anjos, transcendência e mundo…

Diz Tolentino Mendonça, a propósito da complexa, sedutora, simbólica e antisimbólica angeologia, judaico-cristã e não só: “mostrar sem desvendar, dizer sem prender, tornar maximamente visível sem ferir minimamente o invisível”. No cristianismo, este toque angélico é notado, nesta mesma névoa paradoxal, em particular, no alfa e no ómega do quotidiano da vida de Jesus (anunciação e escatologia apocalíptica). Como seria previsível, no cristianismo, sempre embalado na síntese entre a tradicional continuidade judaica com a novidade do Evangelho, a angeologia subalterna-se ao primado de Cristo, onde toda a realidade mora.

JP in Sem categoria 12 Julho, 2023

extraterrestres e cristianismo

De algum modo, todas as «Humanidades» que existam por esse universo fora — se existem! — fazem parte de nós, desta Humanidade que habita os estreitos limites do planeta Terra. Sem o conhecimento e o contacto com esses outros seres que poderão povoar o cosmos, parece que nos sentimos incompletos, como se eles fizessem já parte da nossa identidade. Por conseguinte, a Humanidade olha para as distâncias intergalácticas e as profundidades cósmicas à procura de novos conhecimentos, de outros seres inteligentes — no fundo, à procura de si mesma.

A existência de seres inteligentes noutras galáxias levanta certamente questões religiosas. Mas tais questões não são necessariamente angustiantes. Embora seja verdade que colocam alguns desafios à nossa compreensão actual de Deus e de nós próprios, não é menos verdade que um Deus criador de milhões de planetas habitados por seres inteligentes estaria mais de acordo com a imagem de ser omnipotente e omniamoros da tradição cristã.

JP in Sem categoria 10 Julho, 2023

…revelastes aos mais pequeninos

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 3742

«Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim»

Não convém confundir esta passagem evangélica com um convite à ignorância, ao simplismo ou à superficialidade. Mas há um sentido evangélico que nos alinha em ser “pequeninos”. Evitar ser (ou melhor, achar-se…) “sábio e inteligente” é evitar só contar connosco próprios, prescindindo de Deus e dos outros. Somos “sábios e inteligentes” quando achamos que só nós é que sabemos e não acolhemos humildemente cada pessoa, com os seus limites e riquezas. Ser “pequenino”, à maneira do Evangelho, é ser pobre e, portanto, aberto à novidade de nós mesmos, de cada um (outro) e do cosmos. Sermos humildade… sermos verdade.

Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto

DOMINGO XIV DO TEMPO COMUM


L 1 Zc 9, 9-10; Sl 144 (145), 1-2. 8-9. 10-11. 13cd-14
L 2 Rm 8, 9. 11-13
Ev Mt 11, 25-30

JP in Sem categoria 8 Julho, 2023

afirmação cristã

Há uma tensão entre a afirmação identitária de uma crença, como a cristã, e a abertura sem limites a uma verdade ainda mais ampla. O meu sublinhado, porventura também com alguma irreverência, é se não somos mais Igreja por esta via (vou chamar-lhe via larga…) do que por qualquer outra defensividade afirmativa, militante e eclesialmente ‘auto-centrada’…

JP in Sem categoria 6 Julho, 2023

escuta…

Reconheço-me com alguma voracidade no falar. Permito-me interromper o outro…

JP in Sem categoria 4 Julho, 2023

Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 37-42

«Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim»

Principalmente para quem tem filhos ou filhas as palavras do Evangelho podem parecer chocantes. De facto, é difícil imaginar que se possa amar algo mais do que um filho. Pelos filhos, realmente, dão-se noites, dá-se o corpo, dá-se tudo, dá-se a vida! Poder colocar o amor por Jesus num outro patamar pode ter sentido na crença. Aqui Jesus “usa” a realidade do amor paternal e do amor maternal para colocar a fasquia da entrega transcendente como expressão de liberdade. A entrega a Deus nunca poderia ser um holocausto de diminuição. O apontamento cristão será sempre do tipo ‘quanto mais humano, mais cristão, quanto mais cristão, mais humano’. Há uma coerência humanizante e que, de alguma forma, se pode transformar num ato de fé para os pais que são cristãos: a convicção de que nesta (difícil e exigente) proposta em relação aos filhos todos, incluindo os próprios descendentes, podem ganhar. É que amando assim a pessoa de Jesus e inquietantemente repousados nos seus critérios e no seu horizonte de liberdade, ama-se mais e melhor, de facto, os próprios filhos e as filhas… Se quisermos – e generalizando para todos, tenhamos filhos ou não – estamos numa metáfora em que certo desapego (em relação aos filhos e não só), sem prejuízo de cuidado e entrega radical, pode qualificar o amor…

Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto

DOMINGO XIII DO TEMPO COMUM


L 1 2Rs 4, 8-11. 14-16a; Sl 88 (89), 2-3. 16-17. 18-19
L 2 Rm 6, 3-4. 8-11
Ev Mt 10, 37-42

JP in Sem categoria 2 Julho, 2023

exame de consciência

Uma boa interpretação do exame de consciência, sem excluir a razão e a memória, é entendê-lo como “re-cordar” = re-viver com o coração…

JP in Sem categoria 30 Junho, 2023

confiança…

A primazia da confiança, na existência humana, na ciência e nas religiões, é uma pedra angular. O Beneditino Santo Anselmo, já no século XII, afirmava não buscar conhecer para acreditar mas antes crer para conhecer. Percebe-se que ninguém consiga existir sem confiar em alguém. Percebe-se que a ciência só se desenvolve na rede fiduciária duma realidade existente e cognoscível. Percebe-se que a fé é mais crer para ver do que ver para crer…

JP in Sem categoria 28 Junho, 2023

gente importante…

A fé bem nos poderia ajudar a uma espontânea descrição e não “pavonice”: é que, em rigor, não precisaríamos de dizer que somos importantes porque o somos garantidamente à luz de um Deus-Bondade que nos ama à cabeça, que nos encontra como únicos… e importantes… Boa malha para evitar as nossas autopromoções…

JP in Sem categoria 26 Junho, 2023

nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 26-33

«nada há encoberto que não venha a descobrir-se, nada há oculto que não venha a conhecer-se»

A frase do Evangelho de Mateus é acutilante para nos colocar centralmente na preferência óbvia pela verdade, pela luz, pelo esclarecimento, pela transparência. Uma das mais radicais fragilidades da Igreja, das famílias cristãs, dos grupos católicos e de muitas relações humanas é a ignorância vivencial deste convite pela luz em cima da mesa. O resultado é catastófrico: porventura “embalados” com leituras parciais e enganosas das escrituras (como a inspiração de ‘não dar escândalo’), tantos de nós não vamos por aqui: ocultamos, jogamos, escondemos, dissimulamos, contemos, omitmos… enganamos e enganomo-nos… Tudo rebenta, mais tarde ou mais cedo, com danos muitas vezes irreparáveis. Que as dores de gestos e heranças de omissão e finta da realidade nos recordem e façam viver tendendo à verdade, mesmo que doa…

DOMINGO XII DO TEMPO COMUM


L 1 Jr 20, 10-13; Sl 68 (69), 8-10. 14-15. 33-35
L 2 Rm 5, 12-15
Ev Mt 10, 26-33

JP in Sem categoria 24 Junho, 2023