O (não) silêncio de Deus
O (não) silêncio de Deus
Não é o que
se não explica
que implica
o dedo certo
do criador.
Deus grita
no ordinário
e assim palpita
o necessário:
o traço belo
do seu amor.
O (não) silêncio de Deus
Não é o que
se não explica
que implica
o dedo certo
do criador.
Deus grita
no ordinário
e assim palpita
o necessário:
o traço belo
do seu amor.
Espetro
O espetro
é esperto
pois diz
o que é
a sua raiz.
A luz,
acertada,
dança
com matéria,
na esperança
de ir perto.
O que sai
dessa dança
é coisa
bem séria:
dançam
os átomos,
com a radiação,
o espetro
te dá
a informação.
Transporta
consigo
o que é,
donde vem,
e dados
escondidos
que vão
mais além.
O teu espetro,
óh humano,
o outro
é que sente,
não é improviso.
Sincero, a metro
teu espetro
de gente
será
um sorriso…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Pai Nosso ontologizado
Pai nosso
que estás aqui.
Sejamos
o pão para
cada outro.
Sejamos
o perdão
que nos queres dar.
Sejamos tudo em todos
além da tentação
de partir
… em pedaços
não inteiros
nem verdadeiros,
sombras de mal…
Sal de terra
Gostava de ser
cloreto de sódio!
Sal da terra
assim dizia Vieira.
Dar sabor,
metido,
ser solução.
Sem sal,
corrupção,
sem sal,
não há paladar.
Gostava de ser
cloreto de sódio.
Ião sódio,
ião cloreto.
Assim, sal,
me meto
no mundo.
Dissolvo-me,
confundo
mas não
vou ao fundo…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
creio num Deus
que vou tateando.
Que sabe apenas
criar e amar.
Que se toca
… e que toca
… e se deixa tocar.
Que caminha
… caminhando.
Que cria, amando
… e que ama, criando.
Fornos, setembro 2019
Sou elefante indiscreto
e queria ser um inseto.
Sou pavão exuberante
e queria ser rastejante.
Sou às vezes um trator
e queria ser uma flor…
2020
Reação
Sou química.
O meu desejo maior
é o de me
transformar.
Planta
que morre
cresce.
Assim acontece
se me deixo
transformar.
Sou química…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Ontologicamente contigo
Meio de meio
século
Contigo
É tempo
De meia vida.
Assim me ligo
Tecido
Em filhos de linho
Docemente
Protegido
Por amor prévio
Caminho.
Teu sorriso
Me seduz
Tuas mãos
Imanam luz
Tua alma
Santifica
Teu ventre
Me frutifica.
E eu, João,
Em nini
Comprometido
Te tomo
E retomo aqui
Como sendo
Teu querido.
Preso
Nesta liberdade
Sou por dentro
Teu marido.
Promotor
Sou promovido
Atulado
Em amor
Mais ainda
Agradecido.
1 de agosto de 2016
Hidrogénio
O hidrogénio
é leve, leve.
Anda
por todo lado.
Sozinho,
melhor,
aos pares,
é bastante
utilizado.
Nesse caso,
atenção,
pois pode
dar explosão,
sendo isso
quase certo
se houver
oxigénio
por perto.
É perigoso
se provocado
(quem não é…)
como nós,
uma qualquer
ignição…
pode gerar
confusão…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)
Cálculos de amor
O Amor é
paradoxal
operação.
Mas que esquisito,
o Amor,
que grande contradição:
divide a gente o Amor
e em tão estranha divisão
sobra sempre desse Amor
uma enorme porção,
pois dividir o Amor
é uma multiplicação…
Como o Amor
não há:
tem-se tanto mais,
quanto mais
se dá…
in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.
acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)