eternamente agora…
Como pessoas de fé, aspiramos a SER eternamente, começando pelo agora…
Como pessoas de fé, aspiramos a SER eternamente, começando pelo agora…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 13, 1-9
«outras cairam em terra boa…»
A parábola do semeador é mais uma relação entre a natureza e nós próprios, incluindo o Deus que nos habita. A semente é a dádiva que até com o vento se desloca e depois fecunda. Os terrenos, múltiplos e diversificados, somos cada um: ora caminho pisado, ora espaço pedregoso e sem nutrientes, ora espinhos que afogam na reprodução das distrações e não permitem a sementeira, ora terra boa, que faz a síntese da dádiva, da benção do Sol e da chuva… dando muito fruto. Mistério de gozo e contemplação é a abundacialidade querer precisar da terra que somos para se frutificar, expor e assim louvar…
L 1 Is 55, 10-11; Sl 64 (65), 10abcd. 10e-11. 12-13. 14
L 2 Rm 8, 18-23
Ev Mt 13, 1-23 ou Mt 13, 1-9
Deve existir qualquer coisa que carregamos como sendo ‘epigenes do desamor’. Não sei a bioquímica da coisa, mas trazemos connosco uma capa dolorosa que reveste a bondade original daquilo que somos. Dizem-me que o meu Avô foi colocado num barco aos 12 anos, para ir ganhar a vida para Angola. Que o meu Pai foi largado da Mãe aos oito anos, porventura sem um abraço. E eu sou também isto. Não tenho de escamotear nem obcecar diante desses ‘epigenes’, mas é bom chamar-lhes um nome, acolhê-los, mimá-los, se for preciso, truncá-los…, mas reconhecê-los…
Diz Tolentino Mendonça, a propósito da complexa, sedutora, simbólica e antisimbólica angeologia, judaico-cristã e não só: “mostrar sem desvendar, dizer sem prender, tornar maximamente visível sem ferir minimamente o invisível”. No cristianismo, este toque angélico é notado, nesta mesma névoa paradoxal, em particular, no alfa e no ómega do quotidiano da vida de Jesus (anunciação e escatologia apocalíptica). Como seria previsível, no cristianismo, sempre embalado na síntese entre a tradicional continuidade judaica com a novidade do Evangelho, a angeologia subalterna-se ao primado de Cristo, onde toda a realidade mora.
De algum modo, todas as «Humanidades» que existam por esse universo fora — se existem! — fazem parte de nós, desta Humanidade que habita os estreitos limites do planeta Terra. Sem o conhecimento e o contacto com esses outros seres que poderão povoar o cosmos, parece que nos sentimos incompletos, como se eles fizessem já parte da nossa identidade. Por conseguinte, a Humanidade olha para as distâncias intergalácticas e as profundidades cósmicas à procura de novos conhecimentos, de outros seres inteligentes — no fundo, à procura de si mesma.
A existência de seres inteligentes noutras galáxias levanta certamente questões religiosas. Mas tais questões não são necessariamente angustiantes. Embora seja verdade que colocam alguns desafios à nossa compreensão actual de Deus e de nós próprios, não é menos verdade que um Deus criador de milhões de planetas habitados por seres inteligentes estaria mais de acordo com a imagem de ser omnipotente e omniamoros da tradição cristã.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 37–42
«Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim»
Não convém confundir esta passagem evangélica com um convite à ignorância, ao simplismo ou à superficialidade. Mas há um sentido evangélico que nos alinha em ser “pequeninos”. Evitar ser (ou melhor, achar-se…) “sábio e inteligente” é evitar só contar connosco próprios, prescindindo de Deus e dos outros. Somos “sábios e inteligentes” quando achamos que só nós é que sabemos e não acolhemos humildemente cada pessoa, com os seus limites e riquezas. Ser “pequenino”, à maneira do Evangelho, é ser pobre e, portanto, aberto à novidade de nós mesmos, de cada um (outro) e do cosmos. Sermos humildade… sermos verdade.
Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto
L 1 Zc 9, 9-10; Sl 144 (145), 1-2. 8-9. 10-11. 13cd-14
L 2 Rm 8, 9. 11-13
Ev Mt 11, 25-30
Há uma tensão entre a afirmação identitária de uma crença, como a cristã, e a abertura sem limites a uma verdade ainda mais ampla. O meu sublinhado, porventura também com alguma irreverência, é se não somos mais Igreja por esta via (vou chamar-lhe via larga…) do que por qualquer outra defensividade afirmativa, militante e eclesialmente ‘auto-centrada’…
Reconheço-me com alguma voracidade no falar. Permito-me interromper o outro…
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 10, 37-42
«Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim»
Principalmente para quem tem filhos ou filhas as palavras do Evangelho podem parecer chocantes. De facto, é difícil imaginar que se possa amar algo mais do que um filho. Pelos filhos, realmente, dão-se noites, dá-se o corpo, dá-se tudo, dá-se a vida! Poder colocar o amor por Jesus num outro patamar pode ter sentido na crença. Aqui Jesus “usa” a realidade do amor paternal e do amor maternal para colocar a fasquia da entrega transcendente como expressão de liberdade. A entrega a Deus nunca poderia ser um holocausto de diminuição. O apontamento cristão será sempre do tipo ‘quanto mais humano, mais cristão, quanto mais cristão, mais humano’. Há uma coerência humanizante e que, de alguma forma, se pode transformar num ato de fé para os pais que são cristãos: a convicção de que nesta (difícil e exigente) proposta em relação aos filhos todos, incluindo os próprios descendentes, podem ganhar. É que amando assim a pessoa de Jesus e inquietantemente repousados nos seus critérios e no seu horizonte de liberdade, ama-se mais e melhor, de facto, os próprios filhos e as filhas… Se quisermos – e generalizando para todos, tenhamos filhos ou não – estamos numa metáfora em que certo desapego (em relação aos filhos e não só), sem prejuízo de cuidado e entrega radical, pode qualificar o amor…
Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto
L 1 2Rs 4, 8-11. 14-16a; Sl 88 (89), 2-3. 16-17. 18-19
L 2 Rm 6, 3-4. 8-11
Ev Mt 10, 37-42
Uma boa interpretação do exame de consciência, sem excluir a razão e a memória, é entendê-lo como “re-cordar” = re-viver com o coração…