religiões
Sobre religiões comparadas (exluindo o sociologicamente patológico) podemos avançar, no máximo, em ‘bom versus melhor’, com a humildade radical de quem sabe que não há luzes sem sombras nem sombras sem luzes no tatear do mistério.
Sobre religiões comparadas (exluindo o sociologicamente patológico) podemos avançar, no máximo, em ‘bom versus melhor’, com a humildade radical de quem sabe que não há luzes sem sombras nem sombras sem luzes no tatear do mistério.
É uma grande arte encarar e, muitas vezes, explicitar as fragilidades próprias. O declamador João Vilarett contava uma história curiosa, a seu respeito, que o levou a preferir, neste contexto, encarar as situações em vez de fugir. Já numa fase avançada da sua vida profissional, encontrava-se a dizer um poema para uma vasta audiência (nada de muito diferente daquilo a que estava habituado). Podemos imaginá-lo, «Tocam os sinos na torre da igreja…». Começou a tremer da mão e reparou nisso. Não devia, com a sua rodagem, estar nervoso naquela ocasião. Dialogava consigo mesmo, dizendo «Como podes estar nervoso numa coisa destas, depois de tantas e tantas experiências, ao longo de muitos anos?». Mas cada vez a sua mão tremia mais e ele mais se distraía. E a coisa estava mesmo a correr mal, enganava-se nas falas… e continuava a lutar. A páginas tantas, resolveu interromper a actuação e dizer em voz alta: «Estou a tremer da mão: vejam lá, tantos espectáculos realizados e eu a tremer da mão». Riu-se de si próprio e prosseguiu. O tremor parou. Conta-se que, depois, foi das melhores actuações que fez. Vale a pena encarar e explicitar as fragilidades próprias…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 1-15
Jesus pegou então nos pães, deu graças a Deus e distribuiu-os à multidão
Este trecho do Evangelho referente ao milagre da multiplicação dos pães é muito mastigado no plano teológico e apostólico. Parece ser consensual, contudo, além do sinal da abundância, que há um véu que se entreabre no sentido de Jesus convocar os homens (cada um de nós) para o grande sonho da partilha. Há perguntas que nos podemos fazer, com algum alcance de crescimento, diante desta convocatória para receber, distribuir e partilhar: que pão me faz falta? Sendo eu aquilo de que me alimento, de que me encho? Que pão acumulo? Que pão partilho? Que pão poderia partilhar mais?
Na metáfora contemporânea do turismo desenfreado e irrequieto, acho graça à generalização de tirar milhões de fotos. A maioria de nós, depois, não seleciona essas fotos, não as contempla e nem as embrulha de memórias. São hipercliques, não fotos… Seria melhor olhar mais e fotografar menos?…
A justiça contém mas ultrapassa o contexto jurídico. É um caminho dinâmico e tateante. Procura sempre a retribuição na proporção… justa, passo a redundância. Acontece que a vida, de per si, merece os mínimos de dignidade e, portanto, não haverá justiça enquanto houver fome.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 22
O Senhor é meu pastor: nada me faltará
O refrão do salmo pode ser colocado de uma outra forma: para que nada me falte, para ter o coração cheio de amor e sentir plenitude, é bom fazer com que Deus seja o meu pastor. Para ser feliz (é esse o desafio da fé), é bom deixar-me conduzir pelos Seus critérios, iluminar-me pela Sua luz, ir para onde Ele vai, amar como Ele ama. Todos nós temos sede e procuramos que nada nos falte. Às vezes tentamos saciar-nos do que não sacia, deixando-nos guiar por outros pastores…
A humildade, porque é muito central e virtuosa, torna-se difícil de dizer. Aprecio esta abordagem: “a humildade é ser o que se é, aberto à novidade, consciente dos próprios limites”.
Há várias aproximações à filosofia. Umas das mais harmoniosas, no ritmo e no conteúdo, é esta: “pensar sobre o que pensamos, para nos pensarmos melhor”.
Fracassar não é para todos, é um verbo a conjugar pelos que desejam crescer. Não há dúvida que é preciso subir para cair, ou que só se cai quando se sobe.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 6, 7-13
ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão
As palavras que Jesus dirige aos Seus companheiros, por ocasião do envio (da missão, da missa…), são de importância vital. Ele prepara os discípulos e estabelece algumas condições para o apostolado. Enquanto apóstolos de Jesus, há que meditar nestas palavras e afinar o estilo apostólico, que deve ser o de Jesus. Lembremo-nos, nomeadamente, que o caminho deve ser feito de mãos vazias, só com o bastão, prontos a acolher os outros e as suas vidas. A ideia de esvaziar a mochila e partir de mãos mais abertas é uma inspiração de vida, neste tempo em que a contingência se entrelaça com excessos securitários. Deixemos em casa o que nos pode pesar…