exame de consciência
Uma boa interpretação do exame de consciência, sem excluir a razão e a memória, é entendê-lo como “re-cordar” = re-viver com o coração…
Uma boa interpretação do exame de consciência, sem excluir a razão e a memória, é entendê-lo como “re-cordar” = re-viver com o coração…
A primazia da confiança, na existência humana, na ciência e nas religiões, é uma pedra angular. O Beneditino Santo Anselmo, já no século XII, afirmava não buscar conhecer para acreditar mas antes crer para conhecer. Percebe-se que ninguém consiga existir sem confiar em alguém. Percebe-se que a ciência só se desenvolve na rede fiduciária duma realidade existente e cognoscível. Percebe-se que a fé é mais crer para ver do que ver para crer…
A fé bem nos poderia ajudar a uma espontânea descrição e não “pavonice”: é que, em rigor, não precisaríamos de dizer que somos importantes porque o somos garantidamente à luz de um Deus-Bondade que nos ama à cabeça, que nos encontra como únicos… e importantes… Boa malha para evitar as nossas autopromoções…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 26-33
«nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se»
A frase do Evangelho de Mateus é acutilante para nos colocar centralmente na preferência óbvia pela verdade, pela luz, pelo esclarecimento, pela transparência. Uma das mais radicais fragilidades da Igreja, das famílias cristãs, dos grupos católicos e de muitas relações humanas é a ignorância vivencial deste convite pela luz em cima da mesa. O resultado é catastófrico: porventura “embalados” com leituras parciais e enganosas das escrituras (como a inspiração de ‘não dar escândalo’), tantos de nós não vamos por aqui: ocultamos, jogamos, escondemos, dissimulamos, contemos, omitmos… enganamos e enganomo-nos… Tudo rebenta, mais tarde ou mais cedo, com danos muitas vezes irreparáveis. Que as dores de gestos e heranças de omissão e finta da realidade nos recordem e façam viver tendendo à verdade, mesmo que doa…
L 1 Jr 20, 10-13; Sl 68 (69), 8-10. 14-15. 33-35
L 2 Rm 5, 12-15
Ev Mt 10, 26-33
Matrioskas
A avó, a Mãe e a filha
estão concêntricas no mesmo barco.
São úteros dentro de úteros
como as matrioskas.
Estão presas e cúmplices
mas desejam liberdade.
Espreita uma janela de fuga
que se quer mas que se não quer.
Isto marca o mundo todo,
o delas e o dos outros…
Se me perguntassem o que era a Providência divina, talvez respondesse assim: é uma teimosia de Deus, que se centra no Seu ‘disco riscado’ que grita “só sei amar”, mas que quis que a música tocasse no gira discos que somos nós. É aqui que toda a crença se refunda constantemente.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 99
«Ele nos fez, a Ele pertencemos»
Lemos no salmo 99 um verso forte: “Ele nos fez, a Ele pertencemos”. Aderir a este verso pressupõe um golpe de Fé, o de fazer corresponder à pergunta/desejo “eu, embora carente, existo” com uma aposta do tipo “fui e sou criado”. Esta frase tem, pelo menos, duas focagens possíveis: uma diz respeito a nós próprios, à nossa consciência de que somos “barro nas mãos do oleiro”, que somos seu templo e, portanto, nos devemos respeitar e cuidar, no corpo e no espírito, como tal. A outra implicação, não menos importante, é que este salmo é universal e, assim, todos os nossos irmãos são de Deus e a Ele pertencem. Filhos, cônjuges, familiares e amigos, bem como os mais distantes e até os “nossos inimigos”, pertencem a Deus. E se os outros não me pertencem, eu não os posso manipular como um joguete!…
Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto
L 1 Ex 19, 2-6a; Sl 99 (100), 2. 3. 5
L 2 Rm 5, 6-11
Ev Mt 9, 36 – 10, 8
A ciência tem um enorme potencial de transparência e sentido de partilha: ela vale – a ciência – quando e se for publicada, para ser usada, contestada e ter dinamismo…
Já padeci (por isso compreendo bem) de uma doença social a que chamaria “viajionismo”. É uma hiperatividade turística, cheia de excentricidades e competições, nem sempre saboreadora, raramente simples e que, muitas vezes, redunda em cansaço e em mais um íman no frigorifico…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 9, 9-13
«Por que motivo é que o vosso Mestre come com os publicanos e os pecadores?»
Convém sempre relembrar e sublinhar esta passagem do Evangelho, em que se relata o encontro de Jesus com Mateus, cobrador de impostos. O facto de Jesus se dar, se aproximar, acolher e aprender com ‘gente de má vida’ (leia-se, com todos e com cada um de nós) pode ecoar naqueles que confundem a proposta cristã com qualquer vestígio de puritanismo seletivo. A expressão algo em voga de ‘gente de bem’, encerra, em si mesma, o avesso deste trecho evangélico. Jesus vem para todos mas a originalidade da sua revelação é a universalidade do acolhimento, a preferência pelas margens, pelas periferias sociais, pelos excluídos. É este também o devir da Igreja que, ao mesmo tempo, muito ganha se for somado a certa humildade-verdade de nos reconhecermos todos, também nós, seres carentes e de periferia…
L 1 Os 6, 3b-6; Sl 49 (50), 1 e 8. 12-13. 14-15
L 2 Rm 4, 18-25
Ev Mt 9, 9-13