Professor

PROFESSOR

Intui o professor

numa aula preparada:

viu um singelo escultor

face à obra, quase nada.

Mas o que mais o espantou

quando a aula virou vida

foi sentir que não criou

e que foi obra esculpida!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

acessível aqui

JP in Poemas 30 Junho, 2018

Agarrando o dia

AGARRANDO O DIA

Quase me escapava,

este dia igual.

Quase parecia

o bisar da repetição

mas não!

Fica quanto amei

e tantas coisas

que aprendi.

O que fiz bem,

o que falhei.

Tudo foi

bom para mim.

Um dia

… é um trampolim.

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

poeta morto

POETA MORTO

Criou-se

um espaço de silêncio.

Secou a veia

e morreu

a inspiração.

O poeta escondeu-se

por falta de poesia.

Sem coisas para cantar

… ele quis escrever.

… sem respirar!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

Gritar solidão

GRITAR SOLIDÃO

Grito daqui,

do antro

da solidão!

Grito os sonhos

perdidos,

despido

da história

que vi gravada

no tempo!

Grito saudade,

grito silêncio!

Grito baixinho.

Fixo-me

naquela esperança

que me esconde

o abismo

que não existe!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

Vou partir

VOU PARTIR

Fecho as portas

da casa

em que gostaria

de viver.

Venho-me embora

do local

que parecia

feito para mim.

Saio!

Não tenho

a certeza

de poder permanecer.

O mundo não é

este país,

vou partir!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

Pomba branca

POMBA BRANCA

Pomba branca

indecisa.

Nem voas, nem partes

nem ficas, nem vais.

Vejo-te

quieta nesse lugar.

Olho-te

capaz de imaginar.

Vejo-te

pomba branca

praticamente no ar.

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

O que importa

O QUE IMPORTA

O que importa

aferir

as culpas

deste naufrágio?

O que importa

saber

o porquê

da tempestade?

O que importa

conhecer

os pormenores

deste quadro

bonito,

visto de longe?

O que importa

salientar

os nós deste tapete

que resultam

num alegre bordado?…

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

solidão

SOLIDÃO

Estou sozinho

com meio coração

pendurado

no destino.

Não escondo

a tentação.

Tenho ar para respirar.

Tenho tudo

agora, aqui

neste lugar!

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas 28 Junho, 2018

a minha poesia

A MINHA POESIA

A minha poesia

é cíclica,

fechada,

conclusiva.

Fria!

Igual!

A minha poesia

não é poesia,

como eu,

A minha poesia

é forçada,

procurada,

construída.

Estranhamente,

por detrás

destas grades,

espreito um

prado onde

gosto e

desejo

… estar.

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas

sem chave

SEM CHAVE

Chego a casa

sem chave.

Procuro por entre

as pingas da noite

a sombra da solução.

Traço pelo passeio

as melodias.

Uma história

sem destino

um destino

sem destino,

uma casa

na memória.

A paixão por esta vida

tal e qual

na confusão.

in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.

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JP in Poemas