionar a dose do nosso latim. Em vez de gente palavrosa, como eu (e como as máquinas de geração de texto baseadas em inteligência artificial), precisa-se de quem escute, de quem abrace, de quem se meta e que meta a vida dos outros na vida de todos nós… na vida de Deus. É a bem-aventurança que importa.

JP in Sem categoria 30 Janeiro, 2023

Bem-aventurados os pobres de espírito

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 5, 1-12

«Bem-aventurados os pobres de espírito»

Em tempo litúrgico de bem aventuranças, destaquemos a pobreza espiritual, nem sempre bem compreendida, mas fulcral no cristianimso. Há uma dimensão de pobreza mais profunda, que ultrapassa o pão mas que só é conquistável por quem tenha um mínimo de pão: chamamos-lhe pobreza espiritual. É uma bem-aventurança de abertura em crer para nada querer. Percebe-se bem naquele conto oriental segundo o qual um mendigo pediu a uma pessoa de posses que lhe desse algo. Essa pessoa deu-lhe tudo o que tinha. No dia seguinte, o pobre voltou e retorquiu: “ensina-me a ser como tu. Dá-me a riqueza de que eu preciso, que é a capacidade de dar tudo o que tenho, como fizeste ontem comigo”. Compreendemos bem que haja gente (e as duas gentes estão dentro de cada um de nós…) que seja rica-pobre e pobre-rica… Bem-aventurados vamos sendo se soubermos viver nesta tensão, de extrair do ‘baixo’ tudo aquilo que ‘eleva’…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO IV DO TEMPO COMUM

L 1 Sf 2, 3; 3, 12-13; Sl 145 (146), 7. 8-9a. 9bc-10
L 2 1Cor 1, 26-31
Ev Mt 5, 1-12a

JP in Sem categoria 28 Janeiro, 2023

teólogos da segurança…

Os teólogos da segurança ficam arrepiados com as aproximações ecuménicas menos diferenciativas, assustados com o ‘tanto faz’ das religiões. Sim, há diferença nos caminhos espirituais da humanidade, mas, por submissão positiva à bondade universal e amorosa de Deus, há uma relativização da via religiosa-espiritual, que redunda quase nisso: salvação no trilho da boa vontade vertida nas possibilidade de cada pessoa e de cada cultura, um ‘quase-tanto-faz’, sim… (para positivamente escandalizar tal teologia securitária…)

JP in Sem categoria 26 Janeiro, 2023

Bíblia e violência

Sobre a violência latente em certas passagens da Bíblia não vejo alternativa a uma boa hermenêutica, sujeita à tensão das leituras macro e micro. Vejamos. O ‘macro’ da Bíblia é um Deus que quer salvar, que se vai revelando (no Novo Testamento, há um êxtase na morte e ressurreição de Cristo, que polarizam tal Deus num Deus de serviço, acolhimento e amor). Este é o macro, tudo o resto se entenderá para ‘tentar dizer o que este amor não se consegue dizer’. E a revelação opera-se na complexidade que somos, cheia de virtudes e potencialidades, mas assente na contingência dos nossos limites e das nossas pulsões violentas. Deus diz-se assim: “tu podes ser tu diante de mim”. Mas “eu sou também violência, interior e exterior”. A Bíblia tinha que espelhar estas tensões, sem perder nunca o foco de ser livro de salvação…

JP in Sem categoria 24 Janeiro, 2023

eles deixaram logo as redes e seguiram-No

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 4, 12-23

«eles deixaram logo as redes e seguiram-No»

A propósito desta descrição dos seguidores próximos de Jesus, fixemo-nos na prontidão da resposta ao apelo, que é sempre um convite tão mobilizador quanto libertador. A expressão “deixou logo as redes” pode ser inspiradora. Estar prontos para deixar o que pode ser deixado e atender os outros: deixar o ritmo de trabalho para atender melhor os filhos, deixar de ter algo, para partilhar, deixar um rancor para perdoar, deixar a televisão para conversar, e muitos mais auto-recados promissores, que esperam vida para se realizarem…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO III DO TEMPO COMUM

L 1 Is 8, 23b – 9, 3 (9, 1-4); Sl 26 (27), 1. 4. 13-14
L 2 1Cor 1, 10-13. 17
Ev Mt 4, 12-23 ou Mt 4, 12-17

JP in Sem categoria 22 Janeiro, 2023

fé aberta…

O teólogo Balthasar tem uma expressão-síntese, tão simples quanto fulcral, tão cristã quanto universal: “Deus espera por todos”. Esta confiança pode ser mote existencial de vida e alimenta uma esperança comum e radicalmente aberta.

JP in Sem categoria 20 Janeiro, 2023

a “minha Igreja”…

Sou religioso, aceitando, senão mesmo rendendo-me, a uma ritualização e a uma institucionalização comunitária. Evito edificar a ‘Igreja do João Paiva’, salvo-me de mim mesmo e enriqueço-me, não sem custo, com o caminho do nós.

JP in Sem categoria 18 Janeiro, 2023