eternidades
Os meus raros momentos (dádivas) de quase vivência esmagante de eternidade são tecidos, apesar de tudo, de entregas plenas a instantes de presença agradecida.
Os meus raros momentos (dádivas) de quase vivência esmagante de eternidade são tecidos, apesar de tudo, de entregas plenas a instantes de presença agradecida.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 24, 35-48
assim está escrito, que o Messias havia de sofrer e ressuscitar
A frase do evangelho: “assim está escrito, que o Messias havia de sofrer e ressuscitar” é curiosa e muito sintética da nossa fé. Poderíamos resumir aquilo em que acreditamos na ideia vivida de que, como Jesus, entendemos (mais ainda, acreditamos e vivemos) que todo o sofrimento que a existência acarreta não é a última palavra. Convínhamos que em alguns redutos, incluindo religiosos, esta frase aparece truncada e apenas: “Assim está escrito, que o Messias havia de sofrer…”. Ora é uma afirmação não truncável, porque a Páscoa está a acontecer. Agradeçamos e vivamos em alegria a última parte não descartável, que ilumina a primeira: “…e ressuscitar”.
Há uma pergunta que nos deve ocupar, principalmente aos mais ativos na (pseudo)caridade: “faço isto porque os outros precisam ou porque preciso que os outros precisem de mim?…”
Impressionante como Chardin, já no início do século, intuia a força não literalista do pecado original: o Livro do Génesis não aponta o erro da transgressão mas o sublinhado do risco, do custo, dos limites e da incompletude da amorosa criação humana…
Martin Buber, o grande filósofo judeu, introduz-nos num acutilante relacionismo, de carácter não substancialista. “Eu sou porque tu és”. Não é uma radical novidade (a pessoa, depois de Tomás de Aquino, já se entrevia como uma relação) mas rediz-nos com linguagem de século vinte a cumplicidade entre o eu e o tu.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 20 19-31
Meu Senhor e meu Deus!
Nesta aparição aos apóstolos, é bom compreender que o ressuscitado é o crucificado (com as suas chagas). Jesus aparece no medo do túmulo fechado em que os seus amigos se encontravam. Talvez Jesus experimente e nos comunique que a paz se encontra ‘indo até ao fim’, no amor. Notar também essa personagem de Tomé que nos deixa o dilema de crer para ver ou de ver para crer. Tomé somos todos nós e irmana-nos e dá-nos alento uma fé que parte – como no nosso caso – da dúvida explicitada…
Há inspirações do existencialismos que me animam. Gosto muito e inspiro-me como dádiva face à máxima de Simone de Beauvoir: “aceito a grande aventura de ser eu…”
O conceito de vazio é sedutor, misterioso e complexo. O vazio temporal remete-nos para o seu avesso, para a eternidade, cheia de tempo. O vazio espacial leva-nos ao infinito cósmico. O vazio interior, por sua vez, é o passaporte do acolhimento do outro e da novidade que se nos abre…
O dinamismo da profissão de professor presta-se pouco a fechos e a sínteses, sendo mais coerente falar em portas e caminhos que se abrem. Esta é uma atividade gozosa, precisamente por ser um radical e constante livro aberto…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 14, 1-15, 47
ainda que todos te abandonem, eu não te abandonarei
A descrição da Paixão de Cristo, que meditamos em domingo de Ramos, é tão longa quanto profunda e repleta de sinais. Uma das formas de mergulhar neste texto é situarmo-nos nas diversas personagens e, em atitude criativa de composição do lugar, perguntar-se “quem sou eu neste cenário?” Pedro, que prometera não abandonar o Mestre, mas que o nega? Simão, o cireneu, que ajuda Jesus a levar a cruz? Um soldado? Um personagem incógnito que vê a cena mas não se envolve nem se co-move? Pilatos, que lava as mãos? O próprio Jesus? Maria, que assiste em envolvimento e dor? Barrabás, que se safa na frincha da sorte? O bom ladrão, que in extremis se arrepende e confia?…