Bíblia e violência
Sobre a violência latente em certas passagens da Bíblia não vejo alternativa a uma boa hermenêutica, sujeita à tensão das leituras macro e micro. Vejamos. O ‘macro’ da Bíblia é um Deus que quer salvar, que se vai revelando (no Novo Testamento, há um êxtase na morte e ressurreição de Cristo, que polarizam tal Deus num Deus de serviço, acolhimento e amor). Este é o macro, tudo o resto se entenderá para ‘tentar dizer o que este amor não se consegue dizer’. E a revelação opera-se na complexidade que somos, cheia de virtudes e potencialidades, mas assente na contingência dos nossos limites e das nossas pulsões violentas. Deus diz-se assim: “tu podes ser tu diante de mim”. Mas “eu sou também violência, interior e exterior”. A Bíblia tinha que espelhar estas tensões, sem perder nunca o foco de ser livro de salvação…