liderança

São precisas lideranças e lideranças mais fortes (não mais autoritárias). Nas escolas, nas famílias, nas comunidades e em muitas organizações.

São conhecidos e úteis os “5F” para liderança: Focus. Flexible .Fast. Friendly. Fun.

O último “F” não basta mas dificilmente se lidera sem divertimento, pelo menos interior. Poderíamos colocar os “5F” debaixo de um grande “S”: o do Serviço…

JP in Espiritualidade Frases 24 Outubro, 2018

não esperar nada é esperar tudo

Há palavras antónimas, que, dançando, podem seguir aos pares a mesma música: nada e tudo, são um bom casal.

Não esperar nada (=liberdade), é esperar tudo!

JP in Frases 22 Outubro, 2018

Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração

J. C. Paiva, Ciência e religião: Conflito, independência, diálogo e integração. Site PontoSJ (que se recomenda…). 05 de outubro de 2018.

 

Disponível aqui

 

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As relações entre ciência e religião, ontem e hoje, são marcadas por certa tensão.

A ciência tem nos nossos dias um valor social impressionante. Tal circunstância, sem escamotear os óbvios benefícios da empresa científica, favorece o perigo de a transformar numa ideologia (cientificismo). Assim não deveria ser pois não podemos extrair, pela via filosófica, pelo seu saber ou pelas suas atividades, qualquer ilação ideológica à ciência. Pelo contrário, parte das enormes virtudes da ciência, no seu nascimento, no seu desenvolvimento e na sua prospetiva devem muito à sua independência dos regimes, das ideologias, das raças e crenças dos cientistas. Ajuda muito esta clarificação pois na maior parte das discussões desnecessariamente divergentes sobre ciência e religião, está (erradamente) a usar-se a ciência como uma ideologia. Muito ganham os cientistas em reconhecer as limitações deste tipo de conhecimento, que caminha como um olhar, entre outros, sobre a realidade cósmica, incluindo o homem. A par da ciência, outros questionamentos, como o ético, o artístico e o religioso, cruzam-se na nossa consciência pessoal e coletiva.

Tão venenosos como a ideologia cientificista são todos os fundamentalismos do tipo religioso.

Na tentativa de clarificar essa complexa relação, o físico americano Ian Barbour propôs, nos finais do século XX, quatro dimensões, a saber: conflito, independência, diálogo e integração.

1- Conflito.

As situações de conflito são conhecidas na história da ciência. O caso Galileo é sobejamente conhecido (não necessariamente bem compreendido, já que os conflitos gerados podem ter mais a ver com contextos históricos da reforma e contra-reforma do que com ciência e religião). Ainda hoje, nas redes sociais, em livros e no senso comum, há espaço de conflitualidade. Muitos desses aspetos residem em posições extremadas de materialismo científico e de fundamentalismo religioso, principalmente relacionado com a literalidade dos textos sagrados. Por vezes, sob uma capa aparentemente inofensiva, os comunicadores de ciência deixam passar alguns traços de fundamentalismo ideológico. É o caso do brilhante Carl Sagan que, a dado passo, escreve: “o Cosmos é tudo o que existe, que existiu e que existirá!”…

2- Independência.

Focados nas diferentes linguagens, metodologias, limitações e objetos de estudo podemos valorizar essas mesmas diferenças e associar independência (ou autonomia) a estas duas áreas: ciência e religião. Esta consciência de autonomia vem do tempo medieval, onde já se dizia que o livro da natureza e o livro da revelação são do mesmo autor (…) e, como tal, não se podem contradizer.  Inclui-se na independência da ciência o sacudimento de quaisquer secularismos. João Paulo II explicitou-o bem: “ciência e religião devem preservar a sua autonomia e a sua peculiaridade. Cada uma tem os seus próprios princípios e formas de proceder”. Podemos ter posições excessivas no que concerne à dimensão da independência, que colocam a tónica numa tal diferenciação que tange a esquizofrenia. Neste sentido, o físico Plank radicaliza a autonomia com a ideia de que ciência e religião são duas vias paralelas que só se encontram no infinito. Nem tanto, talvez haja algum entrançado..

3- Diálogo.

Se a dimensão de independência é tomada radicalmente, nem sequer há espaço para o conflito. O diálogo entre ciência e religião é possível e porventura necessário e útil porque há que construir pontes na diferença. Não dialogar (encrostados na radical autonomia) faria lembrar os casais que não discutem, não conflituam e não dialogam… porque não falam nos assuntos de potencial fraturante (condenação ao fracasso relacional, como sabemos…). Uma das formas de entender o manancial de diálogo entre ciência e religião é compreender estas realidade no contexto mais amplo da noção de cultura. O caldo cultural, onde se misturam a realidade da vida, as relações, a arte e tudo mais que disser respeito à humanidade, ai se entendem melhor as urgências dialogantes, incluindo aquelas que dizem respeito às diferentes perspetivas do olhar científico e do olhar religioso. A neutralidade não é boa conselheira… Apesar das diferenças nos seus aspetos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, ciência e religião têm matizes comuns, correlações e paralelismos potenciais, concretamente face às grandes questões relacionadas, por exemplo, com a origem do universo e com a evolução humana.

4- Integração

A integração seria uma dimensão um tanto mais comprometedora entre ciência e religião. É, porventura, destes quatro enunciados, a área mais polémica. As teses integrativas arriscam beliscar a autonomia. Há exemplos de boas e mais duvidosas integrações. Parece-me cheia de potencial, por exemplo, a abordagem de Chardin que se inspira nas teorias da evolução para dar novos ventos à teologia, principalmente no que diz respeito ao pecado original. Já considero muito duvidosas, senão perniciosas, as influência da teoria do “design inteligente”, que estabelece veleidades integrativas com base numa perfeita confusão entre o objeto e a metodologia da ciência e as questões últimas que importam a fé. É bom, por isso, não omitir o que é diferente, preferindo, sempre que possível, a linguagem da analogia, em vez da inferência. Por exemplo, dizer: “assim como a espécie humana parece em constante evolução, podemos, por analogia, referir-nos aos dinamismos evolutivos da própria vida de Cristo” será mais prudente do que invocar, em excessividade integrativa ideias do tipo “como a ciência descobriu a teoria do big-bang, então existe Deus”.

A proposta de Barbour, um cristão da Igreja reformada que venceu o prémio Templeton, é bastante útil embora não elimine as ambiguidades: há ideias e argumentos que vistas de um certo ângulo, se situam numa área de conflito mas que, noutra perspetiva, poderão, por exemplo, ter certo caráter integrativo. Notar ainda que não há qualquer cronologia histórica (do conflito à integração) nem sequer juízo de valor sobre estas quatro dimensões. Nos nossos dias, há aspetos de algum conflito no terreno misto da ciência e da religião, no domínio ético, por exemplo, que são compreensíveis e têm de ser assumidos.

Há autores que preferem a explicitação de uma outra (quinta) dimensão, algures entre o diálogo e a integração, a que chamam complementaridade. Trata-se de uma abordagem curiosa, convidando a uma compatibilidade mutuamente potenciadora, como acontece, por exemplo, com a religião e a arte.

Sem, obviamente, dependermos da ciência para suportar a nossa fé, é também certo que esta forma de olhar e compreender o mundo que é praticada pelos cientistas nos pode induzir aprofundamentos de natureza religiosa. Notar que a ciência tem uma forte componente de procura e encontro com a beleza, na beleza que é o universo (assim também é com Deus, que é cúmplice do belo…).  Do ponto de vista filosófico, também o conhecimento científico pode levar-nos à religião, desde logo porque o mistério de conseguirmos tatear o funcionamento do cosmos nos pode convidar a encontrar uma causa última que justifique a nossa própria racionalidade. Subindo a parada, um mundo contingente e inteligível, como  constatamos e sentimos, abre hipóteses a um Deus necessário e racionalizável…

a química e a pressa

A química e a pressa

 

A pressa

é o pecado

do mundo.

Pecar,

fazer mal a mim

e a ti,

é não esperar

e catalisar

o que tinha

mecanismo

previsto

com aquela ativação.

Para quê

baixar em força

aquele valor?

Mais valia deixar,

deixar em amor.

Subir como criança

a brincar

que vai ao alto e,

passando a barreira,

ali contempla

confia e delega.

E desce a rir

…como num escorrega…

in Paiva, J. C., Quase poesia quase química (2012) (e-book). Lisboa, Sociedade Portuguesa de Química.

acessível aqui (porventura enriquecido com uma ilustração)

 

JP in Ciência Poemas Química 16 Outubro, 2018

pegadas em areia molhada

É um previlégio enorme haver espaço na areia molhada da praia para as minhas e para as tuas pegadas. Espaço imenso e dinâmico, onde cabe sempre mais um par de pés para fazer caminhos. Se por hipótese (quase absurda) saturassem as marcas côncovas no solo, viria o mar em ondas refazer espaço, por cortesia da Lua, mãe das marés…

JP in Ciência Espiritualidade Frases 12 Outubro, 2018

Bíblia e texto

A Bíblia não é para ser lida literalmente, como, em verdade, quase nenhum texto (nem talvez o científico e nem mesmo o jurídico, em bom rigor…). A palavra texto tem cumplicidades com têxtil, fazendo lembrar os fios que se entrelaçam, as histórias que se apresentam, as mensagens que se insinuam. Tudo envolvido na subjetividade de quem tece, de quem escuta e de quem vive as palavras, assim vivas…

JP in Espiritualidade Frases 10 Outubro, 2018

dicotomia pedagógica 1: razão e afetos

Razão / Afetos

Talvez se possam catalogar determinadas práticas pedagógicas do passado como «paraísos da razão». Na relação professor-aluno e no próprio processo de ensino e aprendizagem importaria uma clareza racional objectiva, uma relação «higiénica» e quase independente das pessoas e dos seus setimentos. Os afetos eram inibidos ou separados dos alunos, dos professores e, em geral, da educação. As emoções eram recalcadas em absoluto. Não há cabimento, hoje, para esta separação entre o que é racional e o que é afectivo. Conhecem-se espaços pedagógicos onde também os afetos imperam desmesuradamente, em que não há distância crítica suficiente para, também com a razão, observar e agir melhor. Se quisermos, há professores que não o chegam a ser, porque são só «tipos porreiros»…

Texto parcialmente inspirado no livro “Fascínio de Ser Professor” (JPaiva). Texto Editores, 2007.

JP in Educação Textos 8 Outubro, 2018

o que é rezar?

O que é rezar?

 

Rezar é um deserto.

É criar vazio,

preparar o receber,

estar aberto.

Rezar é desencher.

Rezar é treinar a sede.

É desacansar

na confiança.

Rezar é embalar-se

numa rotina.

Rezar é esperar

e deixar-se ser.

Rezar é procurar

o procurante

que há em nós.

Ir mais além,

procurados

por Alguém…

 

setembro’ 2018

 

JP in Espiritualidade Poemas 4 Outubro, 2018

vida imposta

Às vezes não sabemos o que havemos de fazer com a vida que nos foi dada. Em nome da verdade, sem querer alimentar vitimismos, há um certo drama na existência: a vida não nos foi só dada, foi também imposta! Poderá ajudar a dica de Virgílio Ferreira e o filão da responsabilidade: “somos responsáveis pelo que fazemos da vida e até pelo que fazemos do que outros fizeram de nós”.

JP in Educação Espiritualidade Frases 2 Outubro, 2018

ensinamentos da terra

Sempre que posso falo com a natureza e vejo que ela tem muito para me dizer: a paciência, a beleza, a abundância, a contingência e, talvez principalmente, a morte das plantas rendidas ao nitrato que são, para o Natal de mais vida…

JP in Espiritualidade Frases 1 Outubro, 2018