vende o que tens e segue-Me

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o texto Mc 10, 17-30

«Vende o que tens e segue-Me»

O repto lançado por Jesus ao jovem rico é, também hoje, lançado a cada um de nós. Ao cristão que se encanta e se aproxima de Jesus, querendo segui-Lo, é sempre pedido mais, como convite de liberdade e não como jugo pesado. As riquezas de que fala Jesus não representam essencialmente, embora também, o dinheiro e as coisas. Temos riquezas quando estamos cheios: de objetos, de projetos, de instintos possessivos, de nós mesmos. E alguém cheio de coisas dificilmente passa por uma porta estreita. O sentido espiritual da entrega é ‘o depósito’ do nosso jugo no colo de Deus, deixando-nos leves para o amor. Para este exercício, há que praticar o verbo largar…

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXVIII DO TEMPO COMUM

L 1 Sb 7, 7-11; Sl 89 (90), 12-13. 14-15. 16-17
L 2 Heb 4, 12-13
Ev Mc 10, 17-30 ou Mc 10, 17-27

JP in Sem categoria 12 Outubro, 2024

ciência e humildade

Num trilho de humildade, a ciência colocar-se-ia numa perspectiva segundo a qual não tem o mundo na mão, nem sequer um pedaço dele… A ciência, antes constrói uma interpretação do cosmos que é, em certo sentido, provisória e parcial. Por isso, talvez felizmente, se possa dizer que há muito a saber além da ciência…

JP in Sem categoria 10 Outubro, 2024

solidão, quietude e silêncio…

A profundidade busca-se na solidão, na quietude e no silêncio, mas, também, na relação, no gesto e na palavra. Importará um justo equilíbrio onde estar só qualifique a atenção ao outro, parar potencie o agir e silenciar abra espaço ao dizer ligante.

JP in Sem categoria 8 Outubro, 2024

não separe o homem o que Deus uniu

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se o texto Mc 10, 2-16

Não separe o homem o que Deus uniu

Uma reflexão sobre o casamento e a proposta católica: o apontamento para a indissolubilidade do matrimónio religioso (um conceito de insinuação química, por sinal…) parece-me um tesouro a guardar, um convite a manter e um processo a trabalhar continuamente, também pelo valor antropológico, cristão e sociológico que contém.

Acontece que, como muitas propostas evangélicas, trata-se de algo libertador, mas exigente e radical. Muitos casamentos católicos podem não ter sido devidamente entendidos e vivenciados (era bom criar as condições de acesso pleno e popular a uma eventual declaração de nulidade). Ou as possibilidades reais, de cada um, dos dois, do acumular de circunstâncias e fragilidades, podem ter-se tornado insuportáveis. Chegados a esse ponto (não inócuo, para todos), em todo o caso tentando não banalizar, vulgarizar e ‘saltitar’, importa mais, à boa maneira de Cristo, o potencial de crescimento e recomeço do que o martírio culpabilístico, legalista e excluidor. A Igreja, sinal do amor de Cristo no mundo, é convidada a ajudar a ‘fazer as malas’, avaliar criticamente, amparar, acolher e estabelecer bases (elas próprias exigentes e carentes de trabalho interior e relacional) para efetivos recomeços integrativos.

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM


L 1 Gn 2, 18-24; Sl 127 (128), 1-2. 3. 4-6
L 2 Heb 2, 9-11
Ev Mc 10, 2-16 ou Mc 10, 2-12

JP in Sem categoria 6 Outubro, 2024

Igreja em saída…

Lido mal com as expressões e vivências que passem por “defender a Igreja”. O resultado de defender pode estar perto de enterrar… Não me parece, também, esta metáfora defensiva, a agenda do fundador…. Inspira-me, portanto, uma Igreja em saída…

JP in Sem categoria 4 Outubro, 2024

monopólio de fé

Halik diz bem algo que muitos crentes católicos teimam em não admitir e vivem como se assim não fosse: “o rio da fé galgou as suas antigas margens; a Igreja perdeu o monopólio da fé”. (in ‘Halik, T. A Tarde do Cristianismo’. Paulinas, 2021.p 268).

JP in Sem categoria 2 Outubro, 2024

convertendo(-se)

Não simpatizando eu com certas militâncias religiosas, que mais fazem lembrar os tempos idos das cruzadas, não nego, porém, o caráter intrinsecamente apostólico da pertença religiosa cristã. Apostaria, porém, na ontologia de vida, debaixo do lema: “converter” (mesmo assim, com aspas) é converter-se… e abrir-se à aprendizagem…

JP in Sem categoria 30 Setembro, 2024

as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça

 

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se II Tg 5, 1-6

as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça

O texto da epístola de Tiago alude à precariedade da materialidade e à fragilidade da acumulação. A Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, aponta, em inúmeras passagens, para a fragilidade do ter, face à força do ser. Para aqueles que leem estas palavras e já possuem alguma cultura espontânea de austeridade e a quem a vida já ensinou que vale muito pouco a pena acumular, convém abrir uma outra porta, que nos conserva sempre uma positiva inquietação: é que há ainda muitos humanos no nosso planeta que não têm os mínimos e a quem seria imoral pedir qualquer desprendimento, qualquer austeridade. É legítimo que esses desejem ter o mínimo que nunca tiveram e de que precisam. Não chega, portanto, sermos modestos e austeros (embora seja um ponto de partida
importante). Parte do movimento de todos nós, mesmo dos menos materialistas, é incentivar e empreender genuínas partilhas, à escala global. No limite, criar condições para uma austeridade escolhida, fundada na dignidade de todos. Essa partilha, sim, é garantia que a traça não corrói…  

 

Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.

DOMINGO XXVI DO TEMPO COMUM


L 1 Nm 11, 25-29; Sl 18 (19), 8. 10. 12-13. 14
L 2 Tg 5, 1-6
Ev Mc 9, 38-43. 45. 47-48

JP in Sem categoria 28 Setembro, 2024

Deus no bolso…

Invoco com frequência a teologia negativa de Ekart e de tantos outros. Na teologia, como na vida, “Deus livrou-nos de (ter) Deus (no bolso)”…

JP in Frases Livros 26 Setembro, 2024

o Espírito e o vento…

Em Jo 3, 8 temos uma frase imputada ao diálogo entre Jesus e o fariseu Nicodemos que me merece uma atenção crítica: “O vento sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes donde vem nem para onde vai. Assim acontece também com aquele que nasce do Espírito”. Ora, hoje sabemos alguma coisa mais sobre o vento (embora a ciência climática seja agudamente não linear) e, em certo sentido, poderíamos afirmar que esta frase está desatualizada e é infecunda… Mas acontece que nem Deus nem a Bíblia existem para explicar como funciona o mundo, na sua complexidade físico-químico-biológica. O importante não é a explicação (de onde vem o vento e para onde vai, o que em si mesmo evoluí do ponto de vista do conhecimento) mas o sentido: nascer de novo e acolher o novo, o Espírito, a ‘anima’ de tudo… que sopra “na” e pela realidade…

JP in Sem categoria 24 Setembro, 2024