Belo

 

BELO

O belo

é belo!

por tão

belo ser,

quase

transforma

o que é não belo

no belo

do amanhecer.

Quando

o belo

é belo

como

deve ser,

o belo

pode nascer.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Poemas 22 Agosto, 2019

Insuficiente

Insuficiente

Amei-te
insuficientemente,
com boa vontade.
A possível tangente,
raio de um
Sol maior.
Fiquei aquem
mas assim,
também,
dando o meu
melhor,
naquele instante,
naquela idade.
Vás tu
mais além,
porém,
se é que te dei
a liberdade.
Que a plenitude
contém
mediocridade.
Plenitude,
aliás,
não é tudo
mas contém
totalidade…

 

2019

JP in Poemas 30 Julho, 2019

ironia ao natural

Ironia ao natural

 

É natural,

é bom

e quanto mais melhor,

como os cogumelos

vermelhos,

as rãs azuis

ou o suco de serpente…

É químico,

processado,

é mau,

como a

aspirina,

um perfume

ou o plástico

da válvula

cardíaca

de um coração…

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

JP in Ciência Poemas Química 28 Junho, 2019

Acreditar

ACREDITAR

Às vezes penso que só creio

porque não sei não crer.

Cobardia esta

a de não deixar

de olhar assim.

Sou gota de água:

ínfimo e

frágil.

Escorrego

não me aguento

e caio na

terra seca

que me criou.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Espiritualidade Poemas 20 Junho, 2019

Pássaros já cantam

PÁSSAROS JÁ CANTAM

Os pássaros

já cantam

na alvorada

do regimento.

O Sol

brilha mais forte

dentro do meu

pensamento.

No Quartel

pela manhã

brota já

o movimento.

Há mais vida

nesta vida

neste meu

envolvimento

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Poemas 22 Maio, 2019

Deus

DEUS

Parti da aridez

do deserto.

Saltei para

o escuro.

Apostei sem ver.

Mergulhei

em mar

de dúvida.

Procurei.

Progredi apalpando

e sem sentir.

Pensei, forcei

caminhei

de olhos vendados.

Eis que caio

num banho de

mel.

Quente,

sensual,

real.

Mais óbvio que eu.

Setenta vezes

os cinco sentidos.

Certeza

Deus.

Ele, que sempre

estivera,

era mais forte

que tudo.

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Espiritualidade Poemas 22 Abril, 2019

Levar

LEVAR

Trago a

alma

leve

de tesouros

grandes

de amor!

Confiei

que morrer

era este viver

que carrega

suavemente

uma pesada cruz!

Abriram-me

uma porta

tão bela

quanto estreita,

à qual

nem sequer bati…!

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Espiritualidade Poemas 22 Março, 2019

a estrela

A ESTRELA

Queria

ser um pedaço

daquelas palavras.

Parei por semáforos.

O fumo suspenso

gerava a densa

poluição.

Olhei,

a toda a volta no céu,

e nada vi.

Olhei de novo,

vasculhei.

vi, finalmente,

uma estrela,

disse olá a Deus…

e ficou verde!

…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

 

JP in Espiritualidade Poemas 20 Fevereiro, 2019

poeta esquecido

POETA ESQUECIDO

Sou um poeta esquecido!

A mancha da agenda

calou o grito da alma.

Não que a planta não cresça.

Os compromissos

taparam as flores.

Não me culpo

nem me castigo pelo silêncio.

Quando a vida passa

e o cavalo da aposta é

o que está mais à mão,

nessas alturas, como agora

paro e olho para mim,

selecciono o epicentro

e sinto que está na hora

de recolher novo centro

e não mais correr assim.

 

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse.

acessível aqui

JP in Poemas 22 Janeiro, 2019

Espera

ESPERA

Olho

pela janela

do quarto escuro,

aquilo que sobra da noite.

O tempo passa,

o sonho perde.

Vejo baço.

Respiro no vidro dos olhos…

 

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas 24 Dezembro, 2018