A ti, minha flor
A TI, MINHA FLOR
A ti
flor a abrir,
ontem semente
morta,
por sair,
a ti
eu dirijo
um beijo sentido
profundo
terno e eterno.
Confesso
o susto
sempre sustido
de esperança
quando te vi
sem vida
ontem
seca e triste
perdida no vento.
Agora que abres
e ganhas cor
digo-te
a ti
flor bonita
que sempre
te adorei
e nem só um segundo
duvidei
de ter querer bem.
A ti,
flor que já sorris
segredo-te que antevi
o teu sorriso
aquando da tempestade
que senti
mas vi passar
antes mesmo
de o mar se acalmar.
A ti,
flor dourada
entrego
este meu ser
este meu nada.
A ti, meu amor
digo-te
sinceramente
que nenhuma dor
pssada ou presente
tirará cor
ao nosso amor
eternamente.
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Amar até não ser preciso
AMAR ATÉ NÃO SER PRECISO
Quero dar tudo e
fixar-me em ti.
Estar ligado,
amarrado,
comprometido
dependente,
independente.
De mãos tão abertas,
de coração tão sem fim,
que sejas feliz
muito feliz
mesmo sem mim…
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Pobre
POBRE
Estendes a perna
torcida pela pobreza,
e vendes
sem preço fixo
essas mazelas.
Estendes a mão
de cansaço
para encheres
de bagaço
o teu próprio
coração
vazio.
Não importa
se tens culpa
ou onde gastas
o que te dão.
Importa sorrir,
uns segundos
em retalhos…
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Praia de Mira
PRAIA DE MIRA
O farnel
está protegido
na sombra
constante
da barraca.
A maioria
está vestida
e, arregaçando-se
lança a aventura
de molhar os pés.
Alguns homens
trazem marcado
no corpo nu
as alças brancas
do trabalho.
Quantas mulheres
com lenços escuros
destacando rostos
de simplicidade.
Mas o mais belo
desta tarde
foi ver sentido
naquilo que,
outrora, míope,
chamei parolos…
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
A ti que sofres
A TI QUE SOFRES
A ti
que sofres
não te peço que
não chores.
Que não chore
não há quem.
Que chores,
não te peço
também.
Peço-te…
que chores…
bem!
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Queima da fitas
QUEIMA DAS FITAS
Chegaram
cheios de momentos.
Mortos de cansaço.
Despejaram a vontade
no prazer do tempo.
Bufavam fraquezas
de alma vazia.
Não esperaram
por mais
qualificada gratificação.
Verteram na
cerveja
golos de solidão.
Entornados,
abraçavam
o vazio.
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
O que são as borboletas
O QUE SÃO AS BORBOLETAS?
As borboletas
são papéis
de cores vivas.
São pétalas
voadoras
disfarçadas
de asas coloridas.
As borboletas
são retalhos
de arco-íris,
pedaços de beleza,
fragmentos
do sorriso
de Deus!
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Comboio da CP
COMBOIO DA CP
Num comboio sujo
da CP
não fujo
do que se vê.
Antes tento
contemplar
neste assento
por lavar.
Um magala
mal criado.
Um emigrante
exaltado.
Um idoso
orgulhoso
do desconto.
Uma criança
que cansa
de ser chata.
Mas dos
bancos
vêem-se
campos.
Seria mesmo uma pena
se no meio de tantas cores
não visse em cada cena
uma só daquelas flores.
in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui