pedir…
Peço nada
De ti,
Amável e amada
recebo aqui
partilha rasgada.
Aceitares-me, nini
É já empreitada.
A ti,
peço mais…nada.
Peço nada
De ti,
Amável e amada
recebo aqui
partilha rasgada.
Aceitares-me, nini
É já empreitada.
A ti,
peço mais…nada.
Um
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mc 1, 14-20
Eles deixaram logo as redes e seguiram Jesus
Uma hermenêutica mais cuidada desta passagem talvez possa reconhecer que pode não ter sido assim tão espontânea a largada das redes por parte dos discípulos. O seu lado humano, muito humano, poderá ser melhor compreendido imaginando entusiasmo, apelo e estupefação, mas também receio, calculismo e hesitação. Largar as redes (largar-se das redes, também…) é tensional: as redes servem para pescar e, dando alimento, suster a vida. Mas podem prender… Neste embalo metafórico dos evangelhos podemos largar as redes que nos prendem seguindo uma vida com os critérios de quem liberta…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
a hermenêutica mais cautelosa do texto
L 1 Jn 3, 1-5. 10; Sl 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9
L 2 1Cor 7, 29-31
Ev Mc 1, 14-20
Falar com Deus e escutar Deus é sempre tateante. Desconfiemos sempre dos arautos excessivamente certos dessas comunicações…
O que talvez a Igreja Católica romana ainda não tenha percebido, é que terminou o dinamismo socio-eclesial em que a proposta cristã funcionaria por via da autoridade. O terreno, atualmente e já há algum tempo que se insiste em não encarar, estará recetivo a alguma boa nova, mas noutra base, a da dicotomia igualdade/liberdade. Teremos de ser mais criativos mas, convenhamos, se falamos de igualdade e liberdade, estamos, justa e felizmente, a regressar ao Evangelho.
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Jo 1, 35-42
Que procurais? (…) Vinde ver. (…) Encontrámos o Messias
O diálogo que Jesus trava com os discípulos de João Baptista resume, em certo sentido, a história da revelação de Deus por intermédio de Jesus Cristo. Esta prosa alimenta-se da tríade procurar-ver-encontrar que, de alguma forma, resume também a nossa sede, a nossa história e a nossa vida pessoal: o desejo de alegria faz-nos procurar algo que dê sentido à existência. Jesus, pela forma como vive, como perdoa e como ama, faz-nos ver um estilo de vida que tem sentido e nos torna gente encontrada. Se houver um trilho de caminho no cristianismo (depois, pleno de variantes), talvez seja por aqui: procurar, ver, encontrar…
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 1Sm 3, 3b-10. 19; Sl 39 (40), 2 e 4ab. 7-8a. 8b-9. 10-11
L 2 1Cor 6, 13c-15a. 17-20
Ev Jo 1, 35-42
Passei a proibir-me de dizer ‘a igreja isto… a Igreja, aquilo’. Mantenho e quero manter a lucidez crítica mas precedida, sempre, da palavra nós, que me inclui e responsabiliza: Começo então a frase por ‘nós, Igreja…’ e digo o que (auto)criticamente ajude a iluminar e a melhorar.
Quando pais e as mães forem atacados por escrúpulos na sequência de se cuidarem a si mesmos (e namorarem…), vale a pena tirar da cartola a metáfora analógica do avião: em acidente aéreo, talvez contrariando um instinto primeiro, o adulto deve colocar a máscara a si mesmo primeiro e apenas depois colocar a máscara na criança. A mensagem é clara: sem estares bem não serves bem!
Na liturgia católica romana deste fim de semana escuta-se Mt 2, 1-12
«ouro, incenso e mirra»
Os presentes dos reis magos a Jesus podem apresentar uma simbologia curiosa na epifania: o ouro era um apontamento dos reis, o incenso era usado para louvores a Deus e a mirra ajudava no embalsamento dos corpos. Esta tríada de rei-Deus-morte pode ser útil para uma aproximação cristã: em Jesus Cristo está, na nossa fé, um Rei especial que é filho de Deus e que é precisamente Rei, de forma original, por servir amorosamente até à morte. Assim, libertando a morte e libertando-nos da morte, a vida cristã é (um) presente.
Este texto é adaptado em parte ou na totalidade de palavras anteriores já publicadas.
L 1 Is 60, 1-6; Sl 71 (72), 2. 7-8. 10-11. 12-13
L 2 Ef 3, 2-3a. 5-6
Ev Mt 2, 1-12
Quando falamos do envelhecimento da Igreja poderíamos estar a falar de aspetos magníficos e ternurentos da terceira idade: a experiência acumulada que gera uma sabedoria prudente, mas confiante no futuro; um laivo de essencialidade nutrido pela força de um passado batido; as mãos cansadas, mas abertas; uma entrega que sorri à esperança. Mas temo que não, que a velhice da igreja possa apresentar-se rabugenta, rígida, desanimada, frustrada, inconformada com a dádiva, fechada e bolorenta. Em resumo, quieta no mesmo lugar, qual múmia a perder vida.
Há um pequeno texto de Tolentino Mendonça, onde ele repesca uma conversa coloquial numa barbearia, que dá bom mote aos anos que começam, com aquele apontamento saudável que importa… Permito-me explorar esse pensamento numa forma mais gráfica. Seja um segmento composto pelos extremos A e B. O extremo A chama-se ‘consciência de benção’ e o extremo B chama-se ‘ação e responsabilidade’. Não é fundamentalista quem está em A e B (é positivamente radical e corresponde, aliás, ao que desejo ser). Mas A ou (não ‘e’) B é coxo. Vejamos. Estar só em A tem o perigo da passividade, da submissão irresponsável e, não raras vezes, dum auto-martírio que poderia ser evitado. Uma deficiente teologia da cruz pode alimentar ainda mais este extremo solitário e des-inteiro. Diríamos que há consciência de benção mas de forma pouco madura, como se a graça não precisasse do trabalho da terra que somos…. É uma posição muito típica em terrenos religiosos. No lado do ‘só B’ está um ativismo auto-suficiente, com grande risco de falta de esperança, de sentido de ‘nós’ e de reduto contemplativo que dê alma (anima) à vida, que não é fácil…