pôs-se a caminho

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 1, 39-45

pôs-se a caminho

Em tempos de Advento recentramo-nos em Maria, que explicita três aspetos fundamentais: fé, aceitação e risco. Maria colocou os meios ao serviço da sua missão: saiu do sofá e foi ter com alguém… a quem ajudou e através de quem foi ajudada. Seduz-nos este estilo de Maria, singelo, alegre e descomplicado. Muitas vezes estamos bloqueados e não nos colocamos a caminho. Notar que também ai Deus está connosco. Ele não está presente com condições e como resultado dos nossos méritos mas porque nos ama, sempre. Com esta confiança, podemos também fazer a nossa parte e buscar os recursos que precisamos para ser o que podemos ser. Raramente o conseguimos sozinhos. Há neste texto um duplo movimento, inspirado em Maria: pedir ajuda sempre que precisamos, indo ao encontro das pessoas certas, que nos acolhem como nós somos. Por outro lado, sermos também nós abertos a sermos ajudadores de quem nos procura…

JP in Espiritualidade Frases 18 Dezembro, 2021

ki, chi, forças e energias

Na cultura zen identifica-se uma certa força/energia, diante da qual todos se inclinam. É chamada “ki” pelos japoneses e “chi” pelos chineses. Pela minha formação em ciências exatas, tenho certa antipatia pelo uso dos termos energia e força no campo espiritual. Prefiro energia como, por exemplo, o produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz e força, por exemplo, como a capacidade de alterar o estado de repouso ou movimento de um corpo ou de o deformar. Mas são só palavras… Seja lá o que for, em “ki”, “chi”, “espírito” ou o que as palavras não abarcam, intuo um “qualquer coisa” experimentável, que move também a minha confiança e que me desenha como pessoa de fé…

JP in Espiritualidade Frases 14 Dezembro, 2021

«O Senhor exulta de alegria por tua causa» 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Sof 3, 14-18a
«O Senhor exulta de alegria por tua causa»

As leituras do Antigo Testamento são por vezes áridas e difíceis, mais carentes de exegese. Por mais que se compreenda e viva fascinado pela novidade de Jesus, Ele mesmo só se compreende enquanto contínuo da tradição judaica. Em certo sentido, se Jesus é a chave, o judaísmo é a porta… Este texto de Sofonias coloca-nos no cerne da fé, na alegria de Deus pela existência de cada um. É, em certo sentido, a fé de Deus nos homens. É, sem certo sentido, Deus que arrisca em nós. E que libertador pode ser ter esta matriz de doação, de bênção. Sim, uma bênção com um custo. Uma rosa com espinhos. Mas, ter fé, aceitar a fé de Deus em nós, é escolher, focar-se e viver a beleza da rosa, apesar dos espinhos…

JP in Espiritualidade Textos 12 Dezembro, 2021

paciências…

A paciência tem duas dimensões: 1) comigo e 2) com os outros, com a vida, com o mundo e com Deus. A paciência comigo mesmo é uma procura que convém aceitar pois ajuda muito as restantes paciências…

JP in Espiritualidade Frases 6 Dezembro, 2021

«peço sempre com alegria por todos vós» 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Filipe 1, 4-6.8-11 
«peço sempre com alegria por todos vós»

Paulo, apóstolo enérgico, vital, empreendedor e mobilizador (nem por isso imaculado e, portanto, sujeitável a um olhar histórico-crítico…), empresta-nos nesta carta à comunidade dos filipenses um verdadeiro sentido do “nós”. Viver, estar e ser em Igreja, tem um potencial de autodescentramento, de nos polarizar num crescimento comum. Rezamos “Pai nosso…” e não “Pai meu…” e, isso mesmo, é símbolo de um convite mais coerente e amplo para uma vida espiritual comunitária. Rezarmos uns pelos outros é diferente de ‘pedinchar’. Na linha de Paulo, será pedir e contribuir para o dom da alegria de cada um, em todas as  circunstâncias. Rezar pelos outros é pedir desde logo a abertura para que as minhas mãos os beneficiem e sejam mãos capazes de aliviar jugos e promover esperanças em cada um.

JP in Espiritualidade Textos 4 Dezembro, 2021

outros carismas

Sobre outros carismas e espiritualidades, eis a colocação mais libertadora: “com outras linguagens, tendem à mesma procura!”

JP in Espiritualidade Frases 30 Novembro, 2021

«a vossa libertação está próxima» 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 21, 25-28.34-36
«A vossa libertação está próxima»

Começa para os cristãos católicos romanos o chamado tempo de Advento, de espera, de esperança e, em certo sentido, de preparação para os brotares do tempo. Os ciclos litúrgicos são um ritual ajudante, uma pedagogia, um convite de consciencialização comunitária para os movimentos do espaço, do tempo e do espírito. Mas estes ciclos maiores reproduzem-se no dia-a-dia. Hoje mesmo, na linha do texto proposto, provavelmente, vou viver sinais fantásticos que a natureza me oferecer, vou viver angústias interiores e exteriores, vou-me ver lançado em dilemas complexos, vou deixar-me provocar por esperanças, encontros e desencontros. Vou, com toda a certeza, fazer pontes de Páscoa, em que mortes geram vida. Portanto, o Advento, o Natal, a Quaresma, o Tempo Comum e a Páscoa, são, mais do que ciclos litúrgicos, ciclos de vida quotidiana. Preparar, vigiar e dar toques de esperança e de futuro ao que sou e ao que faço, isso é vida, isso é Advento…

JP in Espiritualidade Textos 28 Novembro, 2021

Pai nosso ontologizado

Pai Nosso ontologizado

Pai nosso

que estás aqui.

Sejamos

o pão para

cada outro.

Sejamos

o perdão

que nos queres dar.

Sejamos tudo em todos

além da tentação

de partir

… em pedaços

não inteiros

nem verdadeiros,

sombras de mal…

JP in Espiritualidade Poemas 26 Novembro, 2021

«é como dizes: sou Rei» 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 18, 33b-37
«É como dizes: sou Rei»

A linguagem dos reis e dos reinados é muito específica e bastante presente nos livros da Bíblia. Com Jesus, em particular, há um confronto agudo e sistemático com vários reinados. Jesus é e assume-se como Rei mas, para os seus seguidores (porventura alguns de nós) importa clarificar que Rei é este e quais as caraterísticas do seu reinado. Notar que este texto precede a Páscoa, a passagem da morte à vida, o enorme gesto amoroso. Mais ainda, paradoxalmente, o reino de Jesus (a chave dos Seus critérios) é a originalidade do ‘despoder’. Isto é, o poder é não poder, é a doação e a entrega. Podemos perguntar-nos se estes critérios nos seduzem, se viver neste reinado despoderado nos interessa, se faz sentido ser súbdito deste rei-escravo… se servir, nos enche a alma…

JP in Espiritualidade Textos 20 Novembro, 2021