Jesus: o quotidianizador…

Fala por si Paul Ricoeur, a propósito deste lado ‘banal’ de Jesus: “As parábolas [de Jesus] são radicalmente profanas (…). É gente como nós: proprietários partindo em viagem e alugando os seus campos, semeadores e pescadores, pais e filhos; numa palavra: gente comum fazendo coisas comuns. Vender e comprar, lançar redes, etc (…). Relatos de normalidade, por um lado, e o Reino de Deus que é dito ser como isso, por outro. O extraordinário é como o ordinário”. Para mim, estás aqui mesmo o cerne do milagre que importa…

JP in Sem categoria 12 Março, 2024

a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 3, 14-21

a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz

Acreditar é um movimento perpétuo de “jás” e “ainda nãos”. É bom colocarmo-nos na Quaresma como caminho de preparação para acolher amorosamente a morte e a ressurreição de Jesus, neste ritmo de esperanças e de incertezas. Tudo aquilo que nos prejudica, em todas as dimensões da nossa vida (psicológica, corporal, social, amorosa, etc.) odeia a luz, fica no escuro. Ficar no escuro é estar escondido, é estar no lugar onde nada nem ninguém se vê, é estar no segredo. Quais as nossas áreas de maior ou menor escuridão? Quais os nossos segredos? Podemos também confrontar-nos com a evidência de que há relações familiares que são de escuridão ou de luz, relações de trabalho, de “mim comigo”, de realidade social, política local, nacional e mundial, que estão envolvidas pela luz ou pela penumbra, ou mesmo pela escuridão total. Identificar essas situações e deixar vir à luz a bondade que há em nós e nos outros é caminho de Quaresma…

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

L 1 2Cr 36, 14-16. 19-23; Sl 136 (137), 1-2. 3. 4-5. 6
L 2 Ef 2, 4-10
Ev Jo 3, 14-21

JP in Sem categoria 10 Março, 2024

espera e paciência

A espera tem como perigo maior a impaciência. Por isso a fé é, em certo sentido, a esperança ilimitada que se trilha com a paciência de viver acreditando.

JP in Sem categoria 8 Março, 2024

palavra…

A palavra, na sua função de comunicar, de comungar, é a ponte para dizermos quem somos a quem nos queira escutar. Mas no limite, mesmo sem ser ouvida, então menos fecunda, mas válida, a palavra vale sempre a pena…

JP in Sem categoria 6 Março, 2024

formulações…

Um dos grandes equívocos dos crentes católicos romanos contemporâneos, me parece, é entenderem a formulação do Evangelho existente no cânone como ‘a formulação’. Ganhar forma é importante e, como tal, não desprezo a formulação católica. Mas é próprio da nossa formulação incluir o dinamismo cultural em que vivemos, hoje mais mutável ainda do que no passado. As formulações estáticas do passado serviram bem um passado – ele próprio algo estático – em que o que a Igreja dizia estava conforme aquilo que a humanidade vivia. Mas hoje não é assim e por isso, para darmos vida ao Evangelho, temos que recriar as nossas formulações, para que estas consigam ser entendidas e assim penetrar na cultura, em cada cultura, porventura polimoformicamente…

JP in Sem categoria 4 Março, 2024

não terás outros deuses diante de Mim

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Ex 20, 1-17

não terás outros deuses diante de Mim

Em tempos de Quaresma propicia-se o Livro do Êxodo, desde logo pelo cenário dos quarenta anos de deserto que um povo em procura, como nós, se dispôs atravessar, com fé e na fé… A sugestão de ‘não ter outros deuses’ é muito mais do que teológica: quais os meus ‘outros deuses’? Poder? Reconhecimento? Segurança? Saúde? Eu próprio(a)?…

PS: Atentemos numa ideia que não raras vezes nos faz legítima confusão e que aparece no Antigo Testamento, quando são postas na boca de Deus expressões como: “Eu castigo as ofensas dos pais nos filhos”. Importa eliminar as imagens (negativas) de um Deus castigador. E Ele, de facto, não castiga! Devemos, pois, ouvir estas palavras no contexto histórico-temporal em que se inserem, na linha de uma relação “Homem-Deus” ainda imatura, que está a crescer e que vai abrindo portas para a grande revelação da misericórdia, que está a acontecer e que, para nós, cristãos, se dá em Jesus Cristo.

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO III DA QUARESMA


L 1 Ex 20, 1-17 ou Ex 20, 1-3. 7-8. 12-17; Sl 18 (19), 8. 9. 10. 11
L 2 1Cor 1, 22-25
Ev Jo 2, 13-25

JP in Sem categoria 2 Março, 2024

seder…

Um dia inventei a palavra ‘seder’ (com um ‘s’). Desejava referir-me à procura da sede que, sendo sede do outro e de mim, é sede de Deus…

JP in Sem categoria 28 Fevereiro, 2024

enredo e intriga…

Nas escrituras, não há só a tensão entre a fisicalidade e o simbólico. Também no plano literário, há a tensão entre o enredo e a intriga. E assim como valorizo mais o simbólico e relevo alguns acidentes da fisicalidade, tendo a valorizar mais o enredo da revelação do que a intriga da história…

JP in Sem categoria 26 Fevereiro, 2024

como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 9, 2-10

como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas

Um dos aspectos que se pode abordar do texto de Marcos é o comentário de Pedro face à transfiguração. Pedro é um homem espontâneo e convida o Mestre a permanecer ali, sugerindo a montagem de três tendas. Também nós, como Pedro, principalmente no domínio do grupo religioso, tendemos a querer montar tendas no “bem bom”, no quentinho da fé. Sabemos, porém, que tudo o que nos fecha não vem de Deus e que, sendo útil o conforto comunitário para crescermos na fé, somos sempre impelidos a voltarmo-nos para fora. Mas é ainda mais amplamente humana esta tendência para o conhecido, para o mero conforto, para o vislumbre infecundo, para o sofá. Está na partida, na missão, no rasgo, na abertura e em certa desinstalação o nosso maior encontro…

L 1 Gn 22, 1-2. 9a. 10-13. 15-18; Sl 115 (116), 10 e 15. 16-17. 18-19
L 2 Rm 8, 31b-34
Ev Mc 9, 2-10

JP in Sem categoria 24 Fevereiro, 2024

liberdade de largar

Dar ao outro a liberdade de me largar é muito exigente, mas em si mesmo, libertador. Do lado crente, é importante reconhecer que é essa mesma liberdade de largar, e também de largar Deus, que o mesmo Deus nos oferece…

JP in Sem categoria 20 Fevereiro, 2024