ainda morte…
A fuga para a frente pode não ser a chave da boa morte. A (pseudo) fuga mais libertadora é precisamente a receção da vida como uma Graça, uma dádiva, uma promessa de que a fragilidade é a penúltima experiência. A isto se chama Fé.
A fuga para a frente pode não ser a chave da boa morte. A (pseudo) fuga mais libertadora é precisamente a receção da vida como uma Graça, uma dádiva, uma promessa de que a fragilidade é a penúltima experiência. A isto se chama Fé.
Nas nossas incompetências de diálogo prático (a teoria costuma ser boa…) há uma parte que teima em ser curta: é aquela escuta que francamente aceita e se abre, dizendo “dá-me a tua parte, que eu quero recebê-la”.
O Concílio de Trento, iniciado em 1545, reafirmou a autoridade da Igreja Católica na interpretação da Bíblia, mas o texto do decreto conciliar é bastante genérico e até mesmo ambíguo. Os padres conciliares decretaram que ninguém se deveria permitir «interpretar a Sagrada Escritura, nas matérias de fé e de moral, que pertencem ao edifício da doutrina cristã, distorcendo a Sagrada Escritura segundo o seu modo de pensar, contrário ao sentido que a santa mãe Igreja determina». O texto conciliar não especificou, porém, critérios suficientemente precisos para a definição, por exemplo, de uma questão como sendo de fé ou de moral, nem entrou em pormenores sobre o difícil problema de decidir quando se deveria interpretar a Escritura em sentido literal ou em sentido metafórico.
Desde a tradição medieval que é comum distinguir quatro sentidos possíveis no texto bíblico, a saber: 1) histórico ou literal, 2) alegórico ou cristológico, 3) tropológico ou moral e antropológico, e, finalmente, 4) anagógico ou escatológico.
A tradição hermenêutica é, pois, bem longínqua na história da Igreja. Conhecem-se dois extremos caricaturais, em traços deixados ao longo do tempo e ainda hoje presentes: de um lado, uma visão restritiva e estaticamente ortodoxa da autoridade da Igreja na interpretação bíblica e, do outro lado, uma personificação originalista, que não tem em conta a riqueza da tradição, nem a procura duma expressão comunitária de afirmar dinamicamente as verdades da fé. Caminhamos, ainda hoje, nesta tensão…
A criatividade é e continuará a ser um motor essencial de quase tudo. Não convém confundir, na vida como na arte, com o criativismo… que é mais um ‘ismo’, onde não importa nem o critério nem o discernimento.
Às vezes caminhamos no deserto e falta-nos luz… Mais do que a luzita, talvez importe a graça do desejo de querer ver. Aquela (a luzita) pode apagar-se, mas esta (a esperança), pode ter chama abundante…
A autoridade é essencial nos dinamismos educativos. A autoridade não nasce magicamente da função, não é dado adquirido e é, em certo sentido, pouco vinculável pela palavra. É antes uma consequência natural de uma forma de ser, coerente, lúcida e eficaz. Autoridade, convém sublinhar, é um conceito diferente, se não mesmo contrário, a autoritarismo (abuso prepotente do poder).
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 37-42
«Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim»
Principalmente para quem tem filhos ou filhas as palavras do Evangelho podem parecer chocantes. De facto, é difícil imaginar que se possa amar algo mais do que um filho. Pelos filhos, realmente, dão-se noites, dá-se o corpo, dá-se tudo, dá-se a vida! Jesus pede-nos para O amarmos mais ainda. Ele “usa” a realidade do amor paternal e do amor maternal para colocar a fasquia da entrega a Ele próprio. A entrega a Deus nunca poderia ser um holocausto de diminuição. O apontamento cristão será sempre do tipo ‘quanto mais humano, mais cristão, quanto mais cristão, mais humano’. Há uma coerência humanizante, pois, nesta (difícil e exigente) proposta: é que amando assim a pessoa de Jesus e inquietantemente repousado nos seus critérios e no seu horizonte de liberdade, ama-se mais e melhor, de facto, os filhos e as filhas…
Na sua encíclica Laudato Si, o Papa Francisco convoca-nos para uma ecologia definitivamente diferente, pessoal, global, espiritual e social. Em particular, mais do que gestos verdes (embora também), que podem até ser egocêntricos, está em causa a promoção da justiça e o cuidado dos descartáveis do nosso tempo.
A nossa vida, o nosso pensamento e a grande parte da nossa ciência desenvolvem-se num cenário espácio-temporal limitado, que é este mesmo. Há aquela pergunta fraturante: “existirá apenas e só esta matéria que somos?”. Pois poderá também perguntar-se: “existirá apenas e só este tempo e este espaço que habitamos?”
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 2, 41-51
«Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros»
Sabemos da nossa catequese que os critérios de Deus são diferentes dos critérios do mundo. Na nossa vida, porém, custa muito a aprender, interiorizar e viver esta mesma diferença. O que significa, aos olhos do mundo de hoje, a palavra “mais”? Algo de semelhante aos escribas de que Jesus fala no Evangelho: mais dinheiro, mais ostentação, mais poder, mais corpo, mais saúde, mais honras. Seria bom que lêssemos repetidamente esta passagem de Marcos e perguntássemos a nós próprios o que resta em nós de “estilo escriba”. Confrontemos este critério de “mais” dos homens, com aquilo que é “mais” para Deus. É libertador acreditar mas principalmente viver a ideia de que conseguimos despojarmo-nos e oferecermo-nos, tanto mais quanto nos aproximamos de dar tudo o que possuímos.