preces…
A prece é uma triangulação: eu (ou nós), a realidade e Deus… mas um Deus nem marioneteiro, nem manipulável, nem surdo…
A prece é uma triangulação: eu (ou nós), a realidade e Deus… mas um Deus nem marioneteiro, nem manipulável, nem surdo…
Deus não nos leva ao colo, digo eu. Dá-nos “colo” e depois mete-nos no chão, como a Mãe da criança que promove a cria…
Quanto aos milagres, precisam claramente da nossa fé para o serem. Espreitam, tais milagres participados, muito mais no vulgar do que no espetacular, muito mais no ordinário do que o extraordinário…
Uso com algum risco o termo ‘insignificância’, quando me ‘entalam’ com perguntas, face a episódios descritos na Bíblia, do tipo: “aconteceu ou não, fisicamente falando?’. O que quero dizer é que a fisicalidade de alguns relatos nuca será o mais relevante. Porque as questões de fé pedem sempre fé, com maior ou menor apoio nas convicções que determinado acontecimento se processou tal e qual nos chega hoje nos relatos das escrituras. Note-se que até os apóstolos que “viram o Senhor” (e o que será ‘ver’?), não são dispensados de fé, para crerem e, principalmente, para viverem a Ressurreição de Jesus…
A cena bíblica dos irmãos Abel e Caim é plena de complexidades e contém ingredientes de clara violência (como a vida…). Há uma pergunta arrepiante que é lançada, absolutamente crucial e cheia de potencial ecuménico. É a pergunta de onde podemos partir para nos situarmos no plano pessoal, histórico, cultural e teleológico. É uma questão simples: “onde está o teu irmão?”…
A ideia de pessoa, que deriva de “persona”, relaciona-se com o teatro grego e seria, “o que está por trás da máscara…”. É, em todo o caso, mesmo no seu dinamismo etimológico, o “único e irrepetível”. Expoente máximo de pessoa, contudo, encontro-o na complexa mas inspiradora tensão da Trindade cristã: mais do que indivíduo, ali se sublinha a relação. Tal inter-alteridade, em que nos projetamos nós mesmos, é o cerne da pessoa que se É…
A fé (ao contrário da ciência) está para além da evidência…mas não é negada pela evidência.
A Ressurreição é relação. É Páscoa. É passagem, é ligação que está a acontecer. É ponte entre morte e vida, é a nossa inteireza, nós que somos fragmentados, mas que temos desejo de unidade…
Em sábado de Semana Santa há um convite para acolher as trevas, o tempo de que precisamos para chamar ao sofrimento e à morte os nomes que são esses mesmos…
Uma oportunidade de visitar o nosso túmulo, as nossas próprias sombras. Nenhuma vida, muito menos uma vida nova, brotará da fuga daquilo que somos. Portanto, desde já afagados pela companhia duma ressurreição garantida, saibamos visitar a realidade radicalmente frágil que somos. Só conhecendo-a e aceitando-a, poderemos ressuscitar, num amanhã que se antecipa.
Lava pés: o papa, os cardeais, os padres, representando Jesus, lavam os pés dos outros.
Este era um sinal de serviço, de escravidão. Quem lavava os pés eram os escravos…
Duas coisas muito importantes nesta passagem:
1- O ensinamento mais comum é sobre a importância de servir, de servir o outro e não de viver a vida a ser servido mas a servir. Quando nos
distraímos queremos ser príncipes e princesas, mas a verdadeira liberdade está em sermos ‘escravos’ dos outros, em amar os outros.
2- Jesus disse a Pedro, que não queria que o Mestre lhe lavasse os pés:”o que te faço, não compreenderás agora mas depois”. Esta frase pode ajudar-nos muito
nas dúvidas de fé (eu, às vezes – também tu? – pergunto-me se Deus existe mesmo…). É que Deus nem sempre se mostra óbvio e nem sempre
se compreende. Mas qual a novidade desta passagem? É que Deus se entende, se comunica, em Jesus, quando Ele nos lava os pés. Isto é, a chave de leitura da fé é o serviço de Deus e de tantas pessoas que nos amam, que nos servem. Só se tem fé quando se deixa que Deus nos lave os pés, nos mime, nos ame (muitas vezes através de outras pessoas, como amigos, Pais, padrinhos… oxalá…). Uma vez de ‘pés lavados’ com o amor de Deus, sentimos a missão de, também nós, sermos
‘lavadores de pés’, isto é, Cristãos.