As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Ef 5, 15-20


As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor


Da carta aos efésios podemos destacar aquilo que tipicamente retemos nos ouvidos, mais pela negativa do que pela positiva, convenhamos: “As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor”. São razoavelmente conhecidas as atenuantes hermenêuticas desta passagem: 1) a imersão histórica num período outro, onde a realidade (da mulher) era o que era; 2) a colocação em contexto, que refere em paralelo, adiante na mesma carta, o convite a que os maridos amem as esposas; 3) uma revisitação semântica da palavra submissão que, “esticada”, possa ter algo a ver com o amor. Tudo muito bem mas… As coisas ficam no ouvido (e na alma, e na civilização, e nas feridas…). Não seria arriscado afirmar que esta frase, numa mistura explosiva de embrulho religioso e silenciamento, terá animado muita violência doméstica, que ainda hoje afeta e infecta a vida de tantas mulheres. Uma hermenêutica de maior rasgo e realismo, portanto, incluindo até uma certa contra modelagem semântica, pode levar-nos ao âmago do Evangelho: o convite à liberdade interior de toda a humanidade e, portanto, sem exceção nem submissão a todas as mulheres da Terra. Mais ainda, tal proposta de liberdade, pode (e deve) incluir ruturas, em caso de linhas vermelhas como a violência física.

DOMINGO XX DO TEMPO COMUM

L 1 Pr 9, 1-6; Sl 33 (34), 2-3. 10-11. 12-13. 14-15
L 2 Ef 5, 15-20
Ev Jo 6, 51-58

JP in Sem categoria 24 Agosto, 2024

Deus inventado

Um Deus que se inventa? Admitamos que sim… A experiência da fé, muitas vezes, é viver como se esse Deus (inventado?) existisse e ir descobrindo que, afinal, existe mesmo…

JP in Sem categoria 22 Agosto, 2024

a água e o bebé…

Sempre tive simpatia pelo dito popular que aludia a “deitar fora a água do banho… e o bebé”. O sentido crítico lúcido, moderado e equilibrado purga a água gasta e menos limpa. O hipercriticismo “mata bebés” …

JP in Sem categoria 20 Agosto, 2024

quem comer deste pão viverá eternamente

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 51-28

quem comer deste pão viverá eternamente

O texto de João recentra-nos na força da banalidade e da crucialidade do pão. Sabemos que podemos ajustar a frase “quem comer deste pão viverá eternamente” para uma outra versão mais ‘em trânsito’ que, não perdendo a escatologia, traz o alimento para este tempo e para esta fome que somos: quem comer deste pão vive intensamente. Seja esta a liberdade de cada eucaristia, assim tornada refeição que alimenta. Seja esta a promessa, também, a prática, a partilha e a liberdade de cada refeição, assim tornada sagrada.

DOMINGO XX DO TEMPO COMUM


L 1 Pr 9, 1-6; Sl 33 (34), 2-3. 10-11. 12-13. 14-15
L 2 Ef 5, 15-20
Ev Jo 6, 51-58

JP in Sem categoria 18 Agosto, 2024

fé e incredibilidade

A fé e a incredibilidade são faces da mesma moeda que somos. Sem esta consciência, transformamo-nos facilmente em deuzinhos ou em gente fechada ao mistério…

JP in Sem categoria 16 Agosto, 2024

revelação em processo

Bíblia é palavra de Deus revelada, no contexto e em processo… é também escuta dos homens. É gravação no papiro do tempo da novidade que não termina.

JP in Sem categoria 14 Agosto, 2024

milagres…

No filme “Príncipe do Egito” ouvimos a bela música de Mariah Carey e Whitney Houston. Na letra há dois versos particularmente interessantes: “There can be miracles; when you believe”. O mais relevante e teologicamente adulto é a ordem das ideias. Muita gente vive a fé ao contrário, como se canção dissesse: “podes acreditar se houver milagres”. Mas não, os milagres não servem para muito, se não se acreditar. Ou ainda: não há milagres para acreditarmos, mas, se acreditarmos, pode haver milagres… A fé precede o milagre e não o contrário…

JP in Sem categoria 12 Agosto, 2024

se alguém comer deste pão…

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 41-51

Se alguém comer deste pão…

Para os cristãos católicos a eucaristia, nas suas tensões, paradoxos e graças, é um contínuo processo de resignificação. Podemos, a propósito deste texto bíblico, repensar a eucaristia no seu sentido lato e na forma como vivemos (ou não vivemos) a nossa “fome de infinito”… A eucaristia não é uma espécie de plano de poupança-reforma, capaz de nos deixar tranquilos depois da nossa morte. A eucaristia é “capital” disponível já, capaz de nos fazer “rentabilizar” a vida, aqui e agora. Ser alimento para os outros (dar-se), como Jesus se dá por nós é o output da eucaristia… Que a eucaristia-missa se traduza em eucaristia-vida, isto é, em gestos concretos de «ser pão» para os outros…

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XIX DO TEMPO COMUM


L 1 1Rs 19, 4-8; Sl 33 (34), 2-3. 4-5. 6-7. 8-9
L 2 Ef 4, 30 – 5, 2
Ev Jo 6, 41-51

JP in Sem categoria 10 Agosto, 2024

eu-tu

Martin Buber distingue no seu trilho dialógico a relação 1) eu-ele (ou isso) e a relação 2) eu-tu. A primeira tem perigos de posse, de manipulação, de chantagem e até de exploração. A segunda tem potencial maior, pelo horizonte de aceitação radical. Para os crentes, há um Tu(do)-absoluto, precisamente no seu incondicional acolhimento. Este Tu é inspirador para todas as fecundidades eu-tu…

JP in Sem categoria 8 Agosto, 2024