É uma grande arte encarar e, muitas vezes, explicitar as fragilidades próprias. O declamador João Vilarett contava uma história curiosa, a seu respeito, que o levou a preferir, neste contexto, encarar as situações em vez de fugir. Já numa fase avançada da sua vida profissional, encontrava-se a dizer um poema para uma vasta audiência (nada de muito diferente daquilo a que estava habituado). Podemos imaginá-lo, «Tocam os sinos na torre da igreja…». Começou a tremer da mão e reparou nisso. Não devia, com a sua rodagem, estar nervoso naquela ocasião. Dialogava consigo mesmo, dizendo «Como podes estar nervoso numa coisa destas, depois de tantas e tantas experiências, ao longo de muitos anos?». Mas cada vez a sua mão tremia mais e ele mais se distraía. E a coisa estava mesmo a correr mal, enganava-se nas falas… e continuava a lutar. A páginas tantas, resolveu interromper a actuação e dizer em voz alta: «Estou a tremer da mão: vejam lá, tantos espectáculos realizados e eu a tremer da mão». Riu-se de si próprio e prosseguiu. O tremor parou. Conta-se que, depois, foi das melhores actuações que fez. Vale a pena encarar e explicitar as fragilidades próprias…