ouro e pedra
Para a cultura yoga o desapego material expressa-se em ideias como a possibilidade de atingir a sensação plena e vivida de que o ouro não vale mais do que uma pedra. Inspirador…
Para a cultura yoga o desapego material expressa-se em ideias como a possibilidade de atingir a sensação plena e vivida de que o ouro não vale mais do que uma pedra. Inspirador…
O teólogo ortodoxo Olivier Clément faz referência às inspirações bíblicas de um “corpo animado” e de uma “alma vivente”. Este “dois em um”, no sentido inverso ao da dualidade corpo/alma, tão negativamente marcada na tradição cristã, é um convite à integração: (a menos de melhores termos) é corpo E alma. Também espreita certa ontologia essencial: não temos corpo e alma, SOMOS CORPO (relações) e ALMA (vida).
Amar, posso sempre…
Paradoxalmente, a fruição do momento presente, para ter qualidade, não é voraz, mas austera…
A pobreza espiritual é libertadora: é a abertura ao que acontece, à novidade. São as mãos vazias. É um certo ‘nada’ que acolhe como dom aquilo que o tempo e o espaço oferecem. Não é passividade, é uma pró-atividade que tenta melhorar o mundo com a riqueza da surpresa acolhida…
A conclusão, por parte de alguns não crentes, de que o aparecimento do universo dispensa qualquer dom criador de Deus parece basear-se numa quase artesanal concepção da criação. A afirmação de que Deus criou o mundo, afirmação comum ao cristianismo e a outras religiões, não pretende ser uma afirmação científica, no sentido em que esta expressão é hoje entendida. Quererá isto dizer que as explicações científicas e religiosas do mundo são radicalmente diversas, mesmo opostas? A dificuldade em responder a esta questão reside no facto de, por um lado, parecer conveniente distinguir as explicações científicas e religiosas do mundo e, por outro, parecer inconveniente criar um tal dualismo epistemológico que possa ser interpretado como um dualismo ontológico. O aforismo filosófico segundo o qual «distinguir não é separar» é a este propósito muito elucidativo. Embora seja conveniente reconhecer uma distinção entre Deus e o mundo, tal não significa que se deva afirmar igualmente uma separação entre ambos. Esta afirmação pode levar alguns a classificá-la como panteísta. Teilhard de Chardin parece ter defendido que Deus e o mundo partilham uma mesma história, e teve consciência de que poderia ser acusado de panteísmo. Cedo se demarcou de tal posição, mas isso não evitou que viesse, de facto e injustamente, a ser assim considerado.
Há uma ratoeira espiritual em que podemos fazer por não cair: esperar pela purga total, pela limpeza total, pela perfeição, para crescer e ser o que podemos ser. O caminho é dinâmico e faz-se caminhando, com a simbiose entre a purificação e a ação…
O corpo, para a cultura ocidental, incluindo na sua dimensão religiosa, pode apresentar-se como um obstáculo a transcendência. Nas espiritualidades orientais a grande prisão para a transcendência é o pensamento, e o corpo é, precisamente, um veículo para alcançar o espírito. Pessoalmente, procuro a síntese de tanto o corpo como o pensamento poderem ser veículos para aquilo que importa, que nos inclui e que nos transcende…
A escola antiga alinhava com a máxima de que «um professor não sente», em conformidade com adágios do tipo «um homem não chora». A racionalidade higiénica terá movido, no passado, a teoria e a prática das escolas: professores e alunos, firmes e hirtos, de ambos os lados da barricada da educação, durante muitos e longos anos. Em alguns excessos do presente das nossas escolas, porém, joga-se a confusão afetiva oposta: falta racionalidade e distância crítica aos professores, às gestões escolares, aos encarregados de educação e à tutela ministerial, para atuar com firmeza racional nas muitas situações que o exigem.
Os gregos antigos já investiram muito nesta quase inglória ‘definição do amor’. A tríada mitológica de eros, filia e ágape é uma bela inspiração. Somos tecidos destas três dimensões, ora sensual, ora de amizade, ora de radical alteridade desinteressada. Na geografia do nosso desejo temos morada para todas estas casas. Pode existir um certo tónus de progresso purificador, no caminho eros-filia-ágape. Mas é preciso ter muito cuidado com as desintegrações. Uma ágape sem o exercício da amizade e sem certa sensualidade, mesmo que mística, é um esqueleto sem corpo, é uma sublimação inconsistente…