irresponsabilidade existencial
Ser responsável, no seu contexto etimológico, significa “ser capaz de dar respostas”. Admitamos que todos nós, ainda que uns mais do que outros, temos certa irresponsabilidade existencial!…
Ser responsável, no seu contexto etimológico, significa “ser capaz de dar respostas”. Admitamos que todos nós, ainda que uns mais do que outros, temos certa irresponsabilidade existencial!…
Na procura do meu caminho, não bastam as necessidades do mundo para mergulhar numa qualquer decisão de entrega. Esses apelos, apelam por mim, mas terão de convergir, a par da demanda do mundo, com as minhas competências e com o meu desejo. Para que, numa fusão feliz, o meu serviço convirja com a minha alegria e com as minhas possibilidades…
A justiça contém mas ultrapassa o contexto jurídico. É um caminho dinâmico e tateante e procura sempre a retribuição na proporção… justa, passo a redundância. Acontece que a vida, de per si, merece os mínimos de dignidade e, portanto, não haverá justiça enquanto houver fome. Que esta injustiça me incomode e mova, é o que eu peço e desejo…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Ef 5, 15-20
As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor
Da carta aos efésios podemos destacar aquilo que tipicamente retemos nos ouvidos, mais pela negativa do que pela positiva, convenhamos: “As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor”. São razoavelmente conhecidas as atenuantes hermenêuticas desta passagem: 1) a imersão histórica num período outro, onde a realidade (da mulher) era o que era; 2) a colocação em contexto, que refere em paralelo, adiante na mesma carta, o convite a que os maridos amem as esposas; 3) uma revisitação semântica da palavra submissão que, “esticada”, possa ter algo a ver com o amor. Tudo muito bem mas… As coisas ficam no ouvido (e na alma, e na civilização, e nas feridas…). Não seria arriscado afirmar que esta frase, numa mistura explosiva de embrulho religioso e silenciamento, terá animado muita violência doméstica, que ainda hoje afeta e infecta a vida de tantas mulheres. Uma hermenêutica de maior rasgo e realismo, portanto, incluindo até uma certa contra modelagem semântica, pode levar-nos ao âmago do Evangelho: o convite à liberdade interior de toda a humanidade e, portanto, sem exceção nem submissão a todas as mulheres da Terra. Mais ainda, tal proposta de liberdade, pode (e deve) incluir ruturas, em caso de linhas vermelhas como a violência física.
L 1 Pr 9, 1-6; Sl 33 (34), 2-3. 10-11. 12-13. 14-15
L 2 Ef 5, 15-20
Ev Jo 6, 51-58
Um Deus que se inventa? Admitamos que sim… A experiência da fé, muitas vezes, é viver como se esse Deus (inventado?) existisse e ir descobrindo que, afinal, existe mesmo…
Sempre tive simpatia pelo dito popular que aludia a “deitar fora a água do banho… e o bebé”. O sentido crítico lúcido, moderado e equilibrado purga a água gasta e menos limpa. O hipercriticismo “mata bebés” …
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 6, 51-28
quem comer deste pão viverá eternamente
O texto de João recentra-nos na força da banalidade e da crucialidade do pão. Sabemos que podemos ajustar a frase “quem comer deste pão viverá eternamente” para uma outra versão mais ‘em trânsito’ que, não perdendo a escatologia, traz o alimento para este tempo e para esta fome que somos: quem comer deste pão vive intensamente. Seja esta a liberdade de cada eucaristia, assim tornada refeição que alimenta. Seja esta a promessa, também, a prática, a partilha e a liberdade de cada refeição, assim tornada sagrada.
L 1 Pr 9, 1-6; Sl 33 (34), 2-3. 10-11. 12-13. 14-15
L 2 Ef 5, 15-20
Ev Jo 6, 51-58
A fé e a incredibilidade são faces da mesma moeda que somos. Sem esta consciência, transformamo-nos facilmente em deuzinhos ou em gente fechada ao mistério…
Bíblia é palavra de Deus revelada, no contexto e em processo… é também escuta dos homens. É gravação no papiro do tempo da novidade que não termina.
No filme “Príncipe do Egito” ouvimos a bela música de Mariah Carey e Whitney Houston. Na letra há dois versos particularmente interessantes: “There can be miracles; when you believe”. O mais relevante e teologicamente adulto é a ordem das ideias. Muita gente vive a fé ao contrário, como se canção dissesse: “podes acreditar se houver milagres”. Mas não, os milagres não servem para muito, se não se acreditar. Ou ainda: não há milagres para acreditarmos, mas, se acreditarmos, pode haver milagres… A fé precede o milagre e não o contrário…