encontro de liberdades…
A liberdade de Deus e a liberdade do homem encontram a sua convergência no paradoxal lugar do tempo e do espaço. Aí, na história, na minha história, na nossa história, na história de Deus, se tece o dom da vida.
A liberdade de Deus e a liberdade do homem encontram a sua convergência no paradoxal lugar do tempo e do espaço. Aí, na história, na minha história, na nossa história, na história de Deus, se tece o dom da vida.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 14-30
O texto de Mateus aponta-nos um caminho pequeno-grande, mas vital para compreender o Evangelho: a importânica do pequeno, do insignificante, do que se vê menos, do espalhafatoso, do badalado, do muito grande, do que tem muitos “likes”… A fidelidade nas pequenas coisas é aquilo que, experimentado, nos permite aceder ao magis da liberdade. Todos os místicos se detiveram aqui, no detalhe, no instante sagrado do pouco tomado como tudo. O grande talento é o pouco dado, que se torna enorme.
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
L 1 Pr 31, 10-13. 19-20. 30-31; Sl 127 (128), 1-2. 3. 4-5
L 2 1Ts 5, 1-6
Ev Mt 25, 14-30 ou Mt 25, 14-15. 19-21
A ciência tem tentado operacionalizar o conceito de vida, mas não está fácil… autorreprodução, continuidade genética, funções de permuta energética/material, etc. Para mim, a palavra mais perto de vida alimenta tanto a tentativa epistemológica coma a existencial. Essa palavra é “relação”. Quanto à vida… teima em ser uma problemática física…, mas metafísica…
Há sofrimentos extremos, já com cheiro de morte, com aquele lado de «solicitação de silêncios»… Sobra descalçar as sandálias e também uma certa esperança de essencialidade espiritual e alguma purificação. Pode-se estar e usufruir (…) e talvez «dizer» isto mesmo, sem palavra alguma…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 1-13
Seguir (encontrar-me com o noivo), implica decisão (candeia) e compromisso alimentado (azeite). Alimentar uma candeia com azeite neste convite metafórico riquíssimo implica: trabalhar, persistir, ser fiel, acompanhar o processo. É importante ser perseverante nas empreitadas e propósitos pessoais, profissionais e apostólicos em detrimento de ser imprudente (candeia bonita mas sem azeite…). Seria interessante um confronto com os nossos rótulos de potencial conformista: “sou católico”; “vou à missa”; “sou consagrado”; “pertenço a estruturas da igreja e de movimentos”, “sou amigo de…”; “sou casado com”; “sou Pai…”; “sou professor” etc. Isto são candeias! E o azeite?… E o combustível da alimentação da chama?…
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
L 1 Sb 6, 12-16; Sl 62 (63), 2. 3-4. 5-6. 7-8
L 2 1Ts 4, 13-18 ou 1Ts 4, 13-14
Ev Mt 25, 1-13
Jesus é para mim muito inspirador na relação com os outros, principalmente porque fita a fragilidade e o sofrimento de cada humano. Jesus não mobiliza o pecado… esse, que existe, é para redimir pela compaixão, não para agudizar pela acusação… É isto, libertar(-me) na compaixão, o que nem sempre faço, que desejo ardentemente ser.
Ainda a propósito da JMJ elaborei uns dizeres na publicação abaixo*.
“Sou daqueles que não ferve de entusiasmo por grandes eventos, com grandes multidões. Por
isso mesmo, acompanhado das mesmas limitações que me autocoibem de ir a jogos de futebol,
grandes espetáculos musicais ou feiras, acompanhei de casa e a distância a Jornada Mundiais da
Juventude. Para mim, valeu assim. Sei até que, sem corresponder à experiência indizível de quem
esteve em Lisboa, fruí de algumas vantagens na perceção das mensagens e na captura detalhada de algumas performances.
(…)
O evento superou o programa e também as minhas expectativas. Esteve bem quem organizou, esteve bem quem colheu e, claro está, deu luz muito expressiva o Papa Francisco. Os discursos do Papa e os gestos de simplicidade foram de uma Igreja em saída. Mas também as celebrações, as danças, a estética global. A Igreja, porque se abriu e foi o que é chamada a ser, falou para fora e foi reconhecida pelos mais variados quadrantes como uma casa porosa, capaz de congregar para a paz, para a humanidade, para a essência das coisas.
‘Chamando os bois pelos nomes’, para dentro e para fora da barca que somos, Francisco soube
apontar enganos, recentrar a vida e apresentar sinais de muita esperança. Poderemos elencar os
highlights muito fortes do Papa, que valem por si e apresentam futuro: a Igreja de todos, todos, todos, o olhar para baixo apenas para ajudar a levantar, o encorajamento à superação do medo, o combate ao clericalismo, a devolução que nos é devida pelos privilégios da formação e da educação, a assunção da fragilidade, a atenção aos mais pobres, o último lugar como sítio cristão, etc. Mas, no meio de tantos elogios à Jornada em geral e aos dizeres e ao ser do Papa Francisco, vou destacar um elemento, que pode ter passado mais despercebido e que se revela muito inspirador: o Papa fala pouco de cada vez e na mancha temporal dos discursos, fala uns bons noventa por cento ou mais, diria eu, de forma simples e para toda a gente, para fora (e assim para dentro), com muito pouco paleio beatífico, desse que ainda abunda na barca e que quase ninguém entende (nem fora nem dentro) … e que está gasto, desgastado, cansado…
(…)
Diz a sabedoria veiculada na espiritualidade inaciana que em tempos de desolação não se
tomam grandes decisões. Ora, na Igreja em Portugal e no mundo, depois desta Jornada Mundiais da Juventude em Lisboa, sopram ventos de consolação. Ótimo tempo de mudança, abertura e arejamento, portanto, como profetizado por Francisco no nosso país. Trabalho sério, prolongado, mas urgente. Nada precisa de ser inventado pois já temos um nome para este caminho: sinodalidade vivida, de forma autêntica e aberta. Vamos a isto!”
*
Não temos medo. Refelexões sobre a JMJ e o caminho sinodal
Perfácio de Paulo Portas e coordenação de Rui Sariava. Paulinas. 2023.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 23, 1-12
O trecho do Evangelho que este fim de semana se lê nas missas merece ser colocado na forma de espelho da Igreja. Bastaria que ministros e outros leigos às vezes mais clericais que muitos clérigos, escutassem, interiorizassem e auto-criticassem como mola de transformação, algumas das palavras diretas de Jesus, sempre muito “de pé atrás” com a hipocrisia religiosa: “Gostam de ocupar os lugares mais importantes nos banquetes e os assentos de mais destaque nas casas de oração” ou “é que eles dizem uma coisa e fazem outra. Impõem leis difíceis de cumprir e obrigam os outros a suportá-las, mas eles próprios não fazem nada para as cumprir”. Ganhemos todos lucidez crítica sobre o que a Igreja não deve ser e tentemos aberturas outras, mais verdadeiras, humildes e, assim, radicalmente amorosas…
DOMINGO XXXI DO TEMPO COMUM
L 1 Ml 1, 14b – 2, 2b. 8-10; Sl 130 (131), 1. 2. 3
L 2 1Ts 2, 7b-9. 13
Ev Mt 23, 1-12
Tenho vindo a realizar que deverá ser certo que Deus acolha no seu amor todos os que partem deste mundo (sem prejuízo de poder haver quem, até pós-morte, por imperativo de liberdade, possa recusar esse Abraço). Nas nossas liturgias fúnebres, em particular, ainda estamos muito na teologia de mérito quando o que verdadeiramente salva é a teologia da graça. A misericórdia rasga-se e será excessiva, mais ainda do que já é. Que nós mesmos, enquanto andamos a tentar realizar o sonho de Deus por aqui, nos animemos com o Alegria que já se antecipa.
Javier Melloni, no seu livro “Cristo interior” lança um lastro tão cristão quanto radicalmente aberto e ecuménico, que me descansa, enquanto crente católico Romano: “A Igreja é um jardim de surpresas onde germinam sementes antigas que não germinaram na sua altura mas não morreram, e onde árvores de outrora são hoje lenha esquecida. A Igreja á maior que ele própria, mas não o sabe. Põe limites às suas possibilidades. Sempre o fez e continua a fazê-lo. Mas as sementes do evangelho não sabem destas demarcações e por isso há Igreja para lá da Igreja, como há evangelho para lá do texto e há Cristo a nascer em todo o coração desalojado de si mesmo. O Cristo nascente está albergado em cada interior humano. Há sementes de divindade – o chamamento a viver a existência como plenitude do receber e do dar-se, tal como acontece no interior de Deus – espalhadas por toda a parte. Jesus de Nazaré veio despertar-nos e, desde então, estamos a amanhecer apesar de tanto adormecimento nosso.”