Deus tece

Deus não domina, tece…com fios que transportam a nossa própria liberdade.

JP in Sem categoria 20 Janeiro, 2022

não têm vinho…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 2, 1-11 

«Não têm vinho»

O relato do Evangelho que hoje nos inspira diz respeito às Bodas de Caná, onde se saboreia o primeiro carente mas depois abundante néctar do vinho. Podemos fazer uma pergunta de paragem: “que vinho nos falta?” (na família, no trabalho, na rua…). Valorizar esse desejo e tomar nota que não é tendo tudo que se está bem. Não é necessariamente cheio que se está pleno. Há que viver o processo de transformação: assim como o da água em vinho, o da rotina em sabor, o da carência em saciedade, o da morte em vida…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO II DO TEMPO COMUM


L1: Is 62, 1-5; Sal 95 (96), 1-2a. 2b-3. 7-8a. 9-10ac
L2: 1 Cor 12, 4-11
Ev: Jo 2, 1-11

JP in Sem categoria 16 Janeiro, 2022

Também Jesus foi baptizado

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 3, 15-16

Também Jesus foi baptizado

Este gesto de Jesus ‘se colocar na fila’ para o batismo (em teoria, prescindível para o Messias…) valoriza-nos a humildade e a procura de realização no ‘ordinário’ de cada dia. O batismo de Jesus é o mergulho no mundo como ele é, em cada um de nós e nas nossas vidas. A forte simbologia da água marca o sinal positivo do batismo como uma imersão voluntária e comunitária no risco da fé, no usufruto do acolhimento, no amparo da água que limpa, purifica e refresca…

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO do Batismo do Senhor

FESTA
Branco – Ofício da festa. Te Deum.
+ Missa própria, Glória, Credo, pf. próprio.

L1: Is 42, 1-4. 6-7; Sal 28 (29), 1-2. 3ac-4. 3b e 9b-10
L2: At 10, 34-38
Ev: Lc 3, 15-16. 21-22

JP in Sem categoria 8 Janeiro, 2022

Desejo(zinhos) de Ano Novo

Paiva, J. C. (2022). Desejo(zinhos) de Ano Novo. Site Ponto SJ, 01-01-2022.

Disponível aqui

Os típicos leitores destas palavras têm, como eu, pão na mesa, banho quente, médico a quem recorrer e tanto mais. Quem não tem estes mínimos, só pode desejar tê-los. Assim, este artigo pode fazer sentido apenas para os primeiros.

Na entrada do novo ano fazem-se balanços e balancetes, memórias e celebrações. Reinventa-se a esperança e tecem-se propósitos. Vive-se a transição do ano como se deveria viver: em festa.

O ano que termina de 2021 foi duro, talvez até mais duro que 2020. Porque o segundo murro no estômago doí mais do que o primeiro. Uma primeira pandemia tem, na vivência e na leitura, a atenuante do inesperado, a ausência de livro de instruções. As vagas seguintes são extrapoláveis dos gráficos científicos, dos ciclos virais e mutações, mas moem e levam ao grito agora continuado do “nunca mais acaba”. Este ano teve alguns fôlegos, de esperança e de liberdade, como se fossem o queijo e o fiambre de uma sanduiche, do duro pão ressequido de janeiro e dezembro, que o diabo amassou.

Para alguns foram tempos de hospital e até de morte. Para todos foi privação, cansaço, confinamento, menos toque, menos rua, menos prosperidade, mais e diferente trabalho. Também menos frenesim, menos gestos mecânicos, mais tempo em casa com outras pessoas debaixo do mesmo teto. Foram coisas intensas que a vida teima em nos ensinar: temos muito realidade a circundar-nos e tão pouco na nossa mão. Caminhamos com pés de barro numa estrada que nos é oferecida e só a fragilidade comum nos une, de facto. A demanda maior chama-se paciência.

Compreende-se que se peçam coisas novas ao novo ano (escutará ele tais pedidos?): saúde, fim de pandemia, empregos, novos amores e reconciliações. Mas, deste lado privilegiado do mundo, desejo desafiar-me a um só pedido: que eu saiba receber a novidade do Novo Ano e que me encha de alegria viver esse pedido. Se um dia eu soubesse pedir apenas esse sonho maior e sem forma, de me bastar o abraço garantido que me habita…

Os propósitos são típicos desta transição do calendário. Propormo-nos a algo é desde logo uma porta de entrada na mudança. Mas, reconheçamos, tantos propósitos ficam precisamente à porta, aquém, por serem ora ingénuos, ora megalómanos, ora inalcançáveis. Faltam muitas vezes os meios realistas para os alavancar, avaliar e neles progredir para crescer. Um exemplo de propósito comum mas vago seria “tratar melhor do meu corpo”. Melhor será “fazer mais exercício”, mas, melhor ainda “correr dia-sim-dia-não quinze minutos por dia”. Da mesma forma, “escutar mais os outros” é largo de mais e convém afunilar para “telefonar a uma amigo ou familiar uma vez por semana”. Outro exemplo ainda: “não dizer sempre que sim”; terá sentido para algumas personalidades mas poderá ganhar em ser concretizado, tirando da cartola, face a qualquer solicitação, em vez de um sim automático, a mágica expressão “dá-me um tempo, vou pensar, discernir se é oportuno e responder em conformidade” (e abusar desta expressão…). Um dos propósitos mais ouvidos na catolicidade é o propósito de “rezar mais”. Poderá ser mais realista, por exemplo, “parar mais” ou, melhor ainda, “reservar solenemente dez minutos por dia, na hora, na forma e no local mais convenientes, para um espaço de silêncio”.

Talvez baste estar no aqui e no agora, atento ao que se passa, colher cada cheiro, fixar as cores da natureza, ver o rosto de quem se cruza comigo e sentir o renascimento de tantos gestos. Às vezes, eu bem sei, não há ânimo que aguente, não há inspiração no olhar, nem força na algibeira, nem esperança no caminhar. Às vezes morremos. Pois aí está o grande pedido, aí está o cerne do sonho grande, a vacina de que precisamos: acreditar que a morte – as pequenas mortes de tudo e de todos – não são a última palavra. Alguns chamam a isto Ressurreição… e saibamos nós viver para que algo ressuscite em nós: eis o mais cristão dos pedidos.

2022 será também um ano decisivo para a Igreja sinodal. Escuta-se e caminha-se a horizontalidade de uma casa comum. Um sínodo sobre o sínodo é uma redundância deliberada que nos leva a perceber que só o diálogo e o caminhar juntos nos dão sentido, que só se é Igreja em sínodo permanente, hoje e amanhã. Dar vez e voz a cada um foi o que um tal nazareno veio propor ao mundo, algo que o Concílio Vaticano II sublinhou e que será sempre o devir da Igreja que somos.

O que eu desejava desejar para 2022 era que este texto, um dia, fizesse sentido a todos porque todos tinham pão na mesa, amassado também nas minhas mãos.

Bom mesmo seria assumir este ano de 2022 como francamente Novo. E essa consideração de novidade está nas nossas mãos, para além de qualquer teste covid. Que nos bastasse a surpresa confiada de ver novas todas as coisas. Talvez este desejo maior possa ir diminuindo o tamanho do mero desejo(zinho). Talvez isto nos permita ir sendo a Paz a cada dia.

JP in Sem categoria 4 Janeiro, 2022

regressaram à sua terra por outro caminho

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12
«regressaram à sua terra por outro caminho»

Em celebração de “dia de Reis”, já depois do Natal, há vestígios ainda de “conversão”, no melhor sentido dos termos, isto é, como mudança de vida. O simbolismo dos Reis Magos terem “regressado por outro caminho” é forte: significa que aquele encontro especial (com um sentido, com O sentido…) os fez mudar trajetórias. Talvez uma das maiores riquezas da ritualização espiritual seja o radical e sistemático convite à novidade, ao confronto, à mudança de trajetória, ao “regresso por outro caminho”. Na imagem e no âmago da Igreja, nem sempre vislumbramos este espírito de mudança… Era bom cultivarmos interiormente a disponibilidade de nos tocarmos, de nos co-movermos, quando visitamos alguém, quando ensaiamos novos cenários, quando nos entregamos a novos encontros. E, diante dessas novidades, das novidades da vida, alvitrar outros regressos…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

JP in Sem categoria 2 Janeiro, 2022

aniversário…

Vale a pena celebrar os aniversários, embora eu não seja forte na estética desses dias especiais. Melhor quando se faz a festa do agradecimento da vida, recebida e oferecida tal e qual, com tranças de fragilidade e virtude, esperança e desânimo, labor e descanso e tudo mais que tece este valer a pena viver.

JP in Sem categoria 16 Novembro, 2021

Sacerdócio feminino e paciência eclesial

Paiva, J. C. (2021). Sacerdócio feminino e paciência eclesial. Site Ponto SJ, 17-10-2021.

Disponível aqui

Não conseguiria abordar o tema do acesso feminino ao sacerdócio católico romano como assunto único. É tudo muito complexo, sistémico… e ultrapassa-me. Já julgo conseguir explicitar alguns pontos de vista se, a par do tema (e sem tabus) associar o estar em Igreja ou, melhor escrevendo, ser em Igreja. Vamos ao que interessa…

1 Não compreendo – e entendo até não conseguir adivinhar compreender no futuro – este fechamento

Os principais argumentos para eu não conseguir encontrar qualquer obstáculo plausível ao sacerdócio feminino residem em certa antropologia teológica. Neste jogo tensional entre a humanidade e Deus, só consigo vislumbrar uma redenção, uma revelação e uma ressurreição genuinamente universais. Deus é Pai por falta de palavras e conceitos melhores. Mas sabemos que é Mãe, também, e, em última análise, o vertimento amoroso divino não poderia ter peneiras de género. É claro que a realidade dos tempos em trânsito, a começar na força e superioridade anatómicas dos primeiros hominídeos machos, foi impondo uma assimetria, que ainda hoje combatemos. Mas é nos Evangelhos, sobretudo na forma como Jesus de Nazaré se abeira das mulheres (naquele tempo e naquele espaço, particularmente despromovidas) que baseio esta perceção de horizontalidade homem-mulher na proposta cristã, em todas as suas dimensões e, por isso mesmo, também na possibilidade de elas poderem animar e presidir à celebração da fé na eucaristia, bem como administrarem outros sacramentos e terem qualquer função, também estrutural e hierárquica, na Igreja Católica Romana.

Não é este o lugar para o escrutínio sistemático do ponto a que chegamos. Mas a teia argumentatória que abafa anda pelo facto de Jesus só ter tido discípulos mais chegados homens (o que é objetivamente discutível mas, mais relevante ainda, qualquer extrapolação histórica desta índole é ingénua). Ouve e lê-se, também, que para ‘cristificar’ (na eucaristia, por exemplo) teria que se ser homem, como Cristo… Mas um cristianismo profundo, me parece, reconhece o género masculino de Jesus como um “acidente antropológico”. Parece-me que há ainda um baseamento do sacerdócio excessivamente agregado ao sacerdócio milenar pré-cristão, o que não ajuda à emancipação que os nossos tempos demandam.

Há algumas pessoas que me acompanham, pelo menos em parte, no raciocínio interior, invocando, porém, que certa tradição não favorece caminhos de abertura. Eu julgo compreender o valor da tradição, a marca de novidade na continuidade com que se tece a Igreja e a própria proposta cristã. Mas tradição e fechamento, no meu entender, jogam mal. Se a tradição for para fechar e defender, superando a razão e os sinais dos tempos, não consigo acolher.

Tropeço também em argumentos de unidade católica, evidenciando a diferença entre as várias culturas e localidades onde a Igreja está implementada e onde o papel da mulher tem as mais variadas matizes. Compreendo essa diversidade, mas parece-me insuficiente para fechar o diálogo. Os embalos do Concílio Vaticano II (também ele, no meu entender, gérmen não explicito para outro papel feminino na Igreja…) fomentariam uma diversidade na unidade, capaz de dar aos Bispos, em leituras locais contextualizadas, ensaios de maior pendor feminino no seio da Igreja.

É bom clarificar que o facto de termos mulheres a poder presidir à eucaristia, por exemplo, traria mais oportunidades de muitos fiéis (e não é só na Amazónia…) terem acesso a esse sacramento tão fecundo de nos alimentarmos na Fé, para alimentarmos o mundo. Mas, se este artigo fosse um teorema, esta ampliação da oportunidade pastoral e sacramental seria só um corolário, em certo sentido, contingente, temporal e circunstancial. O(s) motivo(s) maior(s) é muito mais cristãmente essencial e amplo…

2- Assim como na ciência e religião…

O caminho que fiz até aqui, a este propósito, tem muito a ver com o diálogo ciência e religião. Parece distante, mas explico: sou um ignorante vindo do mundo das ciências. Talvez por ser químico (que é a ciência das misturas e é epistemologicamente uma disciplina que é muito quase-utilitarista de outras áreas do saber), li algumas coisas e falei com muita gente, principalmente do lado da teologia e da filosofia, para construir um edifício que me fosse coerente no que diz respeito à compatibilidade entre ciência e religião. Embora continuando (mais) ignorante, este exercício corrigiu-me em relação a alguns aspetos sobre a natureza da própria ciência, mas, mais importante ainda, devolveu-me como num bumerangue, resignificações religiosas. Baseei-me em gente ora mais, ora menos suspeita (Chardin, Rahner, Kung, Ratzinguer, Queiruga, Buber, Polkinghorne, Newman, Barbour, Vallina, etc). Nenhuma destas fontes me inspirou diretamente para uma fundamentação favorável ao sacerdócio feminino… mas (aqui está a nuance…) as bases que fui edificando para o exercício de tal compatibilidade entre ciência e religião, e que incluem a não ultrapassagem da razão pela fé, a não literalidade bíblica, o entendimento das Escrituras como livros de revelação e não de explicações, bem como a abertura do espírito e da mente para ler as evidências, entre outras, cairiam como castelos de cartas se fossem tecidas com argumentações congéneres, como as que escuto e leio para fundamentar o fechamento ao acesso sacerdotal das mulheres. A abertura que precisei aqui (ciência e religião) seria uma absoluto buraco negro, se eu usasse pressupostos da ordem dos que se me têm cruzado no contexto da problemática associada ao protagonismo feminino na Igreja Católica Romana… Dito ainda de outra forma: quando me é apresentado um argumento favorável ao fechamento das mulheres ao sacerdócio eu tendo quase sempre a poder elaborar que, se fosse ter tal tipo de condição em conta, no que diz respeito ao diálogo ciência-religião, rigidificaria a argumentação e acabaria num reduto onde não desejo estar: ciência e religião seriam incompatíveis.

3- Mas porque permaneces?

É sabido que, neste momento, na Igreja Católica Romana, o tema do acesso ao sacerdócio por mulheres é um não-tema, assumidamente encerrado para discussão. Na senda de João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco (neste último caso, intuo, como preço de certa sinodalidade e não personalização do poder como serviço), o assunto está fechado… e nem sequer fechado para balanço… Tenho alguma repugnância intelectual pelos fechamentos intrínsecos. O terreno do exercício científico, que tem, no meu entender, sementes de judaico-cristianismo evidentes, habituou-me à abertura como forma de estar, ao estímulo crítico e à positiva provisoriedade das verdades científicas. Admito certos dogmas (certas boias) no que à fé diz respeito. “Deus é amor”, por exemplo, não é verdade que pretenda relativizar e destilar, mas tão só, em fé, acolher e viver. Só que “as mulheres não podem aceder ao sacerdócio” é de uma outra ordem e não merece, definitivamente, o selo de dogma inegociável, nem o estaticismo que a Igreja hierárquica lhe está a conferir… Em síntese, nesta reflexão, são duas, as setas críticas: a não abertura ao sacerdócio feminino e a opção de não abrir o diálogo interno sobre essa mesma circunstância.

Há pouco tempo, fui perguntado num grupo alargado de jovens sobre este assunto. Depois de exprimir o meu ponto de vista, alguém, percebendo o meu sentido crítico e até algum incómodo, perguntou-me porque permanecia na Igreja Católica, discordando deste (como de outros, acrescento eu) dinamismos ou bloqueios semelhantes. A crença vivida na comunhão, mais do que no poder e a prevalência da paz sobre a razão, como ouvi recentemente serem propósitos de alguém que celebrava a vida, inspiram-me à permanência…

Convém também clarificar que esta contenda tem um lado não essencial. Isto é, sem escamotear que os estado das coisas (no duplo sentido de fechamento antropológico e de fechamento dialogante) projeta, no meu entender, carências e incompletudes da Igreja, não é uma crucialidade do meu ser Cristão. Mais ainda, seria ingénuo pensar que, embora desejável, no que a mim diz respeito, mais abertura neste âmbito, resolveria as questões mais estruturais do cristianismo. Julgo que se eu fosse mulher, nada mudaria a respeito da colocação que acabo de expressar. Até porque tudo isto não se coloca a nível do ‘direito ao sacerdócio’, que é em si próprio uma antítese e uma enviesada porta de entrada. O que está em causa – que eu lamento como impossibilidade – seria um encontro para um serviço (nunca um direito). E todos os serviços se propõe e não impõe e muitas vezes é preciso esperar para que sejam acolhidos como uma possibilidade real. A essa espera me sujeito…

4- É sempre e só um ponto de vista, o (curto) meu…

Fica para outra abordagem um tema congénere no espaço público, o do acesso ao sacerdócio de homens casados. Aqui o tema é menos complexo e com facilidade dispensa a reflexão antropológica e teológica, conseguindo-se certa redução a um contexto de problema meramente disciplinar. Intuo que poderei morrer antes ainda da Igreja Católica Romana admitir no seu seio o sacerdócio de homens casados (não religiosos, o que é e será sempre um caso à parte). Mas não mulheres, muito menos mulheres casadas. Talvez não veja, pelo andar da carruagem, tal cenário vivo e implementado nestes anos mais em que poderei ter oportunidade de existir no planeta Terra. Admito e espero, contudo, ao menos, ver em crescendo a relevância da mulher na Igreja, incluindo, de forma óbvia e objetiva, nos seus centros decisórios de poder (de serviço pelo poder, melhor dizendo).

Importa-me ir refletindo o meu posicionamento em todo este dinamismo e os benefícios e prejuízos que o status quo sobre a matéria, neste momento específico da história da Igreja e do mundo, assinalam. Dou graças a Deus por poder expressar (-me), incluindo num meio de comunicação da Igreja católica (o Ponto SJ), de forma aberta e declarada. O que aqui escrevo, convicto mas ao mesmo tempo inseguro, é um imperativo de honestidade intelectual, que, nas minhas limitações, entendo radicado no Evangelho e nas portas universais que a Boa-Nova-de-todos-e-para-todos encerra. Mas é só um ponto de vista, é só a vista a partir de um certo ponto, o meu… Importa-me mais ‘o nosso’, que nem a força nem o poder imporão. Então faz-se caminho e eu aceito esse (lento) caminhar… A vida de fé é, em si mesma, uma espera paciente por um horizonte a que se aspira, que já se vislumbra, mas que ainda não se pode abarcar na totalidade. Se ser Igreja for um caminho comunitário de fé, como julgo ser, pede-me também esta paciência eclesial. No tempo que vivemos, posso até não me calar, e permaneço livre, alegre e pacientemente neste corpo de que quero tomar parte…

JP in Sem categoria 18 Outubro, 2021

AGUENTAR: um verbo tramado em Igreja…

Paiva, J. C. (2021). AGUENTAR: um verbo tramado em Igreja… Site Ponto SJ, 24-09-2021.

Disponível aqui

Tenho simpatia pelo verbo aguentar. A vida, a nossa vida e a vida de cada um de nós, é feita, não só mas também, de muitos “aguentamentos”. Aguentar é permanecer, é ficar quando o vento sopra. É tolerar a tempestade e, por ligação à rocha, manter-se em pé. Jesus de Nazaré, aguentou, e aguentou até à cruz.

MAS (trata-se de um grande mas…) estamos sujeitos a abusar deste verbo. Quando olho a Igreja que somos, neste tempo e neste espaço, pergunto-me se não estamos excessivamente focados (ou tapados?) no verbo aguentar. Este aguentar (para não perder, para não mexer, para deixar estar… a ver se aguenta…), pode implicar derrocadas, entre hoje e, sobretudo, amanhã. Perdas não só de abrigo, como de fundação. Existe uma expressão popular que aqui e ali assenta como uma luva nas atitudes que tendemos a ter face a certos desafios eclesiais: “atirar com a barriga para a frente”, esse deixar correr que adia a decisão corajosa.

A Igreja encontra-se numa encruzilhada muito original, que a crise pandémica agudizou ou exibiu em maior extensão e profundidade. Há neblina sobre o próprio devir eclesial. Apesar dos esforços evidentes e fecundos do Papa Francisco, colocando em andamento as inspirações do concilio Vaticano II, há resistências, principalmente internas, que minam a ação. Mesmo as pessoas que entendem estarmos num tempo novo e face a novos desafios, carregam a pressão dessa reatividade resistente, e impera o receio de arriscar e a falta de coragem, preferindo-se…aguentar. Há dois vírus que a Igreja carrega ao longo do tempo, que serviram para aguentar, mas que, tão feliz quando dramaticamente, se estão a tornar insuportáveis: o medo e o controlo.

Alinho abaixo alguns (apenas alguns) aspetos da nossa Igreja que, em muitos cenários e horizontes, me parecem estar a ser encarados com demasiado ‘aguentamento’. O elenco poderia ser mais vasto e é aqui apresentado telegraficamente, sendo que seria merecido, em momento ulterior, aprofundar cada um dos itens:

1.Uma catequese com modelos pedagógicos falidos
Os modelos catequéticos “curriculares”, mimetizando a escolaridade, com a tríade batismo/primeira(ou última?) comunhão/crisma terão mesmo de ser questionados. A aproximação mecânica das famílias a este modelo tem gerado infecundidades gritantes. Fazer o mesmo porque sempre se fez assim é radicalmente insuficiente.

2. Uma “concorrência” feroz para proporcionar encontros com odor de Evangelho, principalmente aos mais novos
Como uma quase fatalidade, é hoje dramaticamente desafiante oferecer alternativas a tantas possibilidades de encontros que se geram fora do espaço tradicional da Igreja. É certo que o lugar da Igreja é o mundo, mas as ofertas que este tempo coloca no horizonte, incluindo nas redes sociais, torna tudo muito mais complexo.

3. Um dinamismo celebrativo à espera de mais rasgo, beleza, silêncio e simplicidade
Há um espaço tensional nas celebrações católicas romanas. Uma rica tradição, que não se pode perder, é muitas vezes, vivida com defensividade, como se manter tudo na mesma fosse sinal de conservar. Há que reconciliar esse embalo milenar positivo com a renovação necessária, também na festa da missa. A simplificação litúrgica, em particular, potenciada com dinamismos mais horizontais e momentos de silêncio, menos centrados em quem preside, são caminhos menos percorridos.

4. Um clericalismo teimoso, de muitos clérigos e leigos
São muito persistentes os sinais de clericalismo, na consciência interna e na ação eclesial de muitos de nós. Um dos aspetos gritantes é a forma típica como se responde à falta de padres ou à situação (frequente, como sabemos) de padres desajustados a certa realidade paroquial/pastoral. O ‘tique’ mais típico é “partir padres ao meio”. Muitas vezes, nas (não) decisões, pondera-se mais o padre em si (onde vamos colocar este sacerdote?) do que a comunidade no seu todo. São radicalmente tímidas as iniciativas de promover a liderança laical de comunidades, com novos enquadramentos de garantia de unidade aos Bispos e ao Papa.

5. Uma sinodalidade duvidosa, onde a escuta se arrisca a ser um procedimento estéril
Não há forma de se ser Igreja, hoje, senão em chave sinodal. Promover uma escuta efetiva de todos e para todos, que tenha depois contra-feedback, reflexão desapegada, “amassamento” dos contributos no Espírito, caminhos e ação. De Roma, nos nossos tempos, aparecem, felizmente, gritos fortes de desejo sinodal. Alguns, mais longe dali, resistem a dar valor a este (único) estilo de ser Igreja.

6. Falta de iniciativas e experiências originais
Seria bom que os bispos usassem da liberdade de ensaiar e as comunidades, por sua vez, tivessem liberdade para essas mesmas iniciativas. Seriam processos, janelas, pequenas respostas, insights vertidos no tempo e no espaço… que depois, claro está, teriam a respetiva avaliação e eventual reformulação/replicação.

Disse no início desta reflexão que Jesus de Nazaré, aguentou, e aguentou até à cruz. No alinhamento do que as palavras foram tecendo, prefiro terminar assim: Jesus de Nazaré, que foi até à cruz, amou e ama, abriu e abre janelas de luz e de esperança. Mas encarnou para amar, não para aguentar. Aguentar é um meio (não o fim) do sonho de Deus maior: a liberdade do próprio amor. Para isto existimos. A Igreja existe para proporcionar este encontro de todos com a livre liberdade do amor. Para construir essa Igreja não podemos deixar de olhar com esperança a abundância que semeia em todo o lugar. Mas cabe-nos um trabalho e fazer render talentos de mudança criativa. Aguentar, definitivamente, é excessivamente defensivo e insuficiente!

JP in Sem categoria 4 Outubro, 2021

Eu e a dona Aurora: ambos cegos tateantes

Paiva, J. C. (2021). Eu e a dona Aurora: ambos cegos tateantes. Site Ponto SJ, 6-06-2021.

Disponível aqui

Noutro dia vinha da feira, a pé, numa caminhada de uma horita. Coisas da vida aldeã. Uma rampa enorme apresentava ao longe uma senhora vergada, puxando um carro de compras com uma mão e arrastando-se com uma bengala na outra mão. Impressionava a sua resiliência. Ofereci-me para levar o carrinho até sua casa, imaginando que morava no topo daquela colina. Hesitou primeiro, deixou depois. Explicou-me onde morava, lá deixei as compras e segui viagem. A partir daqui é imaginação.

Quando a dona Aurora chegou a casa, aliviada, mas mesmo assim cansada, tomou um copo de água, suspirou, sentou-se no sofá e rezou: “agradeço-te, Senhor, por me teres enviado um anjo que me trouxe as compras e me aligeirou o jugo”.

As intercomunicações celestiais entenderam por bem informar o próprio anjo, eu mesmo, daquela prece. Comecei a processar aquela informação, não tanto por ter sido eu o anjo. Porque às vezes também sou mafarrico e porque os anjos é que lucram, mais do que os que são alvos das suas setas. A minha matutatação era intelectual, teológica, cosmovisionária. Permito-me partilhá-la – tal matutação – não tanto pelo seu processo, não tanto pela tese em si, mas pela sua explicitação final. É no ponto de chegada, que dá título a esta reflexão, que pode morar alguma centelha.

A dona Aurora imagina o Céu onde Deus monitoriza o mundo. As cortes do paraíso estão ao serviço do Senhor, que manda aqui e ali fazer alívios e intervenções, curas e auxílios. Fosse Aurora extrapolada culturalmente para adiante e imaginaria uma central robótica cosmocontroladora, com câmaras de filmar expiando todos os passos e cabelos do mundo. Uma panóplia de circuitos integrados que ativariam vários anjos, para as ações que comprovariam os sinais divinos.

Ora eu tenho outra cosmovisão, outra teologia e outro entendimento da ação de Deus no mundo. Impressiona-me o mal e o bem, a ferida e a bênção, a dor e beleza, a morte e a vida. Mas há um traço de liberdade, do horizonte do risco de Deus, que é mistério, mas que existe. É o resultado prático desta vida que vale a pena e que resulta da fé de Deus em nós e no mundo, amorosamente criado para todos. Deus arrisca. Arrisca fazer de homens anjos, arrisca a liberdade de todos e de cada um. Arrisca até o pulsar da natureza e do cosmos. Por isso a Terra treme e os vulcões bufam. Arrisca a dor da fricção das vontades e dos corpos. E há acidentes… Arrisca convocar-nos. Cria e está mas, ao mesmo tempo (que paradoxo!), deixa ar para o respiro da liberdade. Mais ainda, convoca homens e mulheres para construir o Seu sonho e não se impõe e talvez nem sequer peça, antes se propõe. Por isso também há doenças mas há quem salve (e se salve…) curando-as… É também por isso, porque Deus só pode o que o amor pode e o amor tece-se da íntima liberdade, que há faltas de comparências de anjos em muitos teatros de incompletude. Em alguns desses cenários de injustiça, falto lá eu… e com culpa.

Deste meu constructo – sim, talvez fruto da razão, do fluxo greco-latino, do iluminismo, da ciência, da cultura deste tempo – sai também alguma ‘cerimónia’ na petição a Deus e na forma como reconheço os Seus sinais na minha vida e no circo onde se movem as criaturas humanas. Não peço que me apareçam anjos nem que as doenças me larguem. Não peço chuva na seca nem sequer que o covid19 se vá embora. Posso desejar alívios, mas impõe-se-me esta abertura ao que vem, de mãos vazias. Impõe-se-me pedir para receber o tudo em nada e o nada em tudo. Impõe-se-me pedir que veja mais longe, que respire mais puro e que alcance mais alto, tanto na saúde como na doença, tanto na riqueza como na pobreza, tanto na honra como na desonra. Peço por mim e por todos, peço certa salvação e a nossa salvação. Peço para saber estar no silêncio e na soledade de hoje e de amanhã. Peço paz, adesão, fidelidade, coragem e alegria. Peço para saber pedir nada. Portanto peço.

Poderei mudar os meus horizontes mas, provavelmente, não vou mudar radicalmente a minha forma de ver o mundo, a minha forma de rezar e pedir, a minha forma de me entender e abraçar o que existe. Eu e a dona Aurora vemos o mundo de forma diferente, por isso também Deus e as coisas de Deus sobre o mundo. Somo flores diferentes de um mesmo jardim, ângulos diferentes a olhar um mesmo destino. Somos mundo, somos comunidade, somos porventura Igreja (com I grande e aberto), eu e ela. Nenhum melhor que o outro, ambos cegos tateantes de um Deus que se não consegue dizer. Somos anjos que se cruzaram num instante de paraíso.

JP in Sem categoria 30 Agosto, 2021

Oportunidades no digital: subtilezas do ‘desinstalar-se’

Paiva, J. C. (2021). Oportunidades no digital: subtilezas do ‘desinstalar-se’. Site Ponto SJ, 13-08-2021.

Disponível aqui

Esta reflexão nasceu de elaborações que tenho vindo a fazer a propósito da reação a uma proposta de abertura a formatos mistos presencial/digital, em dinamismo de comunidades cristãs. Embalado pela simpatia dos modelos mistos (presencial/digital) provocados, oferecidos, ensaiados e vividos em tempo de pandemia, parece-me um bom caminho tirar proveito e recomeçar criativamente, superando o mero “voltar ao que era antes”.

Diante da mudança e da novidade, em geral, há inércia e reatividade. Tudo compreensível, nos planos antropológico, psicológico e social. Mas pergunto-me se o Evangelho, nos detalhes e nas traves-mestras, não traz uma insinuação contrária, mais desafiante: precisamente a impressão digital da boa-Nova.

A pandemia trouxe novos formatos de possibilidade para algumas vivências comunitárias, mas há quem tenha receio da novidade que a novidade pode ter trazido. Nas entrelinhas da argumentação reativa, quase sempre, vejo sinais de medo: o medo de que venha a ‘ser uma balda’, o medo de perder o já conquistado, o medo de não ser como era dantes, o medo de perder o controlo, o medo da novidade…

O desinstalar-se…

Algumas reações a estas oportunidades são curiosas e até projetivas…

De todos os argumentos mais reativos aos formatos mistos presencial/digital na vida das comunidades cristãs, o que mais cócegas me faz é o que invoca a necessidade de nos desinstalarmos. Pode estar cheio de aparências de bem…

Aprecio a expressão ‘desinstalar-se’, neste sentido de evitar o sofá da vida humana… Entendo até (não sei se é consensual…) que é no plano da existencialidade mais profunda que o perigo da instalação se alimenta. Compreendo a instalação de Marta no fazedismo de muita coisa, mas é talvez no modelo de sua irmã Maria, que o convite à novidade da escuta aberta é mais radical. O que será desinstalar-se?

a) Subtilezas de certa teologia da cruz e do mérito
A ideia de que a experiência em sacrifício vale mais do que a menos dolorosa tem as suas razões, mas muitas sombras. Está claro que dar a vida (fundamento último da liberdade cristã) pode demandar esforço e dor (no limite dá morte de cruz…), mas o horizonte nunca é a cruz, é o amor que vai até à cruz. Por isto mesmo, no dia-a-dia, o que importa é o amor posto em cada gesto, não o que marca o ‘sacrifiquímetro’, esse aparelho imaginário que mede o grau de sacrifício com que cada atitude se desenvolve, que alguns de nós, crentes, teimamos em trazer no bolso… A par de certa desfocagem da cruz, vem quase sempre o mérito, a ideia de que colecionando sacrifícios, teremos as medalhas para ir para o Céu. Só que o Céu, mais ainda aquele Céu que se vive no tempo e no espaço oferecidos, é uma dádiva, apriorística e garantida. O mérito que a dádiva dá (redundância deliberada) pede à nossa liberdade o “sacrifício” da aceitação de tamanho amor.

E o que tem isto a ver com encontros mistos presencial/digitais? É que alguns argumentos de reatividade, mais ou menos explícitos, estão nas entrelinhas de um insinuante sacrificialismo: vens cá presencialmente e não digitalmente; vestes-te e não estás de pijama; vais meter a criança nos teus pais e não a deitas já na sua cama; vives na cidade e estás perto do ruído urbano, não no campo; abandonas o conforto do lar e desinstalas-te na saída de casa; sofres como eu sofri a logística para vires presencialmente a todos os encontros; não estás a ler um livro até cinco minutos antes da reunião e perdes uma hora no trânsito e poluis, etc. A metáfora “se dói muito, então vale mais” tem muito de criticável em sede de terreno cristão…

b) A presencialidade física como condição necessária pode ser fuga
Há depois uma outra nuance, com que cada um se poderá ver ao espelho, sem máscaras. Face a um dilema de estar presencialmente ou virtualmente numa reunião, a ida presencial é necessariamente mais virtuosa? Pode ser… mas pode não ser. Pode ser sinal de fuga, de quem não tem vida interior, de inquietude, de compulsão convivial. Não confundir nada disto, claro está, com a legítima saudade e positiva prática de encontro corpo-a-corpo, de abraço e de movimento, de toque e de cheiro. Quem escreve estas linhas, que fique claro, aprecia, pratica e promove tais encontros plenos de fisicalidade… mas admite que eles sejam intercalados com o encontro virtual, para benefício flexível de todos e para bem do planeta…

c) A tradição, mais uma vez a tradição…
Também de forma mais ou menos velada, aparecem argumentos reativos de certa tradição: sempre foi assim… E sempre nos sacrificamos pela fidelidade presencial. No passado assim foi, no presente e no futuro assim será… Compreendo o valor da tradição, mas sem leitura crítica não vamos lá. Uma boa analogia envolvendo a tradição misturada com o sacrificialismo seria a ideia de uma Mãe que, diante da sua filha grávida, prestes a dar à luz, lhe dissesse: no meu tempo não havia epidural, portanto trata de fazer nascer a criança com dor. Com mais ironia (embora eu mesmo veja valor e pratique o retorno à terra) pergunto-me se não seria de ponderar ter um porco na varanda em vez de ir comprar febras, para isto voltar ao que era…

Entre gente madura, é o discernimento na pluralidade que vale

Está claro que há necessidade do elemento presencial. Com alguma organização e agendamento, alguma da fisicalidade inexpurgável dos dinamismos comunitários (não só, mas também os cristãos) pode ser concentrada em determinadas circunstâncias. No entre-tanto, estou mesmo convencido disto, seria ótimo criar condições para os encontros mistos (presencial/digital) precisamente “à vontade do freguês”, diga-se sem receios. Claro que “à vontade do freguês”, numa versão madura, é o sagrado discernimento pessoal da melhor conveniência sistémica. E aqui, no melhor dos sentidos, cada um sabe de si, não havendo lugar a juízos mais ou menos morais sobre as respetivas justificações. A propósito de justificações, aliás, tenho uma versão muito própria e radical sobre justificações de ausências a encontros de comunidades cristãs: prescindo delas! Sou um admirador e julgo que praticante da assiduidade, mas confrontado com justificações de ausência, minhas ou dos outros, fico meio sem jeito e convoco aquela máxima que ainda sinto na pele: quanto mais te justificas mais te “enterras”, porque muitos ‘não posso’ são ‘não quero’. O caminho, claro está, é assumir as preferências.

Ainda a propósito de fidelidades a dinamismos grupais há uma nota curiosa que, embora pessoal, me parece merecer alguma consensualidade: a assiduidade e a pontualidade subiram radicalmente nos encontros virtuais em tempo de pandemia. Se assim é, pode ser auspicioso que assim continue nos formatos mistos de hoje e amanhã…

Uma referência assumidamente prática, mas importante: nos encontros mistos, há que tratar muito bem do aspeto tecnológico, para que quem está presencialmente escute e se faça entender junto de quem está mediado digitalmente. Do ponto de vista do som, há que cuidar de ter um bom telemóvel ou computador, ou, melhor ainda, de dispositivos mediadores de som associados próprio para videoconferência. Sem este cuidado técnico, pode comprometer-se a funcionalidade dos encontros mistos, que são tecnologicamente mais desafiantes que os encontros digitalmente puros (zoom e companhia…).

Deverei fazer uma declaração de interesses, no sentido de assumir uma posição algo extremada na simpatia por algumas interações digitais, em virtude do meu estilo de vida (não urbano) e das possibilidades e aptidões tecnológicas que fui experimentando. Mas, descontando essa suspeição, fica o convite à pluralidade livre e discernida…

Uma referência última, algo sintética em si mesma, ao medo que a “a moda pegue” e que todos optem pelo “mais fácil do digital”. É isso mesmo, um medo… que pode conter uma insinuação moralista, mais ou menos consciente, de certo controlo, receio de novidade e falta de confiança.

Que cada um e cada comunidade encontrem o seu processo, sem tabus e sem moralismos. Que se abram e não fechem portas. Tudo com muita paciência e alegria!

JP in Sem categoria 18 Agosto, 2021