nisto toda a gente vos reconhecerá como meus discípulos: se tiverem amor uns pelos outros

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 13, 31-35

“Nisto toda a gente reconhecerá que vocês são meus: discípulos: se tiverem amor uns aos outros”

O toque do discípulo (porque amigo) de Cristo é, no embalo do Evangelho, o amor recíproco. Convictos disto- até porque o sabor da vida o enfatiza – os cristão terão aqui um filão de exame de consciência muito acutilante. Seremos reconhecidos, na família, no trabalho, na rua, pelo amor recíproco? Particular lastro autocrítico merece o olhar para dentro da própria Igreja: a sua vida e os seus membros, são reconhecidos pela interioridade vital do amor recíproco? ou por exterioridades como vestes, ritos, palavras vãs ou precários poderes?…

DOMINGO V DA PÁSCOA


L1: At 14, 21b-27; Sal 144 (145), 8-9. 10-11. 12-13ab
L2: Ap 21, 1-5a
Ev: Jo 13, 31-33a. 34-35

JP in Sem categoria 14 Maio, 2022

Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 10, 27-30

«Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me»

A metáfora de Jesus como pastor aparece de muitas formas nos Evangelhos. O Papa Francisco, encorajando os padres enquanto pastores, apelava ao sentido do olfato, para recomendar aos pastores da Igreja que “cheirem” aqueles com quem se relacionam na comunidade. Trata-se de um convite à abertura real face aos problemas do outro, condição base para que se possa atender e servir. Posto que em era pós-conciliar está reforçado que todos somos sacerdotes em Igreja, e, assim, todos pastores de um Pastor congregador, temos um convite universal a “cheirar” o outro, no sentido mais óbvio e fecundo, que é aquele de emprestar os sentidos a uma relação cuidada e cuidadora.

NOTA: Este artigo é repetido/adaptado de um outro já publicado neste blog

DOMINGO IV DA PÁSCOA

L1: At 13, 14. 43-52; Sal 99 (100), 2. 3. 5
L2: Ap 7, 9. 14b-17
Ev: Jo 10, 27-30

JP in Sem categoria 8 Maio, 2022

Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 21, 1-19

«Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes»

Os tempos litúrgicos pós-Páscoa relatam-nos sucessivas (re)aparições de Jesus aos discípulos. Permito-me relevar (dar importância secundária…) ao dilema hermenêutico-teológico de saber se apenas os discípulos “viram e comeram com o Senhor” ou se existiu uma fisicalidade síncrona espaço-temporal dos acontecimentos relatados nos evangelhos. O mais importante para a fé, penso, é penetrar vivencialmente nestas duas dimensões: 1- Deus revela-se na abundância (de peixes); 2- Deus radica-se no mais ordinário e essencial, em ciclos de vida dinâmicos e de dádiva (comer). Se “pescássemos” e “comêssemos” com este ‘toque de ressurreição’, a vida poderia ser mais intensa…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO III DA PÁSCOA


L1: At 5, 27b-32. 40b-41; Sal 29 (30), 2 e 4. 5-6. 11-12a e 13b
L2: Ap 5, 11-14
Ev: Jo 21, 1-19 ou Jo 21, 1-14

JP in Sem categoria 30 Abril, 2022

guerra e covid

A crise pandémica covid19 parece-me estar para a atual guerra como uma formiga para um elefante, no que diz respeito à (des)organização do mundo. Ambos os desafios nos desinstalam e para ambos há custos e preços como sombras, onde só o amor pode trazer luz…

JP in Sem categoria 28 Abril, 2022

Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 22, 14-23, 56

«Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa»

Em domingo de Ramos, os cristãos recordam o trajeto final da vida de Jesus, que antecede o fulcro da Sua entrega radical. O início do texto longo que hoje se medita nas celebrações poderia marcar toda a leitura da Páscoa: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa”, isto é: falo-vos, vivo e ofereço-vos, a cada um de vós, um Deus que se quer relacionar, que quer estar, que se propõe “entranhável” na vida ordinária, no ‘comer’. Um Deus “comestível”, poderíamos dizer, numa linguagem tão ousada quanto eucarística…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO DE RAMOS NA PAIXÃO DO SENHOR


L1: Is 50, 4-7; Sal 21 (22), 8-9. 17-18a. 19-20. 23-24
L2: Filip 2, 6-11
Ev: Lc 22, 14 – 23, 56

JP in Sem categoria 10 Abril, 2022

Graça

Von Baltahsar sublinha a importância da Graça, “espetacular e despudorada”, nas suas palavras. A fé é sempre reconhecer um amor que já nos rodeia e habita.

JP in Sem categoria 4 Abril, 2022

quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 8, 1-11

«Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra»

A história da mulher adúltera é das mais expressivas da vida de Jesus. Revela facetas da sabedoria cristã (desmontagem da cilada dos fariseus) e de grande misericórdia (“também eu não te condeno”). A analogia popular de que quando apontamos aos outros um dedo, são três dedos que se apontam a nós, pode ser convocada: todo o exercício critico pode ser feito com consciência autocrítica. Não julgarmos os outros sem estarmos atentos às nossas próprias fragilidades é um bom caminho para viver uma lucidez crítica misericordiosa.

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado anteriormente, neste blog.

DOMINGO V DA QUARESMA


L1: Is 43, 16-21; Sal 125 (126), 1-2ab. 2cd-3. 4-5. 6
L2: Filip 3, 8-14
Ev: Jo 8, 1-11

JP in Sem categoria 2 Abril, 2022

Da invasão da Ucrânia: recados a mim mesmo…

Paiva, J. C. (2022). Da invasão da Ucrânia: recados a mim mesmo… Site Ponto SJ, 21-03-2022.

Disponível aqui

Como muitos de nós, dei comigo absolutamente tomado pelos últimos acontecimentos na Ucrânia, na Europa, no mundo, em todos e em cada um de nós. Embora meio em choque, a quente, refleti e escrevi sobre o que me pareceu mais relevante na tensão entre a guerra e a esperança. Volvidas algumas semanas sobre a invasão, verto em escrita partilhada alguns recados a mim mesmo:

Informado mas recolhido
Cheguei a estar horas a fio preso à televisão. Foi uma reação natural mas cuja desintoxicação, ainda em curso, carece do meu trabalho. Hoje em dia, com resistência interior, imponho-me não ler mais do que alguns artigos de jornal por dia e tomar apenas um dos telejornais. Em chave autocrítica, o que eu perdi nos primeiros tempos foi a qualidade do tempo de recato e oração. Cheguei a quebrar alguns rituais de paragem e noto bem o preço que paguei, eu e alguns outros, que me suportaram mais hiperativo, mas ao mesmo tempo cansado, tenso, irritado e com menos rumo. Interpreto com naturalidade este desnorte: eu já sabia que a existência era contingente, que a crueldade pontuava, que nada era garantido, que a liberdade projetada na fé de Deus em nós tinha um preço. Mas aqui, tudo isto, que aparece em pequenas doses na nossa vida, está em formato do shot. Absorvido este excesso, sinto um apelo a uma qualquer pós-ressaca. Não tenho neste momento a meu cargo sistemático crianças e jovens em processo educativo. Sei bem, porém, a criatividade e a atenção que, nesta tensão entre a informação que traz a verdade incontornável e a moderação, há um desafiante discernimento.

Atuante mas contemplativo
Com uma razoável impulsividade, que certamente inclui bondade, mas que terá o seu quê de mecanismo de fuga e inquietação, envolvi-me com outras pessoas na mobilização de redes solidárias para o acolhimento de refugiados ucranianos. Compreendo-me a esta distância, mas sublinho a fragilidade maior neste caminho: não raras vezes, perdi a noção da positividade e do sentido. Tomado por certa urgência, real ou antecipada, o que me faltou e desejo retomar com mais força, é esse olhar que não prescinde do belo. E o horizonte contemplativo é parte não descartável, como aponta a metáfora evangélica de Marta e Maria. O fazedismo sempre foi tentação minha e notei-o exacerbado estes dias…

Generoso mas prudente
No contexto nacional, o processo de acolhimento de migrantes ucranianos é um misto generosidade, voluntarismo, emoção, eficácia, improviso, planeamento, racionalidade, ingenuidade, ação, coração, etc. À medida que o tempo passa, a tendência é para moderar e amparar os caminhos, tentando conferir sustentabilidade aos processos de acolhimento. Ao gesto generoso se deve somar o amparo jurídico, a tentativa de dar lastro institucional, o olhar e a concretude que dão futuro ao gesto de acolher. E tudo isto pede algum tempo. Nem sempre estive munido deste equilíbrio. Quando a emoção avulsa e certa pressa tomou conta das ocorrências, o processo fragilizou. Ir buscar gente à fronteira da Ucrânia sem contexto institucional, legal e sem avaliar as condições para o respetivo acolhimento, é o exemplo típico de alguma imprudência. Do ponto de vista pessoal será inspirador, nas ofertas de bens e vontades, contar armas, metáfora irónica neste contexto… Não convém também, como me aconteceu bastas vezes, alimentar autopressões mais ou menos morais, sobre o pouco que faço: a caridade, como a nossa fé, é sempre pequena… e há que conviver bem com isso. Quem se mete nestas coisas da solidariedade sabe que as surpresas acontecem, que a expetativa deve ser gerida (e principalmente baixada, até zero, no melhor dos sentidos). Por vezes, diante de joio que vinha no meio do trigo, cheguei a pensar “onde eu me meti, mais valia ter ficado no sofá”. É tentação pura, e o caminho, quando algo corre menos bem, é dar melhor e não deixar de dar.

Comunicante mas contido
Notei-me muito falador e pouco escutante. Em qualquer conversa, emito… e falo sobre a guerra. Digo-me otimista mas muito preocupado. Especulo, filosofo (baratamente…), adivinho futuros. Medos… Este é um dos aspetos que existia antes da guerra: sou um dos distraídos que despreza o ouvido em favor da boca. Recomendo a mim mesmo, principalmente agora, mais silêncio e mais escuta. E se gosto de falar (porque gosto), pois que espere pelas perguntas dos outros. Meu jejum mais preciso é o da palavra.

Colhido pelo facto mas aberto ao quotidiano
Perante o compreensível mergulho na realidade que nos engole, é muito importante ir retomando alguns gestos. Sem tal significar distração ou anestesia, a vida continua e isso é uma das respostas à brutalidade deste tempo. Abandonei durante três semanas o cuidado da horta e a remoção das daninhas de hoje fez-me refletir com algum sentido autocrítico. A natureza ensina…

Realista mas esperançado
Há desafios neste cenário, nos planos das ideias e da ação, que são duma complexidade extrema. Quando analogicamente penso num matulão numa escola em bulling violento ativo, e na forma como eu, se pudesse, o travaria (usando força, bem entendido), fico partido diante da convicção de não responder à guerra com a guerra e, ao mesmo tempo, sensível ao justo pragmatismo de uma paz mundial (ainda) armada. O que fui vivendo nestes tempos, em dança de moções, levou-me variadas vezes aquilo a que poderia chamar recomeços amorosos. Recordo com inspiração as máximas de Santa Teresa (mais contemplativa) ou de Teresa de Calcutá (mais ativa, mas mística nos seus desertos), sempre apontando para a grande pequenez do amor. Nas guerras maiores, o elixir é o mesmo das guerras menores: salvar-me-á sempre, a mim e a todos, o amor que falta. O amor que somos chamados a derramar no espaço e no tempo, também e principalmente neste instante incerto.

JP in Sem categoria 30 Março, 2022

deixa-a ficar ainda este ano, que eu vou cavar em volta e deitar-lhe estrume. Talvez assim dê fruto.

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 13, 1-9

“Deixa-a ficar ainda este ano, que eu vou cavar em volta e deitar-lhe estrume. Talvez assim dê fruto”

O cerne desta passagem do Evangelho é a oportunidade. A constante e quase desconcertante oportunidade… Na dimensão espiritual é oportunidade que Deus sempre dá à humanidade e a cada um de nós. A natureza é prodigiosa em reproduzir os ciclos de vida humana… e divina. Há anos em que as árvores não dão frutos. Mas com oportunidade, paciência, trabalho e dedicação – talvez com confiança, também… – o fruto pode aparecer numa Primavera que virá. A convocatória é sempre para o treino da espera, para o treino da esperança… A Criação é contida no arrancar as figueiras que somos da oportunidade do tempo que se enraíza na Terra…

DOMINGO III DA QUARESMA



L1: Ex 3, 1-8a. 13-15; Sal 102 (103), 1-2. 3-4. 6-7. 8 e 11
L2: 1 Cor 10, 1-6. 10-12
Ev: Lc 13, 1-9

JP in Sem categoria 20 Março, 2022

enquanto orava, alterou-se o aspecto do Seu rosto

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 9, 28b-36

«Enquanto orava, alterou-se o aspecto do Seu rosto»

A transfiguração de Jesus é algo que fascina e perturba os Seus companheiros, como nos fascina e perturba também a nós. A transfiguração simboliza uma passagem, uma ponte, uma Páscoa, entre o provisório e o definitivo, entre o humano e o divino, entre “o hoje” e “o sempre”, de alguma forma, entre a transcendência e imanência. Uma ideia que podemos levar para a vida, é o entendimento de que vivemos para, também nós, nos transfigurarmos. Pelo amor, pela forma como olhamos e vivemos, cada um de nós se vai transfigurando e vai sendo ator da transfiguração do mundo, querida e sonhada por Deus…

NOTA: Este texto é repetido/ajustado a partir de evento já publicado neste blog anteriormente.

DOMINGO II DA QUARESMA


L1: Gen 15, 5-12. 17-18; Sal 26 (27), 1. 7-8. 9abc. 13-14
L2: Filip 3, 17 – 4, 1 ou Filip 3, 20 – 4, 1
Ev: Lc 9, 28b-36

JP in Sem categoria 12 Março, 2022