Natal 2011

A todos desejos de Excelente Natal e Bom ano Novo.
Natal talvez nos possa inspirar para encarar o Ano Novo com mais otimismo, fazendo toda a nossa parte no entusiasmo pela vida e na responsabilidade pela justiça e pela solidariedade.
Um olhar alegre e benigno sobre si próprio e sobre cada outro poderá ajudar.
A religião, como desafio “religante” das questões “quem sou eu?” e “quem é Deus?”, ganhará com o recentramento no nascimento que celebramos.

dezembro’ 2011

JP in Espiritualidade Frases 26 Julho, 2018

Natal 2012

Vivemos a festa dum acontecimento que não se sabe ao certo quando e como se deu mas que marcou e marca a nossa vida.

Há incertezas específicas sobre alguns dados desse nascimento mas mantém-se forte e vital a mensagem. Os evangelhos (relatos não jornalísiticos e transportantes da subjetividade de quem os escreveu) podem colher no risco da fé uma notícia relevante: Deus fez-se um de nós e disse (continua a dizer) que quanto mais humanos formos mais somos de Deus (que é amor).
Desejamos neste Natal 2012 que se celebre a festa do amor com toda a sua humanidade: alegria, gosto por receber, gosto por dar, sorriso, tristeza transformada, amizade, festa, comida, partilha, frio que vira calor, pobreza que nos torna sensíveis e generosos, doçura.

dezembro’ 2012

Natal 2013

Que este tempo de esperança (espera) dê a todos coragem e ânimo para um novo ano de vida.
Nascer é sempre risco e oportunidade, beleza e custo, dor e conforto, grito e silêncio.
Perceber (por dentro) e viver a evidência de que toda esta tensão do (re)nascimento é fio para tecer, é a graça que pedimos para todos.
dezembro 2013

Natal 2014

Este nascimento de Alguém que se propõe pobre e não se impõe poderoso, remete-nos para um voto de confiança libertador.
É mesmo da luta entre a violência e a alegria que se trata. A segunda, a alegria, vence profundamente…

Abaixo, fitando o diálogo humanista, vejam-se os versos do não crente
(talvez místico…), Nietzsche:

«Eu dormia, eu dormia,
despertei de um sonho profundo.
O mundo é profundo.
E mais profundo do que o dia imaginava.
Profunda é a sua dor,
a alegria – mais profunda ainda que a aflição.
A dor diz: Passa e perece!
Mas toda a alegria procura a eternidade,
Procura a profunda, profunda eternidade.»

Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra

 

dezembro 2014

Natal 2017

Que este Natal seja inspirador para tomarmos como hóspedes todos os sentimentos, realidades e desafios, interiores e exteriores.
O nascimento de Alguém especial tem nas entrelinhas um convite insuplantável: acolher a realidade como ela é e, a partir dessa radical aceitação, construir na vida de cada instante uma promessa de Esperança.

dezembro’ 2017

Natal 2016

Sabemos que esta missiva é razoavelmente ‘industrial’ e que melhor seria um abraço personalizado a cada um(a).
Entendemos, contudo, que é a forma possível de nos lembrarmos uns dos outros e sublinharmos o que nos une e o que nos mobiliza numa esperança comum.
Sem prejuízo de tal abraço, no corpo, no tempo e no espaço (como se fez e faz no Natal de Nazaré), enviamos as Boas Festas.

dezembro’ 2016

Sexualidade e Afectos

Livro editado pela Plátano Editora

Referência: Jacinta Paiva e J. C. Paiva, Sexualidade e Afetos, Plátano Editora, Lisboa, 2001

Para adquirir o livro contactar:

https://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/sexualidade-e-afetos

Nota: neste blog, pode haver textos constantes do livro, com etiquetas, disponibilizados ‘avulso’.

JP in Educação Livros 20 Julho, 2018

A química das relações: pais, filhos e a escola…

Paiva, J. C, A química das relações: pais, filhos e a escola…. Revista leya-educação (on line), março, 2018.

 

Disponível em https://www.leyaeducacao.com/z_escola/i_376

A química das relações: pais, filhos e a escola…

A química, como ciência das propriedades e transformações da matéria, tem uma das suas bases fundamentais na interpretação de fenómenos macroscópicos (visíveis a olho nu) a partir do comportamento dos pequeníssimos corpúsculos que constituem todo o universo, incluindo cada um de nós. Se ainda não reparou, nós somos química em ação!

Serve o contexto químico acima para nos situarmos – a partir do fascinante mundo da química – no dinamismo daquilo que somos. As analogias da química com a vida tal e qual são impressionantes, não fosse a química a ciência das misturas. Os átomos e as moléculas ligam-se mais ou menos, desligam-se e agitam-se… e assim dançam no tempo. A química espelha, por extrapolação, as relações humanas e aquilo que nós próprios somos: forças, ligações, oposições, atrações, repulsões, transformação, reação… E se nos situarmos na complexa triangulação pais-filhos-escola temos a química no seu esplendor: mistura (às vezes explosiva…) de potencial ligante!

A gestão da distância crítica destas relações entre os encarregados de educação, os seus educandos e a realidade escolar é de grande centralidade. Assim como na química há iões complexos (partículas de carga com estruturas menos simplificadas), assim também este triângulo relacional é, no mínimo, complexo. Temos uma escola aberta e por inerência vital dessa condição que conquistámos e não queremos perder, a escola (então um sistema aberto, como muitos dos sistemas químicos) troca matéria e energia com o que a rodeia.

Talvez possamos refletir sobre a sensibilidade do sistema face ao encontro da distância crítica ótima dos seus vários agentes, por observação dos seus exageros e caricaturas, infelizmente não raros na química das nossas escolas:Há escolas, professores e sistemas educativos (inclusive políticos) que têm medo dos encarregados de educação (se estes forem professores, ainda mais…).
Há encarregados de educação que ocupam demasiado espaço no contexto escolar, protagonizando onde não é suposto e assumindo um papel de policiamento dos professores e da vida escolar, que não é nem justo nem pedagogicamente fecundo.
Há pais com distâncias críticas muito curtas face aos seus filhos e ao seu percurso escolar (umbilicalidade que adia teimosamente a desejada autonomia) e, não raras vezes, muitíssimo preocupados com o contexto académico do aproveitamento e pouco incomodados com o alinhamento ético do que mais importa na educação.
Há encarregados de educação que entendem que “é à escola que cabe educar” e se demitem das mais elementares funções, as mais radicais das quais se praticam na família.

Como em muitos dilemas educativos, casos particulares dos dilemas da vida, procuramos um justo equilíbrio entre dois polos (mais uma vez, em ponte analógica com cargas elétricas em átomos e moléculas): a) há professores que se fecham ou abrem de mais; b) há pais que se aproximam ou afastam de mais; c) há alunos que esperam ou desesperam de mais.

Há quem chame à química a “ciência dos eletrões de valência”. Isto porque nas ligações químicas, os átomos tendem a preservar o seu cerne central e partilhar os seus eletrões (livres) que, em muitos casos, por essa radical partilha, deixam de ser seus. Seria esta uma boa analogia para os pais verem os seus filhos? Serão mesmo livres os nossos descendentes? Muitas vezes, os pais entendem, no plano intelectual, que cultivam a liberdade na educação mas, na primeira oportunidade, prendem-nos em ratoeiras de expectativa, de condicionamento, de narcisismo e de projeção da sua imagem própria (digo que quero que tenhas boas notas para o teu bem mas o que me move verdadeiramente é a minha imagem de pai ou de mãe de filho com boas notas…). Outras vezes os eletrões estão de tal maneira livres (assim acontece nos metais) que são libertinos, não possuem qualquer identidade de ligação e, como tal, não podem ter o toque amoroso de serem cuidados. Tudo isto se projeta nas relações escolares dos encarregados de educação e por tudo isto compreendemos que é tão desafiante quanto enorme a obra da educação. Valha-nos o dinamismo das transformações químicas e a mais elementar humildade e abertura ao crescimento de cada um: para pais, filhos e professores, para todos, educar é educar-se!

JP in Educação Química Textos 3 Julho, 2018

Precisa-se de juventude nas salas de professores

Paiva, J. C, Precisa-se de juventude nas salas de professores, Público, 24/12/2015.

Disponível em

https://www.publico.pt/2015/12/24/sociedade/noticia/precisase-de-juventude-nas-salas-de-professores-1718327

 

 

1. O recém-empossado ministro da Educação é uma pessoa jovem. Trabalhando com formação de professores, tenho verificado, cada vez mais, um deserto de professores jovens. Neste momento em todas as universidades portuguesas não se estarão a formar mais de meia dúzia de estudantes como futuros professores de ciências físico-químicas. Noutras áreas é quase a mesma coisa. Um conjunto significativo de docentes com cerca de 60 anos aposentou-se recentemente, tendo o grosso dos profissionais entre os 45 e os 55 anos. Entrar numa sala de professores de qualquer escola básica e secundária, principalmente nas grandes cidades, suscita-nos preocupação: faltam jovens!

2. A expectativa do decréscimo demográfico no nosso país agudiza este problema. A contabilidade dos alunos por turma com base nos nascimentos dramatizam a situação. O Estado deveria cumprir o seu papel de superar os imperativos dos dados da demografia e as balizas do mercado de trabalho. É em nome do futuro do país e da indiscutível relação entre a educação e o desenvolvimento que o Estado deve antecipar e prevenir uma situação que, deixada ao sabor da actual natalidade e da pressão laboral, conduzirá a salas de professores desertas. Quem está na formação de professores já compreendeu o óbvio: como aconteceu na Inglaterra e noutros países, que tiveram antes de nós um excesso de docentes e agora os importam, faltarão professores no sistema dentro de alguns anos.

3. Mas não é só a falta de professores no futuro que me preocupa. Entretanto verifica-se um hiato geracional e os professores mais antigos não podem transmitir a sua experiência aos jovens professores. Perdem todos. Os professores mais jovens, porque não contactam e não herdam dos seus pares mais velhos a sabedoria profissional. A fruta amadurece melhor junto de outra fruta. Os professores mais velhos, por seu lado, não veem rejuvenescidas as suas práticas letivas e não letivas com novas metodologias e novos entusiasmos. E os alunos, que, com o vazio de uma geração mais próxima da sua, perdem oportunidades de diálogos mais próximos e actualizados.

4. Alinho algumas ideias que podem ajudar a minimizar os danos do envelhecimento do corpo docente. Concentro-me nos ensinos básico e secundário e deixo de fora o ensino superior, que é palco do mesmo problema mas cujo caminho passa pela urgente contratação de mais jovens para as nossas universidades e politécnicos.

a) Incentivar decisivamente o trabalho parcial. Por cada professor com mais de 50 anos que trabalhe a meio tempo ou de outra forma parcial, pode libertar-se quase um horário para um outro professor. Uma das possibilidades objetivas será ampliar a alternativa penalizante da Lei nº 7/2009 de 12 de fevereiro e aproximá-la do permitido pela Lei n.º 84/2015 de 7 de agosto, independentemente da existência de filhos ou netos menores. Dessa forma não se compromete a contagem total do tempo de serviço.
b) Garantir, isto é, não fechar e até sobrefinanciar, se necessário, um número mínimo de cursos de mestrado de formação de professores, nas diversas áreas e zonas do país, com um planeamento eficaz,
independentemente da pressão atual de empregabilidade.

c) Afetação voluntária dos docentes mais velhos a funções de gestão e coordenação, com libertação de horários para jovens professores. À semelhança do que acontece em vários países desenvolvidos, a estes professores mais antigos poderiam ser dadas missões de coordenação de projetos, participação em comissões de inovação, formação docente, acompanhamento de casos difíceis e complexos na escola, etc.

d) No caso das ciências exatas, a ampliação da componente laboratorial e a redignificação do 12.º ano, que tem sido esquecida (a Física e a Química não são obrigatórias para quem vai seguir Ciências ou Engenharia), poderiam conduzir, também, à necessidade de mais horários, onde mais professores jovens, recém formados e com particular robustez, ajudariam.

e) Incentivar projetos de natureza camarária, estatal ou outra para atividades pedagógicas complementares, onde estejam envolvidos jovens professores.

f) Promover de alguma forma, dentro dos limites legais, que sejam favorecidos professores mais jovens em concursos docentes.

5. Se nada for feito, haverá também um desvio colateral nefasto que nos pode custar muito caro: atuais alunos do ensino secundário e superior, com vocação e gosto pela profissão de professor,
poderão ser desencorajados a seguir a via educacional, com medo do vazio de mercado. Este desperdício vocacional pode deixar sem rumo a escola de amanhã. Arriscamo-nos a ter no futuro, quando a necessidade for premente, gente medíocre que se abeira da profissão docente, sem qualquer gosto e inclinação. Tal aconteceu no final do século XX em Portugal, quando foi preciso ter muitos professores para haver ensino para todos.

6. É certo que um ministro da Educação, por mais jovem que seja, sabe que tem diante de si uma das pastas mais difíceis de gerir. É complexa porque praticamente toda a população, de forma direta ou indireta, se interessa e não resiste a intervir, ora de mais ora de menos. É sistémica porque tudo está fortemente ligado. Mexer aqui significa perturbar acolá. É também por isto que, na política em geral e na gestão educativa em particular, será aconselhável que um ministro da Educação faça poucas alterações, mas cirúrgicas e sustentáveis, apontando sempre para o futuro. Mesmo reconhecendo alguns assuntos modificáveis e reajustáveis, será benéfico contar até dez (ou vinte…) antes de entrar nas múltiplas intervenções, reformas e contrarreformas, que deixam o sistema pouco estável e alunos, professores e encarregados de educação cansados de alterações. Nesta escolha de prioridades para a educação, oxalá que poucas, pequenas e possíveis, espero que o novo ministro empreenda o rejuvenescimento do corpo docente. Nada na educação será tão urgente para o presente e nada será tão promissor para o futuro.

Professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

jpaiva@fc.up.pt