Galileu e a Igreja…
Galileu foi obrigado pela Inquisição a negar o que, na senda das suas observações e num ambiente de emergência da metodologia experimental, descobrira. Até Galileu imperava a teoria geocêntrica. A Terra como centro do mundo era muito mais do que uma noção de conhecimento sobre o mundo: tinha implicações culturais, sociais, filosóficas e religiosas.
Galileu deu enquadramento científico às ideias lançadas pelo monge Nicolau Copérnico, muitos anos antes, defendendo a teoria heliocêntrica.
Retirar à Terra o estatuto de centro do universo seria também profanar a «casa» da Humanidade e, em certo sentido, tirar alicerces à ideia da criação do universo por Deus. As ideias cosmológicas de Aristóteles, apresentando a Terra no centro, eram mais confortáveis para as mentalidades da época e para o respetivo encaixe nas escrituras.
A Inquisição, instituição «fiscalizadora» da Igreja à sombra da qual se cometeram os actos mais anticristãos, limitou, naturalmente, o genial pensador. Conta-se que Galileu, depois do julgamento no qual foi condenado, terá dito, convicto das suas ideias, a frase «Eppur si muove!», isto é, «porém, ela move-se», referindo-se à Terra. Há quem aponte, com razão, que Galileu é o pai da ciência moderna.
O papa Urbano VIII e alguns jesuítas terão «blindado» piores consequências para este visionário, mas a mentalidade da época e o eclodir do protestantismo, que provocou na Igreja Católica uma atitude defensiva, não evitaram a sua condenação.
Seria, porém, simplificar demasiado a questão reduzi-la a uma simples cegueira da Igreja Católica. Alguns contemporâneos de Galileu, como, por exemplo, o dinamarquês Tycho Brahe, que utilizava um dos melhores observatórios astronómicos do tempo, defendiam um sistema geocêntrico modificado, que era muito popular entre os astrónomos. Além disso, há que ter em conta que uma das provas decisivas do heliocentrismo, a paralaxe das estrelas, não pôde ser apresentada por Galileu, dado que os instrumentos de observação astronómica de que dispunha não tinham qualidade suficiente para a verificar. Embora houvesse muitas evidências empíricas em favor da teoria heliocêntrica, Galileu não dispunha de uma prova conclusiva, que confirmasse definitivamente esta teoria.
A Igreja Católica, em várias ocasiões e de várias formas, já pediu desculpas públicas pelas injustiças que protagonizou em nome de Deus, na altura da Inquisição e, concretamente, no caso Galileu. Hoje, felizmente, o diálogo da religião com a ciência é diferente. Porém, para alguns, apanham-se ainda os «cacos» desta autêntica revolução. A teologia, focada na centralidade da Terra e do Homem, teve e tem ainda de se ajustar às evidências galilaicas e da cosmologia contemporânea, segundo as quais a Humanidade se encontra num universo diferentemente organizado e de proporções muito maiores do que se pensava.