o deserto somos nós

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 1, 1-8

Em tempo de Advento concentramo-nos no riquíssimo panorama e real do deserto, onde aparece João Baptista a proclamar. Não será por mero acaso que a porta que é João Baptista parte do deserto, talvez físico mas, certamente, simbólico. O verdadeiro arrependimento só se pode fazer a partir do verdadeiro deserto que somos nós. Sem entrarmos no nosso deserto íntimo não nos podemos arrepender e recomeçar verdadeiramente, porque a graça de Deus quis precisar da nossa realidade, do nosso deserto, para se revelar. Precisamos, talvez, no Advento e não só, de valorizar o deserto interior, de entrar nele, de o olhar, de o admitir, de o saborear. Sem silêncio interior e exterior não há tangência no deserto e, porventura, não há oásis nem maná, não há conversão…

NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.

DOMINGO II DO ADVENTO



L 1 Is 40, 1-5. 9-11; Sl 84 (85), 9ab-10. 11-12. 13-14
L 2 2Pd 3, 8-14
Ev Mc 1, 1-8

JP in Sem categoria 10 Dezembro, 2023

a esperança sem transcendência…

O filósofo alemão Ernest Bloch (para quem a morte era a mais forte não-utupia…) gastou a sua vida numa empreitada séria, profunda e coerente, mas, ao mesmo tempo, algo frustrante. A sua tese de uma “esperança sem deus” tem, para mim, um efeito boomerang: a nossa finitude acaba por nos levar a uma esperança que depende, precisamente, do reconhecimento de um Deus amoroso, criador… e ‘esperançador’…

JP in Sem categoria 8 Dezembro, 2023

desejo estrutural

O nosso desejo, a nossa fome de nos completarmos, é estrutural. Este desejo consubstancia-se, agudamente, no instante do corte umbilical. Essa falha de útero que nos confirma finitos e sedentos, nos marcará. E o que falta em nós marca esse desejo que nos move e comove. É complexo, este desejo, e talvez paradoxal: sem desejo não há movimento mas um regresso infantil ao útero, que só consome alimento, aproxima-se da perdição…

JP in Frases 4 Dezembro, 2023

vigiar (-me)

DOMINGO I DO ADVENTO

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 13, 33-37

O início do Advento, enquanto preparação para o Natal, é marcado por sugestões bíblicas de prudência, vigilância e atenção. Estes ‘modos-advento’, convém registar, embora possam ser alimentados também comunitariamente, apresentam uma agenda muito pessoal e responsabilizante. Um qualquer cristão distraído, em devaneio pedagógico, poderia interpretar como missão vigiar os outros: filhos, vizinhos, paroquianos, alunos, discípulos… Não, é uma missão muito pessoal: estar atento a mim próprio, antes de mais. Em redutos de silêncio e paragem convém conseguir estar atento a mim mesmo, a Deus dentro de mim…

NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.


L 1 Is 63, 16b-17. 19b; 64, 2b-7; Sl 79 (80), 2ac e 3b. 15-16. 18-19
L 2 1Cor 1, 3-9
Ev Mc 13, 33-37

JP in Sem categoria 2 Dezembro, 2023

carências…

Blondel, a partir da literatura, traz-nos para um caminho claramente existencial-espiritual: há que admitir a nossa própria desilusão, tecida de inúmeras carências. Como é vital reconhecer a existência em nós mesmos de muitas camadas de micro-sonhos, micro-ilusões, micro-projetos. Daqui mesmo se percebe e vive uma sede maior…

JP in Sem categoria 30 Novembro, 2023

confrontos orantes

Naqueles confrontos orantes, a liberdade espreita quando conseguimos ir substituindo a refilisse com Deus e a nossa manipulação para que se faça a nossa vontade pela rendição ao reconhecimento do seu imenso amor, em tudo e todos, ontem, hoje é amanhã.

JP in Sem categoria 28 Novembro, 2023

quando é que tiveste sede?

Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 25, 14-30

Na tradição cristã adquire muita força o reconhecimento de Deus nos outros. A própria ética de lastro judaica, elaboradíssima por filósofos como Levinas, centraliza “o alter” como reduto sagrado e intenso. Nas palavras do Evangelho, é o próprio Deus que tem sede da sede dos homens… e dar uma pinga de água a alguém é molhar a boca do próprio Deus. Para as pessoas mais distraídas, mesmo que voluntaristas e com algum potencial-cisterna, como é quem que escreve estas palavras, este desafio pede muita atenção às sedes do mundo. Onde estão os que precisam de água? Como se manifesta a sua sede?… Como posso eu, que não sou água, ajudar cada um a aproximar-se da fonte?

NOTA: Este texto repete em parte ou no todo palavras já escritas neste blog, noutro contexto.

DOMINGO XXXIV DO TEMPO COMUM

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
SOLENIDADE


L 1 Ez 34, 11-12. 15-17; Sl 22 (23), 1-2a. 2b-3. 5-6
L 2 1Cor 15, 20-26. 28
Ev Mt 25, 31-46

JP in Sem categoria 26 Novembro, 2023

crente e/ou carente

Fico sempre na dúvida, sobre onde colocar o ‘a’: serei crente por ser carente, ou serei carente para ser crente? Talvez as duas coisas…

JP in Sem categoria 24 Novembro, 2023

precisado

Precisado

Mais do que amado
(embora, amado, também)
precisado me encontro.
Tudo o que importa
vem desta sede.
Carente e vazio,
daqui me existo,
aqui voltarei
se me quiser acertar.
Mesmo que aqui
(ou ali, ou além)
me ache bastante,
atiro ao lado:
Só serei
…se (confiadamente)
precisado.

JP in Sem categoria 22 Novembro, 2023