Igreja e sinal eficaz
A Igreja, no seu confronto autocrítico sistemático, tem de se atravessar constantemente na pergunta: estamos a ser instrumento de sinal eficaz de Cristo para o mundo?
A Igreja, no seu confronto autocrítico sistemático, tem de se atravessar constantemente na pergunta: estamos a ser instrumento de sinal eficaz de Cristo para o mundo?
Nunca foi tão urgente como hoje a abertura francamente dialogante às outras linguagens e aos outros olhares sobre o mundo. Diz bem Justin Smith, grande historiador das religiões: “quem só conhece a sua religião não sabe o que é a religião…”
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 19-45
«tira primeiro a trave da tua vista»
É típico do ser humano ser mais acutilante e crítico para os outros do que para si próprio. São inúmeras as vezes, porém, em que criticamos nos outros aquilo que, de forma mais ou menos subtil, também fazemos. O Evangelho lembra-nos a grandeza da auto-conversão. Não se trata, obviamente, de nos centrarmos em nós mas sim de sermos capazes de parar, de refletir sobre nós, de nos rasgarmos. Só assim, conhecendo-nos a fundo e gostando francamente de nós próprios, poderemos amar os irmãos. As “fugas para a frente”, passando ao lado do que somos, mesmo à sombra de bandeiras religiosas, será sempre inconsistente…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 6, 27-38
«amai os vossos inimigos»
Poucos duvidam que a leitura da passagem de Lucas 6, congrega a mais difícil (mas também a mais original) “empreitada cristã”: a centralidade do perdão, que é (hiper)doar, pode também ver-se neste prisma de amar os inimigos. Neste texto há um conjunto de frases quasi-sinónimas, que, apesar de radicais e quase contra-natura, podem ser inspiradoras: “fazei bem aos que vos odeiam”, “abençoai os que vos amaldiçoam”, “orai por aqueles que vos injuriam”, “a quem te bater com uma face, apresenta-lhe a outra”, “a quem te levar a capa, deixa-lhe também a túnica”, “ao que te levar o que é teu, não reclames”…
A ESTRELA
Queria
ser um pedaço
daquelas palavras.
Parei por semáforos.
O fumo suspenso
gerava a densa
poluição.
Olhei,
a toda a volta no céu,
e nada vi.
Olhei de novo,
vasculhei.
vi, finalmente,
uma estrela,
disse olá a Deus…
e ficou verde!
…in Paiva, J. C. (2000), Este gesto de Ser (poesia), Edições Sagesse, Coimbra.
acessível aqui
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se 1 Cor 15, 12.16-20
«Se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa fé»
A frase de Paulo aos coríntios é bem conhecida dos cristãos e mote de muitas pregações e escritos espirituais. Propõe-se uma ligeira mudança no sujeito da frase “se eu não ressuscito é estéril a minha fé”. Esta frase, traduzida em vida, significa um claro respeito pelas minhas lágrimas, pelas minhas tristezas e pelas minhas “mortes”, mas um olhar sobre o horizonte, mais do que para os próprios pés cansados. Ressuscitar é recomeçar! E este respirar é tanto um alento existencial, como, principalmente, um mote para cada desafio de cada minuto, de cada espaço da nossa vida.
Podem apontar-se três sínteses fundamentais para os nossos tempos: a síntese da transcendência, por via da mística, a síntese da humanidade, por via da ética e a síntese cósmica, por via ecológica. A visão do Papa Francisco sobre a nossa “casa comum”, de alguma forma, faz a síntese destas três sínteses: é que o apontamento ecológico de Francisco contém mas supera a ecologia natural, incluindo, por isso, no “ser ecológico”, o “ser humanista”, o “ser transcendente”, o “ser social” e, assim, o “ser cósmico”.
A pergunta é vital, em particular nas relações humanas, na filosofia e na ciência. Em certo sentido, morremos em formato de pergunta… como Cristo…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Lc 5, 1-11
«Deixaram tudo e seguiram Jesus»
Os cristãos, em última análise, são frágeis seguidores de Jesus, o Cristo. O relato de Lucas fala-nos de pesca, de abundância, de deixar tudo e seguir Jesus. A pesca corria mal mas a presença de Jesus trazia abundância. Fascinados com essa plenitude resultante da amizade com Jesus, os discípulos mudaram a orientação da sua pesca, deixaram tudo e tornaram-se “pescadores de homens”. Os critérios de Cristo convidam-nos a uma recentralidade humanista: são os outros homens e mulheres que nos importam. Os cristão podem provocantemente perguntar-se: Que pesca fazemos? Como “convocamos” Jesus para nos acompanhar naquilo que nos importa? Como sentimos a abundância da Sua presença? Que mudanças somos capazes de fazer para O seguir, “pescando” de outra forma?…
Graças a Deus (aconteça o que acontecer)! Em rigor, com uma fé sólida, não se prescinde do parêntesis, que é, a bem dizer, o fulcro da própria fé.