solidão, quietude e silêncio…

A profundidade busca-se na solidão, na quietude e no silêncio, mas, também, na relação, no gesto e na palavra. Importará um justo equilíbrio onde estar só qualifique a atenção ao outro, parar potencie o agir e silenciar abra espaço ao dizer ligante.

JP in Sem categoria 8 Outubro, 2024

não separe o homem o que Deus uniu

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o texto Mc 10, 2-16

Não separe o homem o que Deus uniu

Uma reflexão sobre o casamento e a proposta católica: o apontamento para a indissolubilidade do matrimónio religioso (um conceito de insinuação química, por sinal…) parece-me um tesouro a guardar, um convite a manter e um processo a trabalhar continuamente, também pelo valor antropológico, cristão e sociológico que contém.

Acontece que, como muitas propostas evangélicas, trata-se de algo libertador, mas exigente e radical. Muitos casamentos católicos podem não ter sido devidamente entendidos e vivenciados (era bom criar as condições de acesso pleno e popular a uma eventual declaração de nulidade). Ou as possibilidades reais, de cada um, dos dois, do acumular de circunstâncias e fragilidades, podem ter-se tornado insuportáveis. Chegados a esse ponto (não inócuo, para todos), em todo o caso tentando não banalizar, vulgarizar e ‘saltitar’, importa mais, à boa maneira de Cristo, o potencial de crescimento e recomeço do que o martírio culpabilístico, legalista e excluidor. A Igreja, sinal do amor de Cristo no mundo, é convidada a ajudar a ‘fazer as malas’, avaliar criticamente, amparar, acolher e estabelecer bases (elas próprias exigentes e carentes de trabalho interior e relacional) para efetivos recomeços integrativos.

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM


L 1 Gn 2, 18-24; Sl 127 (128), 1-2. 3. 4-6
L 2 Heb 2, 9-11
Ev Mc 10, 2-16 ou Mc 10, 2-12

JP in Sem categoria 6 Outubro, 2024

Igreja em saída…

Lido mal com as expressões e vivências que passem por “defender a Igreja”. O resultado de defender pode estar perto de enterrar… Não me parece, também, esta metáfora defensiva, a agenda do fundador…. Inspira-me, portanto, uma Igreja em saída…

JP in Sem categoria 4 Outubro, 2024

monopólio de fé

Halik diz bem algo que muitos crentes católicos teimam em não admitir e vivem como se assim não fosse: “o rio da fé galgou as suas antigas margens; a Igreja perdeu o monopólio da fé”. (in ‘Halik, T. A Tarde do Cristianismo’. Paulinas, 2021.p 268).

JP in Sem categoria 2 Outubro, 2024

convertendo(-se)

Não simpatizando eu com certas militâncias religiosas, que mais fazem lembrar os tempos idos das cruzadas, não nego, porém, o caráter intrinsecamente apostólico da pertença religiosa cristã. Apostaria, porém, na ontologia de vida, debaixo do lema: “converter” (mesmo assim, com aspas) é converter-se… e abrir-se à aprendizagem…

JP in Sem categoria 30 Setembro, 2024

as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça

 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se II Tg 5, 1-6

as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça

O texto da epístola de Tiago alude à precariedade da materialidade e à fragilidade da acumulação. A Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, aponta, em inúmeras passagens, para a fragilidade do ter, face à força do ser. Para aqueles que leem estas palavras e já possuem alguma cultura espontânea de austeridade e a quem a vida já ensinou que vale muito pouco a pena acumular, convém abrir uma outra porta, que nos conserva sempre uma positiva inquietação: é que há ainda muitos humanos no nosso planeta que não têm os mínimos e a quem seria imoral pedir qualquer desprendimento, qualquer austeridade. É legítimo que esses desejem ter o mínimo que nunca tiveram e de que precisam. Não chega, portanto, sermos modestos e austeros (embora seja um ponto de partida
importante). Parte do movimento de todos nós, mesmo dos menos materialistas, é incentivar e empreender genuínas partilhas, à escala global. No limite, criar condições para uma austeridade escolhida, fundada na dignidade de todos. Essa partilha, sim, é garantia que a traça não corrói…  

 

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXVI DO TEMPO COMUM


L 1 Nm 11, 25-29; Sl 18 (19), 8. 10. 12-13. 14
L 2 Tg 5, 1-6
Ev Mc 9, 38-43. 45. 47-48

JP in Sem categoria 28 Setembro, 2024

o Espírito e o vento…

Em Jo 3, 8 temos uma frase imputada ao diálogo entre Jesus e o fariseu Nicodemos que me merece uma atenção crítica: “O vento sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece também com aquele que nasce do Espírito”. Ora, hoje sabemos alguma coisa mais sobre o vento (embora a ciência climática seja agudamente não linear) e, em certo sentido, poderíamos afirmar que esta frase está desatualizada e é infecunda… Mas acontece que nem Deus nem a Bíblia existem para explicar como funciona o mundo, na sua complexidade físico-químico-biológica. O importante não é a explicação (de onde vem o vento e para onde vai, o que em si mesmo evoluí do ponto de vista do conhecimento) mas o sentido: nascer de novo e acolher o novo, o Espírito, a ‘anima’ de tudo… que sopra “na” e pela realidade…

JP in Sem categoria 24 Setembro, 2024

se alguém quer ser o primeiro, tem que se tornar o último

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 9, 30-37

se alguém quer ser o primeiro, tem que se tornar o último

Este jogo de ser primeiro e ser o último (e vice versa) não é fácil de jogar. Mas há qualquer coisa de fascinante em perder (para ganhar), mais rico do que o óbvio ganhar (talvez para perder). Conta-se que Pedro Arrupe, há quase um século, quis ser o primeiro a sair do autocarro onde seguia com outros companheiros para se instalarem num colégio. Chegou em primeiro ao espaço (ganhar?) e abriu todos os quartos apressadamente para ser o primeiro a escolher um lugar (ganhar?). Procurou bem, viu todas as instalações e escolheu convictamente… o pior quarto (perder?). Alegrava-o poder proporcionar aos outros o melhor espaço (perder?). Deve ter dormido com uma paz particular (ganhar?…).

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM


L 1 Sb 2, 12. 17-20; Sl 53 (54), 3-4. 5. 6 e 8
L 2 Tg 3, 16 – 4, 3
Ev Mc 9, 30-37

JP in Sem categoria 22 Setembro, 2024

concordismo

Não é só a literalidade bíblica que oprime a revelação que quer sair das palavras. É também abafante forçar o concordismo das Escrituras, na fixação espartilhada de história, da literatura, da sabedoria e da cronologia.

JP in Sem categoria 20 Setembro, 2024

ambiguidades de Deus

Uma certa ambiguidade de Deus, que intuímos e experimentamos, não é arbitrária: é uma necessidade estrutural inerente à relação entre o Criador e a criatura.

JP in Sem categoria 18 Setembro, 2024