reconhecer

Nas culturas, na história, na vida de todos os dias, o outro pode: ser negado (tribalismo), ser absorvido (imperialismo) ou ser reconhecido (pluralismo). Cada um que reconheça em si, as suas zonas ainda ativas de tribalismo e imperialismo…

JP in Frases 8 Setembro, 2021

desobstaculizar…

Gosto do termo “desobstaculizar” na metáfora apostólica. É libertar obstáculos para entrar a luz, o pouco que podemos fazer…  O resto, é militância religiosa duvidosa…

JP in Frases 6 Setembro, 2021

ouvarei o Senhor toda a minha vida

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Slm 145

louvarei o Senhor toda a minha vida

Louvar é bem dizer e pode ser um bom respiro. Fixemo-nos na expressão final do verso do salmo, isto é: “toda a minha vida”. A sociedade (não só hoje mas desde sempre), como a própria contingência do homem, é muito virada para o provisório. A nossa felicidade, por outro lado, tem muito a ver com uma certa esperança e confiança no futuro. Sem deixar escapar o presente (antes potenciando o “já”), vale a pena viver, se a nossa vida for uma vida com futuro! Louvar o Senhor, hoje, é bom. Melhor ainda, expressão de fidelidade libertadora, é louvar o Senhor, hoje, querendo também louvá-Lo “toda a minha vida”. Ser feliz, não só pelas (tantas) coisas boas que tenho hoje, materiais e espirituais, mas, principalmente, porque a fé me dá a graça de saber que serei feliz amanhã, aconteça o que acontecer…

JP in Espiritualidade Frases 4 Setembro, 2021

ajuda e autonomia

Há uma tensão infinda entre ajuda e promoção de autonomia nos dinamismos pedagógicos. Se a missão do professor é, por um lado, ajudar o aluno, não é menos verdade que, quanto mais autónomo for o indivíduo, mais eficaz será a educação. Mas ninguém nasce autónomo e há que ir escolhendo a medida certa, no sentido de conseguir a maior autonomia possível. A ajuda preciosa, afinal, de pais, educadores e professores é a ajuda para a autonomia!

JP in Educação Frases 2 Setembro, 2021

Eu e a dona Aurora: ambos cegos tateantes

Paiva, J. C. (2021). Eu e a dona Aurora: ambos cegos tateantes. Site Ponto SJ, 6-06-2021.

Disponível aqui

Noutro dia vinha da feira, a pé, numa caminhada de uma horita. Coisas da vida aldeã. Uma rampa enorme apresentava ao longe uma senhora vergada, puxando um carro de compras com uma mão e arrastando-se com uma bengala na outra mão. Impressionava a sua resiliência. Ofereci-me para levar o carrinho até sua casa, imaginando que morava no topo daquela colina. Hesitou primeiro, deixou depois. Explicou-me onde morava, lá deixei as compras e segui viagem. A partir daqui é imaginação.

Quando a dona Aurora chegou a casa, aliviada, mas mesmo assim cansada, tomou um copo de água, suspirou, sentou-se no sofá e rezou: “agradeço-te, Senhor, por me teres enviado um anjo que me trouxe as compras e me aligeirou o jugo”.

As intercomunicações celestiais entenderam por bem informar o próprio anjo, eu mesmo, daquela prece. Comecei a processar aquela informação, não tanto por ter sido eu o anjo. Porque às vezes também sou mafarrico e porque os anjos é que lucram, mais do que os que são alvos das suas setas. A minha matutatação era intelectual, teológica, cosmovisionária. Permito-me partilhá-la – tal matutação – não tanto pelo seu processo, não tanto pela tese em si, mas pela sua explicitação final. É no ponto de chegada, que dá título a esta reflexão, que pode morar alguma centelha.

A dona Aurora imagina o Céu onde Deus monitoriza o mundo. As cortes do paraíso estão ao serviço do Senhor, que manda aqui e ali fazer alívios e intervenções, curas e auxílios. Fosse Aurora extrapolada culturalmente para adiante e imaginaria uma central robótica cosmocontroladora, com câmaras de filmar expiando todos os passos e cabelos do mundo. Uma panóplia de circuitos integrados que ativariam vários anjos, para as ações que comprovariam os sinais divinos.

Ora eu tenho outra cosmovisão, outra teologia e outro entendimento da ação de Deus no mundo. Impressiona-me o mal e o bem, a ferida e a bênção, a dor e beleza, a morte e a vida. Mas há um traço de liberdade, do horizonte do risco de Deus, que é mistério, mas que existe. É o resultado prático desta vida que vale a pena e que resulta da fé de Deus em nós e no mundo, amorosamente criado para todos. Deus arrisca. Arrisca fazer de homens anjos, arrisca a liberdade de todos e de cada um. Arrisca até o pulsar da natureza e do cosmos. Por isso a Terra treme e os vulcões bufam. Arrisca a dor da fricção das vontades e dos corpos. E há acidentes… Arrisca convocar-nos. Cria e está mas, ao mesmo tempo (que paradoxo!), deixa ar para o respiro da liberdade. Mais ainda, convoca homens e mulheres para construir o Seu sonho e não se impõe e talvez nem sequer peça, antes se propõe. Por isso também há doenças mas há quem salve (e se salve…) curando-as… É também por isso, porque Deus só pode o que o amor pode e o amor tece-se da íntima liberdade, que há faltas de comparências de anjos em muitos teatros de incompletude. Em alguns desses cenários de injustiça, falto lá eu… e com culpa.

Deste meu constructo – sim, talvez fruto da razão, do fluxo greco-latino, do iluminismo, da ciência, da cultura deste tempo – sai também alguma ‘cerimónia’ na petição a Deus e na forma como reconheço os Seus sinais na minha vida e no circo onde se movem as criaturas humanas. Não peço que me apareçam anjos nem que as doenças me larguem. Não peço chuva na seca nem sequer que o covid19 se vá embora. Posso desejar alívios, mas impõe-se-me esta abertura ao que vem, de mãos vazias. Impõe-se-me pedir para receber o tudo em nada e o nada em tudo. Impõe-se-me pedir que veja mais longe, que respire mais puro e que alcance mais alto, tanto na saúde como na doença, tanto na riqueza como na pobreza, tanto na honra como na desonra. Peço por mim e por todos, peço certa salvação e a nossa salvação. Peço para saber estar no silêncio e na soledade de hoje e de amanhã. Peço paz, adesão, fidelidade, coragem e alegria. Peço para saber pedir nada. Portanto peço.

Poderei mudar os meus horizontes mas, provavelmente, não vou mudar radicalmente a minha forma de ver o mundo, a minha forma de rezar e pedir, a minha forma de me entender e abraçar o que existe. Eu e a dona Aurora vemos o mundo de forma diferente, por isso também Deus e as coisas de Deus sobre o mundo. Somo flores diferentes de um mesmo jardim, ângulos diferentes a olhar um mesmo destino. Somos mundo, somos comunidade, somos porventura Igreja (com I grande e aberto), eu e ela. Nenhum melhor que o outro, ambos cegos tateantes de um Deus que se não consegue dizer. Somos anjos que se cruzaram num instante de paraíso.

JP in Sem categoria 30 Agosto, 2021

negligenciam os mandamentos de Deus e apegam-se às tradições dos homens

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 7, 1-8

negligenciam os mandamentos de Deus e apegam-se às tradições dos homens

As palavras de Jesus para os fariseus apresentam um enorme potencial autorreflexivo para a Igreja. O apego a certa tradição, como se tal tradição fosse o próprio Deus é, ainda hoje, aqui e ali, um problema agudo no seio da Igreja. Não se nega o valor da tradição mas evidencia-se, pelas próprias palavras de Jesus, o perigo de, em nome dessa tradição, se negligenciarem as propostas cristãs e, especificamente, o mandamento do amor ao próximo. Hoje como ontem há fariseus por muito lado. Há também, porventura, um “fariseu” dentro de cada um de nós…

JP in Espiritualidade Frases 28 Agosto, 2021

ainda não

“Ainda não sei, ainda não consigo, ainda não sinto… “. Vamos morrer nestes termos, cheios de “ainda nãos”…  Portanto, a graça a pedir é saber estar nesta bela e oferecida barca do “ainda não”…

JP in Espiritualidade Frases 26 Agosto, 2021

rio que corre para o mar

Das analogias da natureza que mais encaixa na metáfora humana que nos entranha, destaco a de que somos um rio que corre para o mar. Neste sentido, resistir seria evitar o ser. Deixar-se ir, pelo contrário, seria encontrar-se com a essência do mar…

JP in Frases 24 Agosto, 2021

Para onde iremos, Senhor, se só Tu tens palavras de vida eterna?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 60-69

As palavras de Pedro vêm ao encontro de uma experiência interior pela qual as pessoas de fé vão passando: a sensação de podermos estar enganados, de estarmos a perder oportunidades, o sentimento de estarmos equivocados na fé, de termos, tão só, inventado Deus. Estas palavras são as mesmas que podemos dizer quando estamos ao lado de Jesus: “Para onde iremos, Senhor, se só Tu tens palavras de vida eterna?”. Disse Pedro estas palavras e podemos nós hoje dizê-las, porque experimentamos, na nossa própria vida, a liberdade de seguir Jesus. Há uma ambiguidade na fé vivida que se tensiona entre a dúvida, a convicção e uma certa inevitabilidade…

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXI DO TEMPO COMUM

L 1 Js 24,1-2a.15-17.18b; Sl 33 (34),2-3.16-17.18-19.20-21.22-23
L 2 Ef 5, 21-32
Ev Jo 6, 60-69

conflito

O medo do conflito, em muitas circunstâncias, pode ser pior do que o próprio conflito. O equilíbrio a procurar é o de saber conflituar.

JP in Frases 20 Agosto, 2021