distância e proximidade…
A distância a que Deus está é paradoxalmente a excessiva proximidade onde habita…
A distância a que Deus está é paradoxalmente a excessiva proximidade onde habita…
O nosso desejo, a nossa fome de nos completarmos, é estrutural. Este desejo consubstancia-se, agudamente, no instante do corte umbilical. Essa falha de útero que nos confirma finitos e sedentos, nos marcará. E o que falta em nós marca esse desejo que nos move e comove. É complexo, este desejo, e talvez paradoxal: sem desejo não há movimento mas um regresso infantil ao útero, que só consome alimento, aproxima-se da perdição…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 13, 33-37
O início do Advento, enquanto preparação para o Natal, é marcado por sugestões bíblicas de prudência, vigilância e atenção. Estes ‘modos-advento’, convém registar, embora possam ser alimentados também comunitariamente, apresentam uma agenda muito pessoal e responsabilizante. Um qualquer cristão distraído, em devaneio pedagógico, poderia interpretar como missão vigiar os outros: filhos, vizinhos, paroquianos, alunos, discípulos… Não, é uma missão muito pessoal: estar atento a mim próprio, antes de mais. Em redutos de silêncio e paragem convém conseguir estar atento a mim mesmo, a Deus dentro de mim…
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
L 1 Is 63, 16b-17. 19b; 64, 2b-7; Sl 79 (80), 2ac e 3b. 15-16. 18-19
L 2 1Cor 1, 3-9
Ev Mc 13, 33-37
Blondel, a partir da literatura, traz-nos para um caminho claramente existencial-espiritual: há que admitir a nossa própria desilusão, tecida de inúmeras carências. Como é vital reconhecer a existência em nós mesmos de muitas camadas de micro-sonhos, micro-ilusões, micro-projetos. Daqui mesmo se percebe e vive uma sede maior…
Naqueles confrontos orantes, a liberdade espreita quando conseguimos ir substituindo a refilisse com Deus e a nossa manipulação para que se faça a nossa vontade pela rendição ao reconhecimento do seu imenso amor, em tudo e todos, ontem, hoje é amanhã.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 14-30
Na tradição cristã adquire muita força o reconhecimento de Deus nos outros. A própria ética de lastro judaica, elaboradíssima por filósofos como Levinas, centraliza “o alter” como reduto sagrado e intenso. Nas palavras do Evangelho, é o próprio Deus que tem sede da sede dos homens… e dar uma pinga de água a alguém é molhar a boca do próprio Deus. Para as pessoas mais distraídas, mesmo que voluntaristas e com algum potencial-cisterna, como é quem que escreve estas palavras, este desafio pede muita atenção às sedes do mundo. Onde estão os que precisam de água? Como se manifesta a sua sede?… Como posso eu, que não sou água, ajudar cada um a aproximar-se da fonte?
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
SOLENIDADE
L 1 Ez 34, 11-12. 15-17; Sl 22 (23), 1-2a. 2b-3. 5-6
L 2 1Cor 15, 20-26. 28
Ev Mt 25, 31-46
Fico sempre na dúvida, sobre onde colocar o ‘a’: serei crente por ser carente, ou serei carente para ser crente? Talvez as duas coisas…
Precisado
Mais do que amado
(embora, amado, também)
precisado me encontro.
Tudo o que importa
vem desta sede.
Carente e vazio,
daqui me existo,
aqui voltarei
se me quiser acertar.
Mesmo que aqui
(ou ali, ou além)
me ache bastante,
atiro ao lado:
Só serei
…se (confiadamente)
precisado.
A liberdade de Deus e a liberdade do homem encontram a sua convergência no paradoxal lugar do tempo e do espaço. Aí, na história, na minha história, na nossa história, na história de Deus, se tece o dom da vida.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 14-30
O texto de Mateus aponta-nos um caminho pequeno-grande, mas vital para compreender o Evangelho: a importânica do pequeno, do insignificante, do que se vê menos, do espalhafatoso, do badalado, do muito grande, do que tem muitos “likes”… A fidelidade nas pequenas coisas é aquilo que, experimentado, nos permite aceder ao magis da liberdade. Todos os místicos se detiveram aqui, no detalhe, no instante sagrado do pouco tomado como tudo. O grande talento é o pouco dado, que se torna enorme.
NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.
L 1 Pr 31, 10-13. 19-20. 30-31; Sl 127 (128), 1-2. 3. 4-5
L 2 1Ts 5, 1-6
Ev Mt 25, 14-30 ou Mt 25, 14-15. 19-21