Bíblia
A Bíblia, como Deus, apresenta-se-nos aberta, misteriosa, tensional, em revelação… e excessiva…
A Bíblia, como Deus, apresenta-se-nos aberta, misteriosa, tensional, em revelação… e excessiva…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 1, 1-8
Em tempo de Advento concentramo-nos no riquíssimo panorama e real do deserto, onde aparece João Baptista a proclamar. Não será por mero acaso que a porta que é João Baptista parte do deserto, talvez físico mas, certamente, simbólico. O verdadeiro arrependimento só se pode fazer a partir do verdadeiro deserto que somos nós. Sem entrarmos no nosso deserto íntimo não nos podemos arrepender e recomeçar verdadeiramente, porque a graça de Deus quis precisar da nossa realidade, do nosso deserto, para se revelar. Precisamos, talvez, no Advento e não só, de valorizar o deserto interior, de entrar nele, de o olhar, de o admitir, de o saborear. Sem silêncio interior e exterior não há tangência no deserto e, porventura, não há oásis nem maná, não há conversão…
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
L 1 Is 40, 1-5. 9-11; Sl 84 (85), 9ab-10. 11-12. 13-14
L 2 2Pd 3, 8-14
Ev Mc 1, 1-8
O filósofo alemão Ernest Bloch (para quem a morte era a mais forte não-utupia…) gastou a sua vida numa empreitada séria, profunda e coerente, mas, ao mesmo tempo, algo frustrante. A sua tese de uma “esperança sem deus” tem, para mim, um efeito boomerang: a nossa finitude acaba por nos levar a uma esperança que depende, precisamente, do reconhecimento de um Deus amoroso, criador… e ‘esperançador’…
A distância a que Deus está é paradoxalmente a excessiva proximidade onde habita…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 13, 33-37
O início do Advento, enquanto preparação para o Natal, é marcado por sugestões bíblicas de prudência, vigilância e atenção. Estes ‘modos-advento’, convém registar, embora possam ser alimentados também comunitariamente, apresentam uma agenda muito pessoal e responsabilizante. Um qualquer cristão distraído, em devaneio pedagógico, poderia interpretar como missão vigiar os outros: filhos, vizinhos, paroquianos, alunos, discípulos… Não, é uma missão muito pessoal: estar atento a mim próprio, antes de mais. Em redutos de silêncio e paragem convém conseguir estar atento a mim mesmo, a Deus dentro de mim…
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
L 1 Is 63, 16b-17. 19b; 64, 2b-7; Sl 79 (80), 2ac e 3b. 15-16. 18-19
L 2 1Cor 1, 3-9
Ev Mc 13, 33-37
Blondel, a partir da literatura, traz-nos para um caminho claramente existencial-espiritual: há que admitir a nossa própria desilusão, tecida de inúmeras carências. Como é vital reconhecer a existência em nós mesmos de muitas camadas de micro-sonhos, micro-ilusões, micro-projetos. Daqui mesmo se percebe e vive uma sede maior…
Naqueles confrontos orantes, a liberdade espreita quando conseguimos ir substituindo a refilisse com Deus e a nossa manipulação para que se faça a nossa vontade pela rendição ao reconhecimento do seu imenso amor, em tudo e todos, ontem, hoje é amanhã.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 14-30
Na tradição cristã adquire muita força o reconhecimento de Deus nos outros. A própria ética de lastro judaica, elaboradíssima por filósofos como Levinas, centraliza “o alter” como reduto sagrado e intenso. Nas palavras do Evangelho, é o próprio Deus que tem sede da sede dos homens… e dar uma pinga de água a alguém é molhar a boca do próprio Deus. Para as pessoas mais distraídas, mesmo que voluntaristas e com algum potencial-cisterna, como é quem que escreve estas palavras, este desafio pede muita atenção às sedes do mundo. Onde estão os que precisam de água? Como se manifesta a sua sede?… Como posso eu, que não sou água, ajudar cada um a aproximar-se da fonte?
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
SOLENIDADE
L 1 Ez 34, 11-12. 15-17; Sl 22 (23), 1-2a. 2b-3. 5-6
L 2 1Cor 15, 20-26. 28
Ev Mt 25, 31-46
Fico sempre na dúvida, sobre onde colocar o ‘a’: serei crente por ser carente, ou serei carente para ser crente? Talvez as duas coisas…
Precisado
Mais do que amado
(embora, amado, também)
precisado me encontro.
Tudo o que importa
vem desta sede.
Carente e vazio,
daqui me existo,
aqui voltarei
se me quiser acertar.
Mesmo que aqui
(ou ali, ou além)
me ache bastante,
atiro ao lado:
Só serei
…se (confiadamente)
precisado.